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Abin paralela: ministros do STF classificam ação clandestina contra integrantes da Corte como grave

Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luiz Fux e Luís Roberto Barroso foram alvos de esquema de espionagem durante presidência de Jair Bolsonaro

STF - Antonio Augusto/STF

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliam como "graves" as revelações feitas pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira a respeito de uma ação clandestina de vigilância por integrantes da Agência Brasileira de Inteligência ( Abin) durante o governo Jair Bolsonaro.

Os funcionários faziam parte de uma espécie de "Abin paralela", que alimentava grupo de ativistas digitais, gerando assim desinformação.

Segundo as informações da PF, o ministro Alexandre de Moraes, relator das investigações, foi um dos ministros alvos de vigilância, assim como Dias Toffoli, Luiz Fux e Luís Roberto Barroso, atual presidente da Corte.

 

Reservadamente, magistrados classificaram ao Globo como "digna de preocupação" e "reveladora" a ocorrência de uma mobilização no seio da agência de inteligência durante o governo passado contra integrantes da Corte.

Até o momento, contudo, os ministros entendem que os fatos revelados demonstram que o grupo não alcançou seus objetivos. Ou seja, ao organizar uma mobilização para atingir integrantes do STF, os funcionários nada encontraram.

Para um magistrado, o relatório da PF joga luz sobre como as ações da "Abin paralela" eram conduzidas de "qualquer forma".

As investigações da PF sugerem, por exemplo, a discussão por parte da "Abin paralela" de ações violentas contra Moraes, que incluíam dar um "tiro na cabeça" do magistrado.

Em mensagens trocadas em agosto de 2021, membros da estrutura paralela discutiam sobre um inquérito da PF, que investigava um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral, quando um dos investigados diz: “Tá ficando foda isso. Esse careca tá merecendo algo a mais”.

Outro investigado responde: “7.62” (termo que se refere à calibre de munição). Neste momento, o interlocutor acrescenta: “head shot”, que na tradução para o português significa “tiro na cabeça”.

A ação contra Barroso visava “desacreditar o processo eleitoral”. De acordo com a PF, o magistrado, que também estava à frente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi alvo da organização criminosa, que tentava criar “informações inverídicas” a seu respeito.

A PF destaca o exemplo de uma publicação de tuíte e de declarações de um jornalista. Marcelo Araújo Bormevet determinou a Giancarlo Gomes Rodrigues que “mandasse bala” e “sentasse o pau” em um assessor de Barroso. Ambos estavam, à época, cedidos à Abin.

“As ações direcionadas ao ministro da Suprema Corte em razão do exercício de suas funções além de atos de embaraçamento de investigações, também perfazem atos que atentam contra o livre exercício do Poder Judiciário. Os atos direcionados para desacreditar o sistema eleitoral não se restringiram aos ataques direcionados aos ministros, mas também contra familiares dos membros da mais alta corte de justiça”, escreve a PF, no documento.

A Polícia Federal realizou nesta quinta-feira a 4ª fase da Operação Última Milha, com o objetivo de desarticular organização criminosa voltada ao monitoramento ilegal de autoridades públicas e à produção de notícias falsas, utilizando-se de sistemas da Abin.

Foram expedidos cinco mandados de prisão preventiva e sete mandados de busca e apreensão pelo STF, nas cidades de Brasília (DF), Curitiba (PR), Juiz de Fora (MG), Salvador (BA) e São Paulo (SP). Os cinco foram presos. O uso do programa espião FirstMile, que iniciou a investigação, foi revelado pelo GLOBO.