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Índia: sobreviventes de esmagamento em massa que deixou 121 mortos descrevem pânico geral

Testemunhas da tragédia na Índia relataram que muitas pessoas caíram umas sobre as outras enquanto corriam em direção a uma vala cheia de água em uma encosta

Tragédia na Índia - Arun Sankar/AFP

Os sobreviventes do tumulto e consequente esmagamento em massa ocorrido durante uma celebração religiosa no norte da Índia descreveram na quarta-feira o "caos" que resultou na morte de 121 pessoas.

Eram cerca de 250 mil pessoas reunidas para ouvir um pregador hindu em Hathras, no estado de Uttar Pradesh, mais do triplo das 80 mil pessoas autorizadas, segundo a polícia.

Nesta quarta-feira (3), o campo lamacento ao lado de uma estrada onde ocorreu a estampida ainda estava cheio de roupas e sapatos abandonados. Testemunhas relataram que muitas pessoas caíram umas sobre as outras enquanto corriam em direção a uma vala cheia de água em uma encosta.

"Todos, incluindo mulheres e crianças, deixaram o local do evento ao mesmo tempo", disse Sheela Maurya, uma policial de 50 anos que estava de serviço. "Não havia espaço suficiente e as pessoas caíam umas sobre as outras", explicou.

A maioria das vítimas são mulheres. Alguns participantes desmaiaram devido à pressão da multidão, caíram e foram pisoteados. A polícia forense esteve no local na quarta-feira em busca de evidências.

A policial que trabalhava durante a cerimônia na terça-feira também ficou ferida. "Tentei ajudar as mulheres, mas desmaiei e fui esmagada pela multidão", contou. "Não sei como, mas alguém me tirou de lá"

Hori Lal, de 45 anos, que mora em Phulrai Mughalgadi, uma vila próxima, explicou que "a estrada principal ao redor do campo estava lotada de pessoas e veículos por quilômetros, havia muita gente". "Quando as pessoas começaram a cair e serem pisoteadas, foi um caos", disse ele.

"Todo mundo queria sair"
Segundo Chaitra V., uma comissária de polícia da cidade de Aligarh, o pânico começou quando "os participantes estavam saindo do local e uma tempestade de poeira os cegou, causando tumulto". Um relatório da polícia indicou que o incidente começou quando "os peregrinos começaram a coletar terra" seguindo os passos do pregador.

Sheela Maurya, a policial, disse que "nunca tinha visto tanta gente" em um evento, embora já tivesse trabalhado na segurança de reuniões políticas ou religiosas. "Estava muito quente, eu caí e sobrevivi com grande dificuldade".

Ao amanhecer de quarta-feira, quatro corpos não identificados ainda estavam no chão de uma improvisada morgue no hospital da cidade próxima de Hathras. Ram Nivas, um agricultor de 35 anos, ainda está procurando por Rumla, sua cunhada desaparecida de 54 anos.

"Não conseguimos encontrá-la em nenhum lugar", disse ele, apesar de ter visitado todos os hospitais da região durante a noite.

Na sala de emergência do hospital, Sandeep Kumar, de 29 anos, está sentado ao lado de sua irmã ferida, Shikha Kumar, de 22 anos. "Quando o evento terminou, todos queriam sair rapidamente, isso causou a estampida", disse ele. "Ela viu como as pessoas desmaiaram e foram pisoteadas", disse referindo-se à sua irmã.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, anunciou uma compensação de US$ 2.400 para os familiares dos falecidos e de US$ 600 para os feridos no "trágico acidente". O Senado indiano observou um minuto de silêncio na quarta-feira.

Yogi Adityanath, primeiro-ministro de Uttar Pradesh e monge hindu, expressou suas condolências aos familiares das vítimas e ordenou uma investigação.

Histórico sombrio
As reuniões religiosas na Índia têm um historial sombrio de incidentes mortais causados por uma má gestão das multidões e por falhas de segurança.

Em 2016, pelo menos 112 pessoas morreram em uma explosão provocada por fogos de artifício em um templo onde se celebrava o ano novo hindu, no estado de Kerala.

A explosão destruiu edifícios de betão e provocou um incêndio num complexo de templos no estado de Kerala, onde milhares de pessoas se tinham reunido.

Em 2013, 115 devotos foram mortos numa debandada numa ponte perto de um templo em Madhya Pradesh. Cerca de 400 mil pessoas estavam reunidas na zona e o tumulto começou depois de se ter espalhado um rumor de que a ponte estava prestes a cair.

Em 2008, 224 peregrinos morreram e mais de 400 ficaram feridos numa debandada num templo no topo de uma colina na cidade de Jodhpur, no norte do país.