Olimpíadas: da inexistência à predominância, a evolução da presença feminina em cem anos
Nas Olimpíadas de Paris 1924, nenhuma mulher brasileira esteve presente; cem anos depois, as atletas representam 55% do Time Brasil, composto por 276 competidores
O processo de inserção das mulheres no esporte foi lento e gradual. É insano pensar que o Brasil, conhecido como “país do futebol”, negou por mais de 40 anos o direito da presença feminina nos gramados, veto que teve início na ditadura do Estado Novo, implementada pelo presidente da época, Getúlio Vargas.
No entanto, a falta de representatividade feminina no esporte antecede o veto de Getúlio. Nos Jogos Olímpicos de Paris, realizados em 1924, que marcaram a segunda participação do Brasil nas Olimpíadas, a delegação brasileira levou à capital francesa cerca de 12 atletas - e nenhuma mulher.
Na edição seguinte, em Amsterdã, o país não participou da competição, alegando crise econômica. Foi somente na sua terceira participação, em Los Angeles-1932, que uma figura feminina ingressou na delegação brasileira.
Entre 87 atletas, Maria Lenk foi a brasileira e sul-americana pioneira a participar de uma edição das Olimpíadas. Aos 17 anos, a nadadora participou do torneio e disputou as provas de 100m livre e 200m peito.
Na edição seguinte, sediada em Berlim no ano de 1936, a natação continuou ganhando a presença das mulheres.
A pioneira Maria fez parte novamente da equipe do esporte, ao lado de Piedade Coutinho, que conquistou o quinto lugar na prova dos 400m livre.
Em 1948, a edição de Londres contou com 15,71% de mulheres na delegação, totalizando 11 atletas. Desta vez, um novo feito inédito: a primeira mulher negra ingressou no time brasileiro.
Aos 20 anos, Melânia Luz correu os 200m do atletismo, ficando em quarto lugar em sua série, além de fazer parte da equipe do revezamento 4x100m.
Depois de conquistar o quinto lugar nos Jogos de Berlim 1936 - melhor resultado feminino na competição até hoje - Piedade Coutinho disputou mais uma vez os 400m livre.
A nadadora terminou em sexto lugar e marcou o melhor resultado da natação brasileira na Inglaterra.
Retrocesso
Quatro anos depois, em Helsinque, o número de mulheres diminuiu drasticamente. Entre 108 atletas, apenas 4,62% eram mulheres, totalizando cinco.
Na edição seguinte, sediada em Melbourne no ano de 1956, a participação continuou em queda.
Desta vez, Mary Dalva Proença foi a única mulher na delegação brasileira. A atleta terminou em 16° lugar na plataforma de 10m dos saltos ornamentais.
O número de mulheres continuou em decadência nos Jogos de Roma, em 1960, e Tóquio, em 1964.
Na Itália, o Brasil foi representado por apenas Wanda dos Santos, do atletismo. No Japão, Aída dos Santos representou a nação brasileira nos saltos.
Nas edições seguintes, sediadas no México (68), Munique (72) e Montreal (76), o total de mulheres participantes somadas nos três eventos foi de 15. Em 1980, os Jogos de Moscou contaram com sete mulheres e um feito gigante.
Pela primeira vez na história das Olimpíadas, o Brasil participou de uma competição feminina de esportes coletivos: a seleção de vôlei. O País ficou em sétimo lugar, com apenas uma vitória.
Ascensão feminina
As Olimpíadas de 84 marcaram o início da ascensão da presença feminina nos Jogos Olímpicos.
Em Los Angeles, 22 mulheres brasileiras foram convocadas, representando 14,5% da delegação. Nesta edição, o tiro esportivo feminino inaugurou suas primeiras provas olímpicas.
Representando o Brasil, Débora Srour ficou em sétimo lugar, marcando o melhor resultado de uma mulher do país na modalidade até os dias de hoje.
Na edição seguinte, sediada em Seul-1988, 35 brasileiras marcaram participação.
Em Barcelona, no ano de 1992, 51 mulheres faziam parte do time brasileiro, representando 25,88% dos atletas.
Na Espanha, a seleção feminina de vôlei ficou em quarto lugar, tornando-se a primeira equipe de esporte coletivo para mulheres a disputar uma medalha.
Em Atlanta, no ano de 1996, 20,58% da delegação brasileira foi composta por mulheres, totalizando 66 atletas. Esta edição marcou a primeira vez da presença de brasileiras no pódio.
Na final entre duas duplas brasileiras, Jacqueline e Sandra Pires conquistaram o ouro no vôlei de praia, enquanto Mônica e Adriana ficaram com a medalha de prata.
O basquete feminino ficou com a prata, enquanto o vôlei conquistou o bronze.
