Primeiro-ministro da Hungria pede 'cessar-fogo' na Ucrânia para acelerar as negociações de paz
Zelensky insistiu também na importância de uma "paz justa" para seu país
O primeiro-ministro húngaro e atual presidente do Conselho da União Europeia, Viktor Orban, pediu nesta terça-feira (2) em Kiev ao presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, que considere a possibilidade de um "cessar-fogo" na guerra com a Rússia.
"Pedi ao presidente que considere a possibilidade de um cessar-fogo rapidamente, que estaria limitado no tempo e permitiria acelerar as negociações de paz", declarou o líder nacionalista, o único na UE próximo do Kremlin.
As "iniciativas" do presidente ucraniano "levam muito tempo, são lentas e complicadas devido às regras da diplomacia internacional", argumentou o dirigente húngaro.
Zelensky não reagiu à proposta de Orban. No passado, o presidente ucraniano já rejeitou firmemente a ideia de uma trégua com a Rússia,a qual disse que só serviria para que Moscou fortalecesse seu exército.
Zelensky insistiu também na importância de uma "paz justa" para seu país.
Orban, que não havia visitado a Ucrânia desde o início da invasão russa, disse que a conversa com Zelensky foi "franca".
"Certamente vou informar (o teor) das discussões ao Conselho da União Europeia (...) para que as decisões europeias necessárias possam ser tomadas", afirmou.
O chefe de Estado ucraniano também pediu a manutenção "a um nível suficiente" da assistência militar da Europa a Kiev.
Orban, cujo país acaba de assumir a presidência semestral da UE, questiona a assistência financeira europeia à Ucrânia, vital para o país enfrentar a invasão russa.
No início do ano, ele vetou uma ajuda de 50 bilhões de euros (53 bilhões de dólares, 298 bilhões de reais) que foi aprovada alguns meses depois.
Apesar das divergências, o líder húngaro expressou o desejo de "melhorar" as relações bilaterais.
Também nsta terça, os Estados Unidos anunciaram uma nova ajuda de defesa para a Ucrânia no valor de 2,3 bilhões de dólares (R$ 12,8 bilhões).
Kiev considera que a retirada das tropas russas de seu território é um requisito prévio para a paz, enquanto a Rússia afirma que Kiev deve ceder cinco regiões e desistir de entrar para a Otan.
Minoria húngara
Orban, nacionalista e eurocético, está no poder desde 2010 e era contra a entrada da Ucrânia na UE por julgar que o país não está pronto.
No entanto, em dezembro do ano passado abandonou a mesa durante uma cúpula dos 27 países da UE, o que permitiu aos 26 restantes iniciar as negociações de adesão com Kiev.
Questionado sobre a viagem de Orban à Ucrânia, o Kremlin respondeu que não esperava "nada" dele. Mas o porta-voz russo Dmitri Peskov descreveu o húngaro como um homem que "defende firmemente os interesses de seu país".
O líder húngaro desaprova as sanções europeias votadas contra a Rússia e tenta suavizá-las.
Em diversas ocasiões, classificou a invasão russa da Ucrânia como uma "operação militar", usando o mesmo eufemismo que o Kremlin para evitar falar de uma "guerra".
A disputa entre Kiev e Budapeste não é nova e as relações diplomáticas já eram tensas antes da invasão, porque a Ucrânia adotou desde 2017 medidas controversas, em particular sobre o ensino de idiomas na Transcarpátia, região ucraniana que até a Primeira Guerra Mundial foi administrada pela Hungria e na qual habitam hoje 100.000 magiares.
Em uma entrevista telefônica nesta terça-feira, o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e o seu homólogo húngaro, Peter Szijjártó, “destacaram a necessidade de Kiev garantir incondicionalmente os direitos de todas as minorias nacionais que vivem no país”, de acordo com uma declaração do governo da Rússia.
A Hungria também recebeu muito menos refugiados ucranianos do que a maioria dos membros da UE.
A visita de Orban ocorre em um momento difícil para o Exército ucraniano, que carece de tropas e armamento. As forças russas revindicaram recentemente a captura de várias localidades no leste do país.