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Atriz de 'Barrados no Baile' morre aos 53 anos: quando rastreio de câncer de mama deve começar?

EUA anteciparam orientação para mamografias de rotina mas, no Brasil, idade sobre início ainda gera debate

Shannen Doherty morreu aos 53 anos - Reprodução IMDB/Redes sociais

A atriz americana Shannen Doherty, famosa pela série Barrados no Baile, na década de 1990, morreu aos 53 anos, no sábado (13), após uma batalha de quase 10 anos contra o câncer de mama. Ela foi diagnosticada em 2015, com apenas 44 anos.

O caso de Doherty exemplifica o crescimento da doença entre mulheres jovens e o debate sobre antecipação do rastreio, como fez os Estados Unidos.

Os EUA adotaram novas regras para o início das mamografias de rotina. O país recomendava o rastreamento para mulheres saudáveis a partir dos 50 anos, assim como o Instituto Nacional do Câncer (Inca) define no Brasil.

Agora, a Força-tarefa para Serviços Preventivos dos EUA passou a indicar o exame a todas com 40 anos ou mais, repetidos a cada dois anos.

A autoridade americana cita dois motivos para a alteração das regras: o crescimento de diagnósticos em mulheres mais jovens e evidências que apontam para os benefícios no controle da doença em iniciar o rastreio mais cedo.

No Brasil, entidades como a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) já adotam a faixa etária como ponto de partida desde 2012.

— Temos uma frequência de câncer de mama de mais ou menos 25% entre 40 e 50 anos. Se nós postergamos o rastreamento para 50, como é o preconizado pelo Ministério da Saúde e pelo Inca, nós negligenciamos o diagnóstico precoce para boa parte das pacientes. A SBM já questiona essa recomendação do Inca há muito tempo de uma forma bem intensa. Existe uma conversa com as instituições, mas que até agora não levou a mudanças — diz Rosemar Rahal, mastologista e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).

No entanto, uma reavaliação de evidências pelo Inca ainda neste ano recomendou a manutenção do rastreamento a partir dos 50.

Renata Maciel, chefe da Divisão de Detecção Precoce da Coordenação de Prevenção e Vigilância do instituto, explica que, embora o aumento de casos em mais jovens seja um consenso, faltam estudos clínicos randomizados que comprovem um impacto positivo superior a possíveis riscos de ampliar o rastreamento.

Isso porque os trabalhos apontados pela Força-tarefa dos EUA são modelos matemáticos, que fazem uma previsão, diz Maciel. Já para incorporar com embasamento suficiente uma estratégia ao Sistema Único de Saúde (SUS), ela diz que são necessários trabalhos do tipo que acompanham a iniciativa implementada ao longo do tempo e fazem uma comparação.

— Até o momento, os ensaios randomizados mostraram que a melhor faixa para o rastreamento, com base na efetividade para reduzir mortalidade, se mantém entre 50 e 69 anos. Os estudos de modelagem mostram o que poderia acontecer, mas não trazem evidências muito claras em relação aos riscos. Sabemos que o câncer ocorre em mulheres abaixo de 50 anos, mas na balança de riscos e benefícios, vemos muitos resultados falso-positivos que podem levar a biópsias desnecessárias. E existe essa questão do sobrediagnóstico, que é identificar um câncer que não necessariamente iria evoluir e causar um sobretratamento — diz.

No entanto, especialistas ouvidos pelo GLOBO veem o cenário de forma diferente. Ainda que faltem estudos clínicos randomizados, que demandam mais tempo e podem demorar para refletir uma transição no perfil demográfico da doença, eles defendem que o número de casos mais jovens já deveria ser suficiente para reduzir a idade do rastreamento.

Carlos Henrique dos Anjos, oncologista clínico e membro do Comitê de Tumores Mamários da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), que também apoia os exames a partir dos 40, reforça que a tendência apresentada pela Força-tarefa dos EUA é realidade no Brasil.

Ele cita um estudo do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) que constatou que, entre as pacientes atendidas na unidade, o percentual daquelas com idades até mesmo abaixo dos 40 cresceu de 7,9%, em 2009, para 21,8% dos diagnósticos, em 2020.

— À medida que vemos um órgão bastante sério como o dos EUA diminuir a idade do rastreamento, cabe sim a discussão no nosso país se também não deveríamos reduzi-la. E temos literatura médica que apoia isso — afirma.

Segundo dados do DATASUS, os casos de câncer de mama entre brasileiras de 40 a 49 anos cresceram 35% nos últimos cinco anos e, em 2023, representavam de fato 22% dos 61 mil diagnosticados no país.

Batalha da atriz
Shannen Doherty foi diagnosticada com câncer de mama em 2015. Na época, a atriz afirmou que sua atitude em relação à doença era "muito positiva" e agradeceu o apoio recebido dos fãs. Dois anos depois, ela publicou uma foto em sua conta no Instagram com uma mecha de cabelo na mão.

Em 2020, a atriz anunciou no programa "Good Morning America" que o câncer de mama havia voltado, dessa vez no estágio 4. A atriz se submeteu a uma mastectomia e a sessões de radioterapia e quimioterapia.

No ano passado, a atriz contou que exames mostraram metástases no meu cérebro.

— Eu não tenho medo da morte porque sei para onde estou indo, conheço as pessoas que vou encontrar. Acho que teria medo da morte se não fosse uma boa pessoa, mas sou. Não quero morrer, essa é a diferença — ela desabafou no fim do ano passado.