"Fiz o que o ministro mandou", diz o diretor da Conab demitido por leilão de arroz suspenso
Thiago José dos Santos afirma que seguiu as ordens do titular da Agricultura, Carlos Fávaro
Exonerado do cargo de diretor-executivo de Operações e Abastecimento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Thiago José dos Santos afirma que a sua demissão foi injusta, que escorregou numa “casca de banana” e que apenas cumpriu ordens do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
— Fizemos o que o ministro (Fávaro) mandou e colocamos no papel. Foi muita fala política e menos fala técnica. O ministro determinou R$ 5 o quilo, abaixo do preço de paridade. Isso tirou outros participantes da concorrência. Não tenho participação nenhuma. Só escrevi o que o governo falou através do Ministério da Agricultura. Apesar dos leilões não serem supervisionados pelo ministério, ele (Fávaro) trouxe para o gabinete dele esse assunto — disse Santos, que era responsável pelo setor que operacionaliza e formula editais de pregões na Conab.
Procurado, Fávaro não quis comentar as afirmações de Santos.
O leilão de arroz feito pelo governo tinha como objetivo comprar o alimento importado para manter a oferta e o preço do grão no país após as enchentes causadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul, maior produtor nacional.
Todo leilão da Conab é precedido por uma nota técnica, elaborada com base em consulta de mercado e no sistema de orçamento do órgão, que estabelece um preço inicial. O vencedor da concorrência seria a empresa que desse o lance mínimo a partir desse valor. No caso do processo para a compra de arroz, foi elaborada uma nota técnica, mas, segundo Souza, não foi seguida.
Na Conab, os técnicos defendiam um preço inicial em valores em torno de R$ 5,50 e R$ 5,80, quantias que seguiam parâmetros de preço do mercado atacadista, paridade internacional, logística e custos de embalagem.
O ex-diretor da Conab afirma que se o leilão de arroz tivesse sido feito de acordo com esses critérios e, consequentemente, com preço mais alto, haveria uma disputa muito maior de empresas interessadas. Com preço mais baixo, a R$ 5 o quilo, o entendimento de Santos é que houve uma restrição de mercado.
O pregão foi cancelado em 11 de junho deste ano pelo governo por suspeitas de irregularidade. A Polícia Federal abriu um inquérito após duas empresas ligadas ao ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, serem selecionadas para intermediar a venda de arroz. Geller também foi exonerado do cargo — e nega qualquer irregularidade.
O ex-diretor diz ter realizado mais de 50 leilões, de compras de cestas básicas a frete. Santos alega que, em 2023, a Conab executou mais de R$ 1 bilhão em estoques públicos com políticas de garantia de preço mínimo.
— Se a operação tivesse sido feita como os técnicos da Conab determinaram, não teria como dar errado. Foi uma casca de banana que escorreguei e que não fui eu que coloquei. Me sinto totalmente injustiçado, porque não participei de nada até momento do leilão. Quem determinou as regras de como seria não fui eu, e não deixaram o leilão seguir. Interromperam antes do final. Foi um assunto muito politizado. Não vou colocar culpa em ninguém.
Santos estava na diretoria executiva de Operações e Abastecimento da Conab desde março de 2023 por indicação de Geller. A demissão de Santos foi confirmada na terça-feira pelo ministro de Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira.
Na última sexta-feira, Lula afirmou que o leilão de arroz foi cancelado devido a uma "falcatrua numa empresa". A declaração foi feita à rádio Meio, em Teresina (PI).
— Tomei a decisão de importar 1 milhão de toneladas. Tivemos a anulação do leilão porque houve uma falcatrua numa empresa.