Celebração à Nossa Senhora do Carmo
A Ordem dos Carmelitas, que edificou o seu grandioso convento em Olinda, recebeu em doação no século XVI, uma ermida construída no alto de uma colina, junto ao rossio da vila, do colono Clemente Vaz Moreira. Entre 1580 a 1640, Portugal esteve sob o domínio da monarquia espanhola durante o reinado de Felipe II, o qual fora aclamado pelas cortes portuguesas, em 1581, no castelo de Tomar. No ano de 1588, por provisão do Donatário Jorge de Albuquerque Coelho e tendo o padre Pedro Viana como vigário e representante da Ordem, iniciou-se a obra do edifício sendo citado por Germain Bazin como o único em que ainda podemos encontrar vestígios do espírito arquitetônico da Renascença (espanhola), baseado em projeto calcado naqueles da Contra-Reforma.
Após o incêndio em Olinda provocado pelos holandeses, em 1631, e as consequentes demolições de inúmeros edifícios da cidade, parte do material demolido e aproveitável foi transportado para o Recife, sendo utilizado nas novas construções. Das mutilações sofridas pelo convento podemos observar aquelas que arruinaram a sua fachada, um belo pórtico de colunas jônicas que emolduram a sua porta de entrada, compondo do lado norte o convento e, do lado sul, a igreja da Ordem Terceira, dedicada à Santa Teresa de Ávila, conforme pintura de Franz Post, datadas de 1638 e 1639. Encontrava-se, portanto, o convento e a igreja dos frades carmelitas em posição destacada, cobrindo uma colina inteira, diante do rossio da Vila de Olinda.
Com a expulsão dos holandeses, em 1654, regressaram os frades ao seu antigo convento em ruínas, dando início às obras de reconstrução. Com nave única e cinco capelas profundas de cada lado da nave, apresenta a peculiaridade de sua última capela do lado do Evangelho, sob o coro, conter um altar de cantaria (em calcário) do século XVI, semelhante aos dois da Igreja da Graça, na mesma cidade. Em sua composição de frente, apresenta um pequeno adro com cruzeiro à frente, bastante mutilado e diminuído, datado de 1704.
Entre os anos de 1642/43, o conde Nassau ergueu nos arredores da cidade Maurícia, às margens do rio Capibaribe, em área pertencente à Companhia das Índias Ocidentais, a sua bela casa de campo da Boa Vista, o Palácio da Boa Vista, projeto do arquiteto Pieter Post. Após 1654, esta residência fora entregue por doação à Ordem dos Carmelitas, sendo ali instalado o hospício do Recife. Por volta de 1679, nas terras doadas à Ordem, os frades, então, iniciaram a construção do seu convento, com uma capela dedicada a Nossa Senhora do Desterro e uma senzala. Com a inestimável ajuda do senhor Diogo Cavalcanti Vasconcelos, senhor do Engenho São Francisco da Várzea, foi erguida a capela-mor da nova igreja, dedicada a Nossa Senhora do Monte Carmelo, tendo sido as obras prolongadas até 1767, (data inscrita em um medalhão no seu frontispício), resultando em um notável edifício conventual. Em seu imenso adro, que se transforma com o seu prolongamento no Pátio do Carmo, celebra-se todos os anos com grande aglomeração popular, no dia 16 de julho, o dia da padroeira da cidade do Recife, em devoção a Nossa Senhora do Carmo, uma das festas religiosas mais notáveis do País.
*Arquiteto, membro do CEHM, Membro do Instituto Arqueológico e Professor Titular da UFPE
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