7 a 1: o que aconteceu nos sete minutos que transformaram uma derrota numa goleada histórica
Pane defensiva brasileira fez Alemanha transformar o que era uma vitória simples no pior dia da história da seleção brasileira

O que acontece num campo de futebol em seis minutos e 40 segundos? No sábado, no 0 a 0 contra o Uruguai que terminou com a eliminação do Brasil da Copa América nos pênaltis, nenhum lance de perigo marcou a partida decorridos estes quase sete minutos iniciais.
No confronto entre Espanha e Alemanha, que terminou em vitória espanhola por 2 a 1 e eliminação alemã nas quartas da Euro, apenas a falta dura de Toni Kroos em Pedri marcou esse intervalo de tempo no início da partida.
Há dez anos, seis minutos e 40 segundos foram o tempo de abertura do portal do inferno para a seleção brasileira, que viu uma derrota “simples”, de 2 a 0, se transformar em uma goleada histórica numa semifinal de Copa do Mundo em casa.
O próprio Kroos, que deu adeus ao futebol na eliminação alemã, foi o protagonista das ações em uma série de instantes e decisões em que a Alemanha viu todo e qualquer lance que tentava funcionar contra uma seleção brasileira em pane defensiva.
Aos 22 minutos e sete segundos de jogo, Miroslav Klose marca o seu 16º gol em Copas do Mundo, isolando-se como artilheiro histórico do torneio e abrindo 2 a 0, boa vantagem para os alemães, que viriam a ser os campeões do torneio.
Seis minutos e 40 segundos depois, a Alemanha vencia por 5 a 0. Com os gols de Schürrle e Oscar no segundo tempo, constituiu-se o histórico 7 a 1. Uma das, senão a página mais sombria da história da seleção brasileira em campo.
Assistir novamente a partida, dez anos depois (está disponível oficialmente, na íntegra, pela Fifa), é um exercício de surpresas e percepção de detalhes constantes. Nos primeiros 20 minutos de jogo, até mesmo perdendo por 1 a 0, o Brasil faz jogo competitivo.
Consegue encontrar espaços no ofensivo meio-campo alemão, tabelas funcionam, ganha duelos pela primeira bola e até leva perigo em cruzamentos e finalizações. Mas o 2 a 0 sepulta qualquer chance de reviravolta naquela partida.
Massacre em 42 segundos
Para se ter uma ideia do quão rápido foi o massacre alemão naquela tarde, no Mineirão, o time de Joachim Low teve o controle pleno da bola (sem contar bola em disputa, fora do jogo, em reinício ou reposição) por apenas 42 segundos dentro desse intervalo de quase sete minutos e cinco gols.
No 3 a 0, gol de Kroos, Neuer repõe a bola com lançamento para o meio, Müller se antecipa a Marcelo e amacia de peito para Khedira e Kroos tabelarem, Özil ser acionado pela direita, entregar para Lahm, que cruza para Toni. Em 16 segundos de posse, a Alemanha chegava ao terceiro gol.
Do apito de reinício até o quarto gol, o Brasil fica 17 segundos com a bola até Fernandinho perdê-la para o mesmo Kroos, que invade a área, e contra Dante e o mesmo Fernandinho, atrasados, marca o quarto.
O intervalo em que o time comandado por Felipão fica mais tempo com a bola acontece entre esse quarto e o quinto gol, de Khedira. No qual, mais uma vez, a defesa fica exposta e não consegue parar atletas alemãs tabelando dentro de sua área.
Quase dois minutos improdutivos
Com o forte golpe moral da goleada que se construía, os brasileiros ficam 14 segundos com a bola e não conseguem passar do meio, sob organizada marcação alemã. A seleção rifa, vê os alemãs devolverem e fica com ela em mais dois momentos: um de 40 segundos, também improdutivo, e outro de 35, quando Maicon, Bernard e Hulk tentam trama ofensiva pela direita, mas acabam sendo dificultados por três alemães ocupando o corredor.
No total, entre o 2 a 0 e o 5 a 0, o Brasil chega a ficar com a bola por um minuto e 56 segundos, mas pouco faz.
No quinto gol, o zagueiro Hummels arranca da defesa com a bola dominada, passa com facilidade pelo meio brasileiro e encontra Khedira, com Dante à frente como último homem. Ele tabela com Kroos e faz. É um tento que representa significativamente o tamanho da pane na qual as linhas defensivas — Luiz Gustavo e Fernandinho de volantes e Maicon, David Luiz, Dante e Marcelo, bem como Julio Cesar de goleiro— entraram.
Há dez anos, abria-se um abismo de intensidade, confiança e tempo de bola na concepção da maior goleada já sofrida pela seleção em uma Copa do Mundo.