Hepatite A: surto em Curitiba chega a 366 casos e 5 mortes, com 60% dos pacientes internados
Relações sexuais foram identificadas como a principal causa do contágio na capital paranaense
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Curitiba, capital do Paraná, publicou nesta segunda-feira um novo boletim epidemiológico sobre o surto de hepatite A que afeta a cidade. Na última semana, foram registrados mais 13 casos da infecção viral, levando o total de registros neste ano a 366. No mesmo período do ano passado, segundo a pasta, foram apenas 5 diagnósticos, o que revela uma alta de 7.220% em 2024.
De acordo com a secretaria, 60% dos pacientes do surto atual (220) foram internados, e 3,2% (12) precisaram de cuidados em unidades de terapia intensiva (UTI). Além dos casos, a capital paranaense também registrou 5 mortes e um transplante de fígado decorrente da hepatite A.
A pasta afirma ainda que um inquérito epidemiológico realizado pelas equipes da SMS e do Programa de Epidemiologia Aplicada do Sistema Único de Saúde (EpiSUS), do Ministério da Saúde, identificou que o surto tem se espalhado pela transmissão entre pessoas, e que a principal forma do contágio é por meio de relações sexuais. De acordo com a SMS, a maioria dos diagnósticos ocorreu em homens de 20 a 39 anos.
— Nossa principal orientação é adotar hábitos preventivos, principalmente a higiene das mãos, genitália e região anal antes e depois de práticas sexuais — orienta o diretor do Centro Municipal de Epidemiologia de Curitiba, Alcides Oliveira.
O que é a hepatite A?
A hepatite A é uma infecção viral causada por um dos cinco vírus que atingem o fígado: o A, o B, o C, o D e o E. De acordo com a SMS, nas crianças a doença é geralmente benigna e facilmente tratada. Já em adultos, a hepatite A tende a ser mais grave, “inclusive com a necessidade de internação hospitalar, situação que se apresenta no surto enfrentado em Curitiba”, diz a pasta.
Como a hepatite A é transmitida?
A transmissão ocorre por via fecal-oral (contato de fezes com a boca). Por isso, tem alta relação com as condições de saneamento básico, qualidade da água e higiene pessoal e de alimentos, mas também pode ser disseminada em relações sexuais por meio do sexo anal, que propicia o contato do ânus com a boca.
Quais são os sintomas da hepatite A?
Segundo o Ministério da Saúde, as contaminações costumam ser silenciosas, mas quando se manifestam causam cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados (icterícia), urina escura e fezes claras. Em casos mais graves, pode demandar um transplante do órgão e, quando não tratada, a hepatite vira um fator de risco para desenvolvimento de câncer de fígado e cirrose.
Vacina contra a hepatite A
Para as hepatites A e B, uma das principais estratégias de prevenção é a vacinação. A eficácia do imunizante para o tipo A é alta, mas como ele passou a ser ofertado no Programa Nacional de Imunizações (PNI) para crianças somente em 2014, muitos adultos de hoje não receberam a proteção.
Além disso, a baixa cobertura vacinal entre os mais novos preocupa os especialistas porque mantém o vírus em circulação até alcançar as populações suscetíveis. No Brasil, segundo dados do DataSUS, 75,8% do público-alvo recebeu a dose até agora em 2024 – a meta preconizada é de 95%, que foi alcançada pela última vez no Brasil em 2015, quando chegou a 97,07%.
No ano passado, cidades como São Paulo, Porto Alegre e Florianópolis também viveram surtos da hepatite A. Uma das estratégias adotadas nesses momentos é a vacinação de bloqueio, que imuniza adultos próximos de pessoas infectadas para tentar barrar a disseminação.
A SMS de Curitiba disse que aguarda a chegada de imunizantes para vacinar “contatos familiares e sexuais daqueles que tiverem a confirmação da Hepatite A nos últimos 15 dias”. — A estratégia de vacinação está sendo definida esta semana e será aplicada assim que chegarem as novas doses enviadas pelo Ministério da Saúde — afirmou Alcides Oliveira.
Quem pode se vacinar contra a hepatite A no SUS?
Atualmente, a dose única contra a hepatite A faz parte do calendário infantil no SUS com indicação para ser aplicada aos 15 meses de idade, podendo ocorrer entre os 12 meses até os 5 anos incompletos.
Nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs), determinados adultos considerados de maior risco para doença grave também podem receber a vacina pela rede pública, que é administrada no esquema de 2 doses, com intervalo mínimo de 6 meses entre elas. São eles:
Hepatopatias crônicas de qualquer etiologia, inclusive infecção crônica pelo HBV e/ou pelo HCV;
Pessoas com coagulopatias, hemoglobinopatias, trissomias, doenças de depósito ou fibrose cística (mucoviscidose);
Pessoas vivendo com HIV;
Pessoas submetidas à terapia imunossupressora ou que vivem com doença imunodepressora;
Candidatos a transplante de órgão sólido, cadastrados em programas de transplantes, ou transplantados de órgão sólido ou de células-tronco hematopoiéticas (medula óssea);
Doadores de órgão sólido ou de células-tronco hematopoiéticas (medula óssea), cadastrados em programas de transplantes.
Como se proteger da hepatite A durante o sexo?
A SMS de Curitiba orienta algumas medidas para evitar a contaminação com a hepatite A durante relações sexuais. São elas:
Uso de preservativo interno ou externo nas relações sexuais;
Higienização das mãos, genitália, períneo e região anal antes e após as relações sexuais;
Higienização de vibradores, plugs anais e vaginais ou outros acessórios utilizados para as práticas sexuais;
Utilização de barreiras de látex durante o sexo oro/anal e luvas/dedeiras de látex para práticas como dedilhado ou "fisting";
Como se proteger da hepatite A de modo geral?
Outras formas de prevenção orientadas pela secretaria são:
Lavar constantemente as mãos, principalmente após o uso do sanitário e antes do preparo de alimentos;
Lavar com água tratada, clorada ou fervida, os alimentos que são consumidos crus, deixando-os de molho por pelo menos 10 minutos;
Cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, principalmente mariscos, frutos do mar e peixes;
Lavar adequadamente pratos, copos, talheres e mamadeiras;
Usar instalações sanitárias;
Não tomar banho ou brincar perto de valões, riachos, chafarizes, enchentes ou próximo de onde haja esgoto;
Evitar a construção de fossas próximas a poços e nascentes de rios;