Mario Frias repassa verbas da cota parlamentar para diretor de filme sobre Bolsonaro
Montante direcionado à empresa de Doriel Franscisco é descrito como gastos para impresão de folders e produção de vídeos para as redes sociais
O deputado federal Mario Frias (PL-SP), ex-secretário especial da Cultura no governo de Jair Bolsonaro, fez repasses de quase R$ 20 mil, através de sua cota parlamentar, para a empresa Dori Produções, responsável pela produção de um documentário sobre a vida do ex-presidente.
A verba foi encaminhada por meio de cincos pagamentos entre os meses de abril e junho deste ano. As despesas, no entanto, são descritas como estratégias para a "divulgação da atividade parlamentar".
As notas fiscais das transferências, no valor total de R$ 19.932, indicam que os repasses seriam destinados a impressão de 36.100 folders e para a "produção e finalização de vídeos" que deveriam ser publicados nas redes sociais do deputado.
Entre os dias 4 e 19 de abril, foram destinados para a produtora R$ 9.432,00 da verba recebida pelo deputado para custear despesas típicas do exercício do mandato. Novas transferências, nos valores de R$ 7,5 mil e R$ 3 mil, foram realizadas de 17 a 20 de junho.
Documentário
Destinatário final das transferências, o dono da produtora, Doriel Franscisco, está encarregado de produzir o documentário "A Colisão dos Destinos", que reúne histórias da vida de Bolsonaro contadas por familiares e políticos aliados. O primeiro trailer da produção foi divulgado neste sábado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro em seu perfil na rede social X. No conteúdo, Mario Frias aparece como responsável pelo argumento do filme, isto é, pela estruturação da história a ser contada.
Não é possível saber, pelas notas fiscais, se os repasses do mandato de Frias têm relação direta com a produção do documentário. Tanto o deputado quanto Doriel Franscisco não responderam ao contato da reportagem.
— Se, entre as atividades econômicas da empresa, não constar nada ligeiramente relacionado à produção de folders, por exemplo, pode ser um indício de irregularidade — explica Marina Iemini Atoji, diretora da ONG Transparência Brasil, frisando que o uso da verba parlamentar para o financiamento do documentário não é, necessariamente, vedado.
Já a professora Mayra Goulart, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pondera que o uso da verba parlamentar para tal finalidade poderia significar uma tentativa de Mario Frias de se aproximar e firmar vínculos com eleitores bolsonaristas. A pesquisadora enxerga a contribuição do deputado no projeto como uma "retribuição" através da colaboração para o filme.
— É muito determinante que não é legítimo usar recurso público para uma finalidade como essa, o que não significa que o eleitor de Mário Frias, que é alguém provavelmente muito tocado pelo bolsonarismo, vá considerar ilegítimo ou algo reprovável. Isso não necessariamente vai retirar votos dele, nem fazer que ele seja malquisto pelos seus eleitores — opina.
Prestação de contas questionada
Não é primeira vez que a prestação de contas realizada por Mário Frias é alvo de polêmicas. Em 2022, o Ministério Público junto ao TCE solicitou a abertura de uma investigação para apurar gastos considerados "extravagantes" durante uma viagem do então secretário especial da Cultura para Nova Iorque.
Como noticiou o colunista do GLOBO Lauro Jardim à época, Frias teria feito uma viagem entre os dias 15 e 18 de dezembro de 2021 que custou R$ 39 mil aos cofres públicos. Somente os voos de ida e volta dele custaram R$ 26 mil (R$ 13 mil cada trecho), e o secretário recebeu R$ 12,8 mil em diárias. Além disso, o ex-ator recebeu dos cofres públicos R$ 1.849,87 de ressarcimento de um teste de Covid-19, doença causada pelo coronavírus, realizado durante o deslocamento.
O motivo para a viagem, segundo informações disponibilizadas no Portal da Transparência, teria sido a discussão de um projeto de audiovisual com o empresário Bruno Garcia e com o lutador de jiu-jitsu Renzo Gracie.