França

Jordan Bardella, líder da extrema direita francesa, culpa Macron por derrota nas legislativas

Após contundente vitória nas eleições europeias, candidato de 28 anos tinha expectativa de se tornar primeiro-ministro, mas Reagrupamento Nacional acabou em terceiro

Jordan Bardella é presidente interino do Reunião Nacional (RN) desde setembro de 2021 e principal nome para assumir o comando do partido no lugar de Marine Le Pen - X/Reprodução

Após a vitória do bloco de esquerda Nova Frente Popular, que se consolidou como o maior do Parlamento da França, o líder do Reagrupamento Nacional (RN), de extrema direita, Jordan Bardella, culpou o presidente Emannuel Macron pela derrota.

Os franceses votaram de maneira massiva: a participação foi de 67%, a mais alta registrada durante um segundo turno em mais de 40 anos e ligeiramente maior do que no primeiro turno.

— Essa noite houvesse um regresso na política francesa. Esses acordos eleitorais jogaram a França nos braços da extrema esquerda.

Com isso, o RN, largamente à frente no primeiro turno e nas eleições europeias, representam a vitória de amanhã — disse Bardella, após as projeções iniciais. — O RN encarna mais do que nunca a única força que pode reconstruir a França.

Os arranjos eleitorais de um Palácio do Eliseu isolado e uma extrema esquerda incendiária não levarão o país a lugar nenhum.

Segundo as projeções, a Nova Frente Popular deve ter entre 172 e 192 cadeiras na Assembleia Nacional, enquanto a aliança Juntos, de Emmanuel Macron, terá entre 150 e 170 cadeiras.

O Reagrupamento Nacional, que esperava ter a maioria absoluta após o bom desempenho no primeiro turno, terá entre 132 e 152 — o número inclui membros do partido O Republicanos que seguiram o pedido do contestado presidente da sigla, Eric Ciotti, para unirem forças com a extrema direita.

O partido, por si só, terá entre 57 e 67 cadeiras, apontam as projeções.

— Saúdo a todos que aceitaram ser candidatos e retirar suas candidaturas e se mobilizaram porta a porta para conseguir arrancar um resultado que parecia ser impossível. Essa noite o Reagrupamento Nacional está longe de ter a maioria absoluta, é um imenso alívio — afirmou, em discurso , Jean-Luc Mélenchon, do partido A França Insubmissa, que integra a coalizão de esquerda.

Com apenas 28 anos, Bardella, vencedor das eleições europeias na França, é chamado de "ciborgue" pela sua disciplina e método. Substituto de sua mentora Marine Le Pen, líder do Reunião Nacional (RN) e filha do veterano líder ultraconservador Jean-Marie Le Pen, caso um dia ela fracasse. Ou se ele — mais gentil, menos polarizador, sem aquele sobrenome que pesa sobre ela — acabar por substituí-la.

Substituto, também, porque endossa um dos preceitos da extrema direita contemporânea: o da "grande substituição", que sustenta que os imigrantes muçulmanos e africanos ameaçam substituir a população nativa europeia.

"Eu não uso esse termo, porque é um conceito muito intelectual", disse Bardella ao jornal El País há alguns anos. E esclareceu que ele, ao contrário de alguns dos propagadores dessa teoria, não acreditava que o que ela supostamente descreve fosse uma conspiração. Mas acrescentou: "indica uma realidade: onde cresci há franceses que já não reconhecem o país onde cresceram, incluindo franceses de origem imigrante."

Não há político de sucesso sem uma história mais ou menos embelezada que permita contar aos eleitores uma narrativa que sirva para transmitir certas ideias.

A história de Jordan Bardella começa na periferia multicultural e trabalhadora de Paris, em Seine-Saint-Denis, a província mais pobre da França, a que tem mais imigrantes e a mais jovem.

Seus pais, de origem italiana, são divorciados. Ele morava com sua mãe em blocos de apartamentos onde o tráfico de drogas prospera e o islamismo impera.

Eles tinham dificuldades para chegar ao fim do mês. Eis um político — da direita nacionalista, partidário da lei e da ordem e das leis mais restritivas sobre imigração — que pode dizer, e diz: "Eu sei do que estou falando".

Hoje, Bardella reside longe de Seine-Saint-Denis, no oeste abastado de Paris. E hoje se sabe — conforme relatado recentemente pelo Le Monde — que sua infância foi um vaivém entre duas classes sociais: a da mãe e a do pai, que vivia nessa parte mais rica da região parisiense, e que o levava em viagens a Miami ou, ao completar 18 anos, lhe presenteou com um carro.

Mas o mito fundador permanece. Agora talvez mais do que nunca.

Após a vitória retumbante da lista que ele liderava nas eleições europeias e depois de o presidente Emmanuel Macron ter convocado eleições legislativas antecipadas em duas rodadas, nos dias 30 de junho e 7 de julho, Bardella é o escolhido para ocupar a chefia do governo caso o RN prevaleça na Assembleia Nacional.

Bardella, primeiro-ministro? Seria a culminação de uma carreira fulgurante. A do garoto que abandonou os estudos universitários para ascender no RN.

O eurodeputado aos 23 anos, embora seu balanço legislativo seja modesto.

O presidente do partido aos 27 e braço direito de Le Pen. E o rosto do processo pelo qual um partido, que há alguns anos estava à margem da democracia — o antecessor do RN, a Frente Nacional, foi fundado por colaboradores da Alemanha nazista — ocupa hoje a centralidade na França.

Bardella agrada, e não assusta. Uma casca vazia com pouca preparação técnica e pouco domínio dos temas nos debates? As eleições europeias mostraram que isso não era um problema.

Uma imagem superficial? Pierre-Stéphane Fort, autor de "Le grand remplaçant", está convencido de que sim: "Meu sentimento profundo", escreve, "é que, por trás da máscara sedutora da juventude, da cortina de fumaça do marketing, as ideias não mudaram."