"Abin paralela": PF mira ex-servidores de agência e influenciadores do gabinete do ódio
Estão sendo cumpridos cinco mandados de prisão preventiva e sete mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal
A operação da Polícia Federal realizada nesta quinta-feira contra o monitoramento ilegal realizado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mira ex-servidores da pasta e influenciadores do chamado gabinete do ódio.
Entre os alvos da ação, estão ex-servidores cedidos para Abin e influenciadores digitais que trabalhavam no chamado "gabinete do ódio" do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Quatro prisões já foram efetuadas: Giancarlo Gomes Rodrigues; Matheus Sposito, que foi assessor da Secretaria de Comunicação Social (Secom) na gestão passada; Marcelo de Araújo Bormevet; e Richards Dyer Pozzer. Um alvo ainda está sendo procurado.
Agente da Polícia Federal
Bormevet ganhou a confiança do ex-mandatário e de Ramagem, que o nomeou como chefe do Centro de Inteligência Nacional (CIN) do órgão. Segundo as investigações, essa estrutura era utilizada para monitorar ilegalmente adversários de Bolsonaro.
No governo Lula, Bormevet também exerceu um cargo de confiança como assessor na Subchefia Adjunta de Infraestrutura da Casa Civil. Ele foi afastado do posto em janeiro por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Em abril, a Controladoria-Geral da União abriu um processos administrativo disciplinar (PAD) contra ele.
Ex-assessor da Secom
Também foi preso pela PF Mateus de Carvalho Sposito, que foi assessor da Secretaria de Comunicação Social (Secom) na gestão de Jair Bolsonaro e chegou a ser investigado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 por supostamente compor um 'gabinete paralelo' que defendia a utilização de medicamentos sem eficácia comprovada
Auxiliar de Ramagem
Outro alvo é o militar do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, que foi cedido para a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na gestão de Alexandre Ramagem (PL), hoje deputado federal pelo Rio. O subtenente já havia sido alvo em uma outra fase da operação da PF que mira as supostas ilegalidades na Abin.
Na agência, o militar trabalhava como assessor de Ramagem. Segundo a PF, Giancarlo participou do monitoramento, sem autorização judicial, do advogado Roberto Bertholdo, que por sua vez era próximo dos ex-deputados federais Rodrigo Maia e Joice Hasselmann, adversários políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Alvo da CPI da Covid
A PF prendeu ainda empresário Richards Dyer Pozzer, que também foi investigado na CPI da Covid por disseminar fake news nas redes sociais. Pozzer atua como gestor de produção industrial.
Entenda a operação
Na ação, estão sendo cumpridos cinco mandados de prisão preventiva e sete mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal, nas cidades de Brasília/DF, Curitiba/PR, Juiz de Fora/MG, Salvador/BA e São Paulo/SP. O uso do programa espião FirstMile foi revelado pelo Globo.
Nesta fase, as investigações revelaram que membros dos três poderes e jornalistas foram alvos de ações do grupo, incluindo a criação de perfis falsos e a divulgação de informações sabidamente falsas. A organização criminosa também acessou ilegalmente computadores, aparelhos de telefonia e infraestrutura de telecomunicações para monitorar pessoas e agentes públicos.
"Os investigados podem responder, na medida de suas responsabilidades, pelos crimes de organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático alheio", informou a PF, em nota.
Sob investigação
Como revelou O Globo, a Abin utilizou um programa secreto chamado FirstMile para monitorar a localização de alvos pré-determinados por meio dos aparelhos celulares. Após a reportagem, a Polícia Federal abriu um inquérito e identificou que a ferramenta foi utilizada para monitorar políticos, jornalistas, advogados e adversários do governo de Bolsonaro.
De acordo com a PF, além de policiais federais e servidores da Abin, o então diretor da pasta à época, Alexandre Ramagem, e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro são investigados por suposta participação na chamada “Abin paralela”. Eles foram alvos de mandados de busca e apreensão. Ambos negam o crime.
Em nota no início do ano, a Abin informou que “é a maior interessada” na apuração dos fatos. "Há 10 meses a atual gestão da Abin vem colaborando com inquéritos da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal sobre eventuais irregularidades cometidas no período de uso de ferramenta de geolocalização, de 2019 a 2021. A Abin é a maior interessada na apuração rigorosa dos fatos e continuará colaborando com as investigações", afirmou a agência.