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Boeing 737 Max: o que é o MCAS, o software no centro da tragédia fatal envolvendo dois aviões

Cerca de 55 anos após sua decolagem inaugural, o 737 permanece como um dos aviões de passageiros de maior sucesso já fabricado, ao mesmo passo que se tornou problemático

O modelo Boeing 737 Max não voa mais desde 2019 - Divulgação/Boeing

A Boeing — gigante americana do mercado aeroespacial — concordou, neste domingo, em se declarar culpada de acusação criminal por dois acidentes fatais do 737 Max, em 2018 e 2019, nos quais morreram 346 pessoas.

Após diversas investigações, a Agência Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) concluiu que o Maneuvering Characteristics Augmentation System (MCAS), um “software de segurança”, na época recém-lançado, teve papel central nos acidentes.

Em 2011 foi anunciado o Boeing 737 Max, a quarta geração da aeronave. Ela foi criada para rivalizar com o A320neo, da Airbus, que tinha um novo motor mais eficiente em termos de combustível.

A principal dificuldade se deu pelo fato dos motores que a Boeing desejava para o 737 Max não caberem sob as baixas asas do avião. Esse era um problema que a Airbus não tinha, porque o A320 já era muito mais alto do que o 737.

A Boeing optou por adicionar algum comprimento ao trem de pouso dianteiro e montar os motores mais à frente e mais alto nas asas. Mas, a empresa descobriu posteriormente, em simuladores, que o novo design alterou a aerodinâmica do avião, de maneira que o fazia inclinar perigosamente em certas situações.

Numa tentativa de solucionar a questão, a Boeing desenvolveu um sistema de segurança chamado MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System, ou Sistema de Aumento de Características de Manobra) que empurraria imediatamente o nariz do 737 para baixo caso ele inclinasse muito.

A empresa projetou o MCAS para fazer o 737 Max voar exatamente como os 737 anteriores. Por acreditar que ele entraria em ação apenas em circunstâncias extremas de voo, a Boeing optou por manter o sistema quase em segredo.

A breve aula que os pilotos já certificados para os 737 anteriores precisavam assstir para voar no 737 Max não incluiu a explicação do novo sistema

O 737 Max ganhou a simpatia das companhias aéreas por ser mais econômico de se operar e não exigir treinamento caro de simulação para seus pilotos. Até que dois acidentes fatais ameaçaram a credibilidade da segurança do modelo.

Conheça a aeronave
O modelo custa em média US$ 128,9 milhões (R$ 629 milhões), segundo o portal internacional Aero Corner. O 737 Max 9 tem capacidade máxima de 220 assentos e alcance de 6.110 km. A aeronave tem 42,16 metros de comprimento e 35,9 metros de envergadura.

Cerca de 55 anos após sua decolagem inaugural, o 737 permanece como um dos aviões de passageiros de maior sucesso já fabricado, ao mesmo passo que se tornou problemático.

Lançado em 17 de janeiro de 1967, as primeiras versões do 737 chamaram atenção por abrigar os motores sob as asas, como os outros jatos da Boeing. O posicionamento da peça reduziu o ruído e a vibração, além de facilitar a manutenção.

O 737 não tinha seus motores montados em pylons (suportes que prendem a turbina à asa) na frente das asas, como os outros modelos da marca, mas diretamente abaixo delas. Essa escolha dos engenheiros permitiu que a aeronave ficasse bem baixa em relação ao solo, o que facilitava o carregamento da bagagem.

Apesar da resistência de sindicatos por ser a primeira aeronave da Boeing com dois tripulantes, o 737 era o avião mais encomendado da história comercial em 1987. O sucesso foi oriundo da primeira grande reformulação da aeronave: o modelo 737-300, de 1984.

Mais comprido e largo, o avião tinha capacidade para 150 passageiros e foi projetado para enfrentar seu novo rival, o Airbus A320 europeu, lançado no mesmo ano. O fato do 737-300 ter um motor novo e moderno, que não cabia embaixo da asa, representou o primeiro grande desafio para os engenheiros da Boeing.

O problema foi resolvido com a redução do diâmetro da turbina e realocação dos componentes do motor da parte inferior da carcaça para as laterais. A atualização foi bem sucedida e, com isso, os planos iniciais de projetar uma aeronave totalmente nova e mais moderna para substituir o 737 foram colocados de lado.