FUTEBOL

Alerta ligado: problemas na Copa América expõem necessidade de ajustes para o Mundial de 2026

Estados Unidos, que foi anfitriã do torneio continental de seleções, também irá sediar a próxima Copa do Mundo e teve um evento teste repleto de deficiências de organização

Final da Copa América ficou marcada pela invasão em massa de torcedores sem ingresso - Maddie Meyer/Getty Images via AFP

A Copa América de 2024, realizada nos Estados Unidos, chegou ao fim no último domingo. A Argentina foi bicampeã consecutiva da competição, após vencer a Colômbia por 1 a 0.

Apesar da final ter sido inédita na história do torneio, o futebol não foi o protagonista da decisão. As cenas das invasões em massa de torcedores sem ingresso ao palco do jogo, o Hard Rock Stadium, em Miami, que atrasaram o seu início em quase 1:30h, marcaram o fim de um torneio repleto de problemas que iam desde o tamanho dos campo, até graves questões de segurança.

Há dois anos da Copa do Mundo, a anfitriã deu um forte recado dos diversos quesitos de organização que precisam ser concertados para receber o evento, em um fim de semana em que o candidato à presidência do país, Donald Trump, foi atingido por um tiro na orelha, enquanto discursava em comício da sua campanha, na Pensilvânia.

Dentre todos os problemas da última edição da Copa América, a de segurança foi que chamou mais atenção. Muitas pessoas foram vistas invadindo o Hard Rock Stadium para tentar acompanhar a final, das mais diversas maneiras.

Até os tubos de ventilação do local viraram um meio de entrada ilegal. Não foi feito um isolamento do estádio para aqueles que tinham o ingresso em mãos, e até filas organizadas de pessoas para invadir o palco da final foi vista.

Apesar de ser a principal organizadora do evento, a Conmebol não estava responsável pela parte de segurança, devido as diferentes leis e protocolos nos estados americanos.

A confederação enviou um documento com as recomendações para que as partidas ocorressem sem maiores problemas. Dentre elas estava a solicitação para que fosse feito um isolamento dos estádios, não acatada pelos órgãos locais.

Em nota, a entitade máxima do futebol sul-americano lamentou “os atos de violência provocados por indivíduos mal-intencionados tenham manchado uma final que estava pronta para ser uma grande festa do esporte.”

Não foi a primeira vez que um partida oficial de seleções contou com uma tentativa de invasão de torcedores sem ingresso. Na partida entre Chile e Espanha, na fase de grupos da Copa do Mundo do Brasil, em 2024, um grupo de 88 pessoas tentou entrar no Maracanã, palco do duelo, de maneira irregular.

Durante a tentativa houve muita correria e gritos na área, onde trabalhavam os jornalistas no estádio. Torcedores forçaram uma das grades da cerca que protegia a área. Duas paredes foram derrubadas e o grupo acabou contido pelos seguranças particulares da Fifa.

Depois de controlados, todos foram conduzidos por PMs do Batalhão Especial de Policiamento em Estádios (Bepe) para a delegacia.

A diferença da efetividade da segurança do Mundial do Brasil, disputado há 10 anos, em relação a última edição da Copa América pode ser demonstrada no número de efetivos. Apenas 550 policiais estavam à disposição da final do torneio continental. Na grande decisão Copa do Mundo de 2014, quase 26 mil agentes fizeram parte do esquema que garantiu a ordem no evento.

Confusão na semifinal
Antes da grande decisão, a semifinal entre Colômbia e Uruguai já era um forte recado do que estaria por vir. Após a vitória dos colombianos, os jogadores da seleção uruguaia tiveram que ir até a arquibancada para proteger seus familiares de sofrerem violência por parte da torcida adversária. As cenas de alguns atletas chegando as vias de fato chocaram o noticiário mundial.

A Conmebol abriu um processo de investigação para apurar os responsáveis pela confusão que ocorreu ao final do jogo, podendo punir os jogadores do Uruguai, o que revoltou o comandante da seleção.

Em coletiva de imprensa realizada depois do duelo, Marcelo Bielsa criticou a entidade afirmando que seus atletas foram obrigados a tomar tal atitude.

Campos desagradaram
Não foi só com as questões de segurança que o treinador celeste ficou insatisfeito. Bielsa, não poupou críticas à organização do torneio, em relação aos campos disponibilizados para treinamento e os das partidas disputadas. A qualidade do gramado foi constantemente questionada, e o comandante da seleção uruguaia não poupou críticas.

— Não há nada do que se queixar, mas não pode seguir enganando que os campos estão perfeitos! Fazem uma coletiva de imprensa para mentir explicitamente. A chefe dos campos de jogo, que sei quem é, a conheço perfeitamente assim como o mal que faz, dá uma entrevista para dizer que é uma questão visual. Eu tenho uma coleção de fotos que mostram que a grama não está unida. Deveriam ter ido aos campos de treinamento e nos dizer: 'Desculpem, rapazes, isso não está apresentável, não se pode treinar aqui e entendemos' — disse Bielsa.

Os problemas dos campos não ficaram restritos a qualidade do gramado. Devido a falta de espaço em alguns estádios selecionados para a competição, todos tiveram a medida em 100 metros de comprimento por 64 metros de largura, menores do que o padrão de torneios internacionais (105 x 68), recomendados pela Fifa.

Dos 14 estádios da Copa América, oito vão receber partidas do Mundial de 2026: Mercedes-Benz, AT&T, NRG, SoFi, Levi's, MetLife, GEHA Field at Arrowhead e Hard Rock.

Todos eles terão as medidas oficiais da Fifa e o cuidado padrão das outras edições da maior competição de seleções do mundo.

No entanto, os problemas de segurança vistos no último deles acendem o alerta para que tudo seja resolvido até o início da Copa do Mundo.