Israel segue bombardeando Gaza, apesar de críticas dos EUA por alto número de vítimas civis
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, um desses bombardeios, realizado em um posto de gasolina em Al Mawasi, no sul da Faixa, deixou 17 mortos
As autoridades da Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, afirmaram que dezenas de palestinos morreram nesta terça-feira (16) em vários bombardeios israelenses, horas depois de Washington criticar o governo israelense pelo alto número de vítimas civis em sua guerra contra os islamistas.
O porta-voz da Defesa Civil em Gaza, Mahmud Basal, disse que três bombardeios aéreos israelenses mataram pelo menos 44 pessoas e feriram dezenas no intervalo de uma hora em todo o território palestino. Israel admitiu ter realizado dois desses ataques.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, um desses bombardeios, realizado em um posto de gasolina em Al Mawasi, no sul da Faixa, deixou 17 mortos.
O Crescente Vermelho Palestino, por sua vez, indicou que cinco pessoas morreram em um bombardeio quase simultâneo na escola Al Razi, administrada pela ONU, no campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza.
Por fim, a Defesa Civil de Gaza informou sobre outro bombardeio realizado perto de uma rotatória no norte da Faixa, mas não forneceu nenhum balanço de vítimas.
Horas antes, o porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Matthew Miller, afirmou que o número de vítimas civis no conflito "ainda é inaceitavelmente elevado".
Desencadeada em 7 de outubro após o ataque do Hamas em solo israelense, a guerra não cessa e as esperanças de uma trégua diminuem, apesar dos esforços dos países mediadores - Catar, Egito e Estados Unidos - para alcançar um cessar-fogo.
Um dirigente do Hamas, que denunciou os "massacres" cometidos por Israel "contra civis desarmados" em Gaza, anunciou no domingo que seu movimento suspendia sua participação nas negociações de paz indiretas, embora tenha se dito "disposto" a retomá-las quando o governo israelense "mostrar seriedade para concluir um acordo".
Aumentar a pressão sobre o Hamas
Nesta terça-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, defendeu que seria necessário redobrar a pressão sobre o Hamas.
"O Hamas está sob pressão. Sofre pressão constante porque estamos lhe causando danos, eliminamos seus principais comandantes e milhares de seus terroristas. [...] É exatamente o momento de aumentar ainda mais a pressão", declarou Netanyahu durante uma cerimônia oficial no Monte Herzl, em Jerusalém.
Netanyahu sempre sustentou que continuaria com a guerra até destruir o Hamas, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia, e conseguir a libertação de todos os reféns.
O Exército israelense afirmou que seus aviões bombardearam "aproximadamente 40 alvos terroristas" em Gaza, incluindo "postos de franco-atiradores, postos de observação, estruturas militares do Hamas, infraestrutura terrorista e edifícios carregados de explosivos".
O conflito estourou quando comandos islamistas mataram 1.195 pessoas em outubro de 2023, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo um levantamento baseado em dados oficiais israelenses.
O Exército de Israel estima que 116 pessoas permaneçam em cativeiro em Gaza, 42 das quais teriam morrido.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que já matou 38.713 pessoas em Gaza, também civis em sua maioria, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas.
Acusações de tortura
O Exército israelense também deteve uma multidão de moradores de Gaza, que denunciaram torturas, estupros e outros abusos durante o seu cativeiro, algo que as autoridades israelenses negam.
O advogado palestino Khaled Mahajneh disse na segunda-feira que alguns prisioneiros contaram que os guardas israelenses aplicaram choques elétricos nos detidos.
Mahajneh citou o relato do jornalista Mohammed Arab, do jornal em inglês Al Araby Al Jadeed, que afirmou que no centro de detenção de Sde Teiman, no sul de Israel, viu um prisioneiro forçado pelos carcereiros a "deitar-se de bruços completamente nu, e depois introduziram em seu ânus uma mangueira de extintor e ativaram o dispositivo".
Cinco organizações israelenses de direitos humanos denunciaram perante os tribunais as condições do campo no deserto de Sde Teiman, que abriga cidadãos de Gaza detidos. Mas os funcionários israelenses insistem em que sempre agem dentro da legalidade.
A guerra obrigou 90% dos 2,4 milhões de moradores da Faixa a abandonarem suas casas. Muitos buscaram refúgio nas escolas administradas pela ONU. Desde 6 de julho, sete delas foram bombardeadas por Israel, que diz agir contra combatentes islamistas que estariam "escondidos" nesses locais.
"Por que miram contra nós, que somos pessoas inocentes?", perguntou Umm Mohammed al Hasanat, um palestino refugiado, junto com sua família, em uma escola da ONU no campo de Nuseirat, atingida por um dos bombardeios.
"Não temos armas, simplesmente estamos aqui, tentando encontrar [um lugar] seguro, para nós e para nossos filhos", declarou.