Wassef e Wajngarten trocam farpas sobre defesa de Bolsonaro no caso das joias: "Perdido e injusto"
Indiciados pela PF, advogados Wassef e Wajngarten negam irregularidades
Troca de mensagens entre os advogados Frederick Wassef e Fabio Wajngarten, captadas pela Polícia Federal (STF), mostra que havia um conflito interno na defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro no caso do suposto desvio das joias do acervo presidencial. Os dois foram indiciados, junto com Bolsonaro, pela PF.
Sobre o relatório da PF, divulgado nesta segunda-feira, Wassef afirma que estão distorcendo informações retiradas a partir da análise do seu celular pela PF. Wajngarten, por sua vez, afirmou que é "absurdo" o indiciamento dele e chamou as investigações de "relatório inventivo".
Wassef e Wajngarten discordavam das estratégias de defesa e das explicações que deveriam ser dadas à imprensa. Wajngarten chegou a acusar o colega de “jogar sozinho” e ser “perdido e injusto”.
Wassef, por sua vez, relatou à PF que o ex-chefe da Secom lhe fazia "chamadas obsessivas e compulsivas” e foi ele quem lhe fez o pedido para recomprar um relógio Rolex nos Estados Unidos.
Segundo a PF, os dois advogados atuaram em um esquema para repatriar o objeto, que fazia parte de um conjunto de joias de ouro branco dado por autoridades da Arábia Saudita. Eles foram indiciados pela PF pelos crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro, junto com Bolsonaro.
Em 21 de março de 2023, Wassef se queixou com Wajngarten de reportagens que haviam saído na imprensa, e ironizou: "Parabéns. Belo trabalho".
"Pensei que o objetivo da ideia de devolver as joias era para dar um freio na imprensa e diminuir ou tentar parar as matérias e não ao contrário", escreveu Wassef , que acrescentou: "Enquanto os inimigos e comunistas são unidos e se fortalecem, a direita continua atirando nas costas dos próprios soldados".
Wajngarten respondeu: "E vc como sempre achando que fui eu. Como sempre vc perdido e injusto".
Em 13 de março de 2023, foi a vez de Wajngarten reclamar com Wassef que ele estava vazando informações a jornalistas.
"Continue jogando sozinho", escreveu ele, ao que Wassef respondeu: “Do que você está falando? Não sei de nada. Não fiz nada errado. Atende. Não estou jogando sozinho".
Produção de nota
A primeira grande divergência entre os dois defensores ocorreu na confecção de uma nota para explicar as denúncias envolvendo o caso das joias em março de 2023.
Wassef era a favor de divulgar um texto genérico que reafirmasse a inocência de Bolsonaro e “não prendesse” a estratégia da defesa —, o que Wajngarten não concordava.
"O próprio presidente me disse isto. Não é para ser nota oficial dele. Por favor mantenha a minha nota como esta", escreveu Wassef, que depois se queixa de não ter as chamadas atendidas pelo colega. "Ligo e vc não atende. Me atende por favor. Me deixe explicar".
Para se prevenir dos ataques que vinha recebendo de pessoas do entorno do ex-presidente, Wassef ainda procurou o próprio Bolsonaro para dizer que estava sendo alvo de "fogo amigo, ciúmes e inveja" por causa da nota divulgada à imprensa.
"Todos estão elogiando! Todos! Exceto, aqueles que têm ciúmes, inveja, ego, vaidade, querem protagonismo e ficam atirando nas costas, em verdadeiro fogo", disse ele a Bolsonaro.
Interrogatório
Em depoimento à PF, Wassef afirmou que foi Wajngarten quem lhe pediu para recomprar o relógio Rolex nos Estados Unidos, o que acabou lhe colocando na mira da PF.
Segundo ele, o ex-chefe da Secom ficava lhe fazendo "chamadas obsessivas e compulsivas" e prometeu que o reembolsaria em razão de seu "recente crescimento patrimonial", conforme as palavras do advogado. Wajngarten, por sua vez, ficou em silêncio diante da PF.
Em nota, Wassef afirmou que estão distorcendo informações retiradas a partir da análise do seu celular pela PF.
"Estive nos Estados Unidos a passeio e a negócios. Fiquei no país por quase um mês, onde me reuni com diferentes clientes, entre eles, Jair Bolsonaro. No período, também visitei locais turísticos em Nova York, Orlando e Miami, como mostram fotos e vídeos registrados por mim e que estão em posse da Polícia Federal. Sobre as videochamadas que a PF alega ter em meu celular com Jair Bolsonaro, é normal, visto que sou advogado dele e sempre falamos com frequência. Estão distorcendo as informações e tirando do contexto para me prejudicar", diz o texto.
Wajngarten, por sua vez, afirmou que é "absurdo" o indiciamento dele e chamou as investigações de "relatório inventivo". Em nota anterior, ele disse que as conclusões da PF sobre ele eram "arbitrária, injusta e persecutória" e "uma violência inominável e um atentado ao meu direito de trabalhar".
"Fui indiciado porque no exercício de minhas prerrogativas, defendi um cliente, sendo que em toda a investigação não há qualquer prova contra mim. Sendo específico: fui indiciado pela razão bizarra de ter cumprido a Lei", escreveu ele na rede X.