Anos 2000 concretiza busca pela igualdade
O século 21 chegou com a busca pela igualdade entre os gêneros, principalmente no esporte.
A partir dos anos 2000, a presença feminina nas modalidades olímpicas se fortificou, chegando a quase 50% em todas as edições seguintes.
Em Sidney (2000), 94 mulheres brasileiras estiveram nos Jogos Olímpicos, representando 45,85% da delegação. No quadro de medalhas, quatro conquistas femininas.
No vôlei de praia, Adriana Behar e Shelda ficaram com a prata, enquanto Adriana e Sandra Pires conquistaram o bronze.
Nos esportes coletivos, o basquete e o vôlei ficaram em terceiro lugar, trazendo a medalha de bronze para o Brasil.
Quatro anos depois, em Atenas, 49,39% da delegação brasileira foi representada por mulheres, com 122 convocadas no total.
A participação rendeu duas medalhas de prata - uma no vôlei de praia, com Adriana Behar e Shelda - e outra com o futebol feminino, a primeira conquista do esporte.
Pequim 2008 foi marcado por um feito inédito. Pela primeira vez, as mulheres conquistaram mais ouros do que os homens.
A seleção brasileira feminina de vôlei conquistou a medalha de ouro sob o comando de José Roberto Guimarães. No salto em distância, Maurren Maggi também conquistou o primeiro lugar.
No futebol, a seleção feminina conquistou a segunda medalha de prata consecutiva.
Quatro mulheres conquistaram o bronze: Ketleyn Quadros (judô), Isabel Swan e Fernanda Oliveira (vela) e Natália Falavigna (taekwondo). A edição contou com 133 mulheres.
Em Londres 2012, 123 mulheres foram convocadas para representar o Brasil nos Jogos Olímpicos.
Depois de uma conquista inédita na edição de Pequim, as meninas do vôlei garantiram o bicampeonato no ouro após vencer os Estados Unidos. Sarah Menezes, no judô, também faturou a medalha de ouro.
A conquista inédita no pentatlo moderno também marcou a edição.
A pernambucana Yane Marques se manteve entre as três primeiras colocadas e conquistou a medalha de bronze.
Mayra Aguiar (judô), Adriana Araújo (boxe), e Juliana e Larissa (vôlei de praia) também garantiram o terceiro lugar no pódio.
Brasil: o país do futebol e de todos os esportes
Em 2016, o Rio de Janeiro sediou a 31ª edição dos Jogos Olímpicos, com o marco da maior presença de mulheres brasileiras nas Olimpíadas: 209 no total, representando 44,9% dos atletas.
Rafaela Silva, no judô, conquistou a medalha de ouro.
Martine Grael e Kahena Kunze, que competiram na classe 49erFX na vela, também ficaram com o primeiro lugar no pódio.
Ághata e Bárbara conquistaram a medalha de prata no vôlei de praia. Mayra Aguiar (judô) e Poliana Okimoto (maratona aquática) ficaram com o bronze.
Na última edição, sediada em Tóquio 2020, 140 mulheres brasileiras integraram o Time Brasil, faturando nove medalhas ao total.
Na modalidade estreante, no skate, Rayssa Leal, a “fadinha”, conquistou o segundo lugar no pódio na classe street, se tornando a medalhista olímpica mais jovem da história brasileira, com apenas 13 anos de idade.
Marco inédito também na ginástica. Rebeca Andrade conquistou as primeiras medalhas na modalidade para o Brasil: ouro no salto e prata no individual geral.
O primeiro lugar no pódio também ficou com Ana Marcela Cunha, na maratona aquática, além do bicampeonato na classe 49erFX de vela, com Martine Grael e Kahena Kunze.
No vôlei, a seleção feminina ficou com a medalha de prata após ser derrotada para os Estados Unidos. Beatriz Ferreira (boxe) também ficou com o segundo lugar do pódio.
A primeira medalha olímpica do tênis brasileiro veio das mãos de Laura Pigossi e Luisa Stefani, que conquistaram o terceiro lugar no pódio na categoria duplas femininas.
Pela terceira vez seguida, Mayra Aguiar conquistou a medalha de bronze no judô.
Paris com predominância feminina
A edição dos Jogos Olímpicos de 2024 em Paris ainda não começou, mas já tem um marco inédito para as mulheres brasileiras.
Pela primeira vez na história, a presença feminina será superior no Time Brasil, representando um total de 55%.
Dos 276 atletas, 153 são mulheres e 123 homens.
A maior presença feminina na delegação brasileira olímpica se deve ao bom rendimento recente das seleções nos esportes coletivos.
As mulheres conquistaram a classificação para competir no futebol, vôlei, handebol e rugby.
Clique aqui e confira a lista completa de atletas do Time Brasil.
Fonte: Almanaque Olímpico