caso da joias

PF destaca chamada de vídeo de Wassef com Bolsonaro após fala sobre entrega de relógio com Cid

Relatório da PF afirma que o advogado foi "designado" pelo ex-presidente para recuperar o objeto que fazia parte do kit ouro branco

Frederick Wassef acompanhou Bolsonaro até o salão onde foi feito o anúncio - reprodução/Instagram

A Polícia Federal destacou que o advogado Frederick Wassef fez uma chamada de vídeo para o ex-presidente Jair Bolsonaro logo após ele falar sobre a entrega do relógio Rolex ao tenente-coronel Mauro Cid.

Segundo a PF, Wassef foi "designado" por Bolsonaro para recuperar o objeto em março de 2023, quando veio à tona o suposto esquema do desvio de joias do acervo presidencial.

A ligação teria ocorrido em 2 de abril de 2023 no dia em que a PF suspeita que o item de luxo foi entregue por Wassef a Cid na Sociedade Hípica Paulista, em São Paulo. Bolsonaro, Wassef, Cid e outras nove pessoas foram indiciadas no inquérito pelos crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

"Da mesma forma, nos dias 31/03/2023 e 02/04/2023 há registros de novas trocas de mensagens pelo aplicativo WhatsApp entre MAURO CID e FREDERICK WASSEF. No dia 02/04/2023, MAURO CID avisa a FREDERICK WASSEF: 'Estou indo para a Hípica' e em seguida passa as coordenadas geográficas da Sociedade Hípica Paulista. Depois de conversar com MAURO CID, FREDERICK WASSEF ainda conversou com JAIR BOLSONARO, via chamada de vídeo, por trinta segundos", diz trecho do relatório da Polícia Federal.

De acordo os investigadores, Wassef viajou aos Estados Unidos entre os dias 13 e 29 de março com a missão de recuperar o relógio Rolex, que fazia parte do kit ouro branco e fora dado por autoridades da Arábia Saudita. Cid, por sua vez, ficou encarregado de recomprar os outros itens do conjunto - um rosário, anel, caneta e abotoaduras.

"O relógio foi repassado a MAURO CID, na cidade de São Paulo, no dia 02 de abril de 2023, em encontro que teria ocorrido no Sociedade Hípica Paulista. O conjunto completo foi devolvido na data de 04 de abril de 2023, em uma agência da Caixa Econômica Federal", destaca a PF.

Naquela época, o advogado chegou a se encontrar com Bolsonaro em Orlando. Conforme a PF, os investigados estavam "preocupados com a repercussão sobre o denominado kit ouro branco". “Só agora vi sua mensagem. Vou para aí daqui a pouco. Aviso quando estiver saindo", escreveu Wassef a Bolsonaro em 24 de março.

A PF também destacou que o advogado ligou para Bolsonaro logo que desembarcou no Brasil vindo dos Estados Unidos. Na ocasião, ele estava com o relógio na sua bagagem - o que lhe causou preocupações na hora de passar pelo controle migratório, segundo a PF.

Em depoimento à PF, Wassef afirmou que a operação de recompra do relógio foi solicitada por Fabio Wajngarten, que também atua como advogado e assessor do ex-presidente. Wassef afirmou que tinha uma viagem particular para os Estados Unidos, “onde ia reencontrar amigos e visitar parques”, quando recebeu o pedido de Wajngarten:

"Fred, pode ir lá, compra o relógio, negocia, tenta um bom preço que vou te devolver esse valor", relatou Wassef à PF, afirmando ser este o pedido exato feito por Wajngarten.

A PF também afirmou que Wajngarten viajou a Orlando em 17 de março de 2023, com retorno previsto para o dia seguinte.

Além do depoimento do próprio Wassef, a atuação dele na recompra do Rolex foi relatada nas oitivas de Mauro Cid, que assinou acordo de delação premiada, e do capitão Osmar Crivellati, ex-assessor de Bolsonaro.

"QUE nos dias 12 e 13 de março de 2023 o declarante (Crivelatti) volta a conversar com o Tenente Coronel MAURO CID sobre passagens aéreas que seriam necessárias para que fosse operacionalizada a busca desse mesmo relógio; QUE se tratam de passagens aéreas para que o advogado WASSEF fosse buscar o relógio na cidade de Willow Grove, Pensilvânia/EUA", diz transcrição do depoimento de Crivelatti.