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Bolívia chama seu embaixador na Argentina para consultas após declaração do governo Milei

Ordem foi dada após Chancelaria boliviana rejeitar as declarações 'temerárias' de Buenos Aires; declaração argentina ocorre após ex-presidente Evo Morales sugerir uma tentativa de autogolpe de Luis Arce

Tropas militares tomam praça em La Paz em tentativa de golpe de Estado na Bolívia - Aizar Raldes/AFP

A Bolívia convocou nesta segunda-feira o seu embaixador na Argentina para consultas, rejeitando uma declaração do governo de Javier Milei, na qual descreveu o golpe fracassado contra o presidente Luis Arce como uma "falsa denúncia".

"Nosso embaixador do Estado Plurinacional da Bolívia na Argentina, Ramiro Tapia, foi convocado para consulta para estar presente na sede do governo", anunciou a ministra e porta-voz da presidência, María Nela Prada, em comunicado à imprensa.

Mais cedo, o governo boliviano rejeitou "energicamente" as declarações "inamistosas e temerárias" do governo argentino. "A Chancelaria do Estado Plurinacional da Bolívia rejeita energicamente as declarações inamistosas e temerárias emitidas pelo Gabinete do Presidente da República Argentina", declarou a diplomacia boliviana em comunicado.
 

Além disso, considerou que "as afirmações desinformadas e tendenciosas" sobre a "inexistência de um golpe de Estado" fracassado representam "um excesso e um negacionismo inaceitável". O governo boliviano convida a "informar-se e agir no âmbito dos princípios de respeito à soberania e não intervenção nos assuntos internos de outros estados", acrescentou a chancelaria.

A presidência ultraliberal de Milei, que mantém relações muito tensas com os governos de esquerda da região, distanciou-se do apoio internacional recebido por Arce diante da revolta militar dos ex-comandantes das Forças Armadas, que foi liderada pelo general Juan José Zúñiga, ex-chefe do Exército.

Zúñiga estava à frente das tropas que cercaram o palácio presidencial com tanques por várias horas antes de se retirarem. O general e outros comandantes foram presos junto com outros 18 militares ativos, reformados e civis acusados de tentar derrubar o presidente Arce.

A versão oficial, no entanto, começou a ser questionada depois que Zúñiga, ao ser capturado, afirmou ter agido a pedido de Arce para aumentar sua popularidade, algo que foi negado pelo presidente boliviano. No domingo, o ex-presidente Evo Morales acusou Arce, seu antigo aliado, de ter "mentido ao mundo" com um "autogolpe".

— Pensei que fosse um golpe, mas agora estou confuso: parece um autogolpe — disse Morales no domingo em seu programa regular de rádio.

O governo argentino citou "relatórios de inteligência" para apoiar as declarações de Morales. "O relato divulgado foi pouco credível e os argumentos não se enquadravam no contexto sociopolítico do país latino-americano", argumentou o comunicado da Presidência argentina.

A Justiça boliviana investiga o levante armado quando tropas com tanques cercaram a sede do governo durante várias horas e depois recuaram, deixando 14 feridos e 21 militares presos, incluindo os três ex-comandantes das Forças Armadas.