FRANÇA

Nova Frente Popular: Quem é a coalizão de esquerda que venceu as eleições na França?

Reunião de partidos de esquerda superou divergências internas após convocação de eleições antecipadas por Macron

Líderes do partido França Insubmissa discursam a apoiadores após o resultado das eleições de domingo - Arnaud Finistre/AFP

O resultado do 2º turno das eleições legislativas antecipadas na França, realizadas neste domingo, apresentou um vencedor claro.

Mesmo sem maioria absoluta, a Nova Frente Popular, coalizão que reúne forças políticas da centro esquerda à extrema esquerda do país foi a mais votada, conquistando um total de 182 cadeiras na Assembleia Nacional, o que a coloca em uma posição privilegiada para indicar o próximo primeiro-ministro.

O sucesso eleitoral esconde um passado recente de divisão. Há um mês, a coalizão não existia.

Os partidos de esquerda que agora estão reunidos em um mesmo esforço eleitoral divergiam em uma série de pautas no Congresso francês, então liderado pelo grupo político do presidente Emmanuel Macron — que nas eleições de domingo ficou na segunda colocação.

Mas foi justamente Macron, ao dissolver a Assembleia Nacional e convocar novas eleições, que fez com que os partidos deixassem as divergências e se unissem em torno de um objetivo eleitoral comum, de ampliar a base de esquerda no Legislativo e barrar o avanço da extrema direita, que acabara de conquistar uma vitória imponente nas eleições do Parlamento Europeu.

Quem faz parte da Nova Frente Popular?
Quatro forças majoritárias compõem a Nova Frente Popular, que também inclui partidos menores: o Partido Socialista, sigla da centro esquerda clássica francesa, que tem entre seus quadros a prefeita de Paris, Anne Hidalgo; o França Insubmissa, de extrema esquerda, de Jean-Luc Mélenchon; o Partido Ecologista, ligado ao movimento dos Verdes, e o Partido Comunista francês. Entre as forças minoritárias, estão o Place Publique, de centro esquerda.

O que a Nova Frente Popular propõe?
Entre as promessas eleitorais da coalizão, estão o aumento do salário mínimo, a redução da idade de aposentadoria — que Macron pretende ampliar para 64 anos — para 60 anos e suavizar o processo de asilo no país.

Na agenda externa, o grupo se comprometeu a defender a "soberania e liberdade do povo ucraniano", em uma sinalização da continuidade da posição francesa no que diz respeito aos envios de ajuda da Otan e União Europeia.

Legendas que compõem o grupo também defendem um imediato reconhecimento do Estado da Palestina — algo mencionado por Mélenchon no primeiro discurso pós-vitória — e um cessar-fogo imediato entre Israel e Hamas.

Embora tenha aderido à estratégia de retirar candidaturas em disputas triangulares de 2º turno para isolar os candidatos do Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen e Jordan Bardella, a NFP se posiciona na oposição a Macron.

Por que Nova Frente Popular?
A origem histórica da nomenclatura Nova Frente Popular faz referência a uma aliança política fundada na França, em 1936, para combater o fascismo — algo que as forças de esquerda comparam a opor-se à extrema direita atualmente.

Em um contexto mais imediato, o nome também é uma referência à reedição da frente de esquerda que concorreu junta nas eleições presidenciais de 2022. À época, o grupo também ficou conhecido como Nupes, sigla para Nova União Popular Ecológica e Social.

Quem é o líder da Nova Frente Popular?
Ninguém sabe ao certo. Como as forças de esquerda estavam divididas antes da convocação das eleições antecipadas, não havia um nome que unificasse todos os setores dos partidos. A própria decisão de reeditar a aliança parecia, no começo do processo, improvável, pela resistência entre algumas das siglas entre si.

Em 2022, a liderança da frente de esquerda estava com o veterano político Jean-Luc Mélenchon, um ex-militante estudantil trotskista que por 30 anos esteve nas fileiras do Partido Socialista. Líder do França Insubmissa (LFI), partido acusado por Macron de ser uma força política extremista que ameaça o país, Mélenchon deve receber o apoio da maior parte dos deputados eleitos pela coalizão, 74 deles do LFI.

Apesar da boa votação do França Insubmissa, outras forças políticas relevantes dentro da coalizão de esquerda pretendem assumir protagonismo. O líder do Partido Socialista, Olivier Faure, disse, após a votação, que é necessário "apresentar um candidato" ao cargo de primeiro-ministro "ao longo da semana", um nome que será escolhido por "consenso ou por votação".

Dentro da sigla, um nome forte é o do deputado Raphaël Glucksmann, símbolo da ala social-democrata da NFP. Antes da reunião da esquerda em torno do bloco, ele defendeu expressamente que uma nova aliança não deveria ser liderada por Mélenchon.