Abin paralela

Alvo da Abin paralela, auditor da Receita foi exonerado após relatório de rachadinhas contra Flávio

Christiano Paes Leme Botelho foi monitorado em suposto esquema de arapongagem após defesa do senador do PL apontar irregularidades da investigação no caso da 'rachadinha'

Senador Flávio Bolsonaro - Waldemir Barreto/Agência Senado

Exonerado da chefia do Escritório da Corregedoria da Receita Federal no Rio de Janeiro (Escor07) após a elaboração do relatório que fundamentou a investigação das rachadinhas contra o senador Flávio Bolsonaro, em dezembro de 2020, o servidor Christiano Paes Leme Botelho é um dos alvos monitorados pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) paralela.

A Polícia Federal realiza nesta quinta-feira a quarta fase da Operação “Última Milha”, contra o suposto esquema de arapongagem realizado pela Abin durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O senador nega qualquer interferência no órgão federal.

Botelho deixou o cargo, à época, após o senador afirmar que seus dados fiscais foram acessados de modo ilegal antes do início formal da investigação sobre do caso que ficou conhecido como da "rachadinha" em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

O servidor comandou o Escor07 por mais de uma década, e era apontado como um nome influente no órgão, onde sobreviveu a diferentes governos.

No Diário Oficial, a exoneração apareceu como "a pedido". No entanto, a imprensa divulgou na época que a saída aconteceu devido à pressão depois das críticas dos advogados de Flávio.

Procurado pelo Globo, Botelho não quis se manifestar.

Conversa gravada
O sigilo da mais recente fase da operação foi retirado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quinta-feira.

As investigações mostram que a PF identificou um áudio em que o ex-presidente Jair Bolsonaro, o então diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, e o então ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, discutiam sobre a investigação envolvendo o senador Flávio Bolsonaro no caso da suposta "rachadinha".

Na conversa, foi debatido um plano para abrir procedimentos contra os auditores responsáveis pelo documento da Receita Federal que embasou a investigação das rachadinhas contra o senador Flávio Bolsonaro.

O diálogo foi gravado em gravada em 25 de agosto de 2020, cerca de quatro meses antes da exoneração de Botelho.

De acordo com as investigações, Ramagem disse na gravação que "seria necessário a instauração de procedimento administrativo" contra os auditores da Receita "com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos".

O relatório da PF ainda aponta que integrantes da chamada "Abin paralela" tentaram levantar "podres e relações políticas" dos auditores da Receita.

Os investigadores interceptaram conversas de integrantes da "Abin Paralela" falando sobre achar "dívidas tributárias" e "ver redes sociais de esposa" dos servidores da Receita.

Flavio Bolsonaro usou as redes sociais para negar qualquer interferência na Abin, mas afirma que os servidores da Receita Federal cometeram crime.

"Simplesmente não existia nenhuma relação minha com Abin. Minha defesa atacava questões processuais, portanto, nenhuma utilidade que a Abin pudesse ter. A divulgação desse tipo de documento, às vésperas das eleições, apenas tem o objetivo de prejudicar a candidatura de Delgado Ramagem à prefeitura do Rio de Janeiro", escreveu.

"O grupo especial de lula na Polícia Federal está tão cego para inventar crimes contra Bolsonaro que 'acusa' a Receita Federal de abrir PAD (processo administrativo disciplinar) contra servidores que cometeram crime contra mim", acrescentou o senador.