Convocação de homens ultraortodoxos começará domingo em Israel
Anúncio ocorre após decisão histórica da Suprema Corte ordenar o fim da isenção do serviço militar da comunidade, que já durava décadas
As Forças Armadas de Israel começarão a enviar as primeiras ordens de alistamento para homens ultraortodoxos no domingo, informou o ministro da Defesa, Yoav Gallant.
O anúncio ocorre após uma decisão histórica da Suprema Corte ordenar o fim da isenção do serviço militar da comunidade, que já durava décadas.
A convocação será feita em etapas, mas os jovens estão sendo instruídos por rabinos e conselheiros espirituais a não responder.
Aproximadamente mil homens ultraortodoxos com idades entre 18 e 26 anos serão convocados na primeira parcela de recrutas, disse Gallant nesta quarta-feira, como parte de uma tentativa de aumentar gradualmente o recrutamento, evitando um confronto direto com a comunidade.
Pelo menos mais dois grupos de recrutas em potencial se juntarão a eles nas próximas semanas, informou o gabinete do ministro em um comunicado.
Após o anúncio, rabinos do partido israelense ultraortodoxo sefardita Shas, conclamaram os alunos da yeshiva (o estudo dos textos sagrados do judaísmo) a não responderem a nenhum aviso de convocação, ordem ou convocação do exército e a não comparecerem ao centro de instrução das Forças Armadas, enquanto não houver uma lei que estabeleça sua situação.
O mesmo fez o rabino Dov Landau, líder espiritual da corrente lituana da comunidade ultraortodoxa, na semana passada.
O serviço militar é obrigatório em Israel, mas os ultraortodoxos poderiam evitá-lo se dedicassem o seu tempo ao estudo dos textos sagrados do judaísmo, uma isenção estabelecida por David Ben Gurion, ex-primeiro-ministro do país, após a criação do Estado, em 1948.
Em junho, porém, a Suprema Corte determinou que o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu deveria começar a recrutar homens ultraortodoxos — uma decisão que está aumentando a pressão sobre a sua coalizão de governo, que depende do apoio de dois partidos ultraortodoxos que apoiam a isenção, apesar de Israel estar em guerra em Gaza.
Uma análise recente das Forças Armadas de Israel sobre os homens ultraortodoxos revelou que cerca de 6 mil deles estão trabalhando ou abandonaram o estudo dos textos sagrados e que, portanto, podem ser alvos de recrutamento, segundo o jornal israelense Haaretz.
O exército israelense se comprometeu a recrutar um total de 4.800 nos próximos 12 meses, a grande maioria deles solteiros.
Polarização
A isenção ultraortodoxa há muito tempo polariza Israel, onde a maioria dos jovens judeus de 18 anos, homens e mulheres, são convocados para o serviço obrigatório.
Muitos ultraortodoxos consideram inaceitável enviar seus filhos para o serviço militar, temendo que eles possam ser influenciados pelo secularismo ou por interpretações mais flexíveis da prática religiosa.
Mas, à medida que a população ultraortodoxa cresceu para mais de um milhão — mais de 13% do país —, outros israelenses judeus ficaram cada vez mais frustrados e ressentidos, condenando o que consideram um arranjo fundamentalmente injusto.
A guerra em Gaza, agora em seu décimo mês, alimentou ainda mais essas frustrações. Centenas de milhares de reservistas israelenses foram convocados, passando semanas ou meses longe de casa.
Mais de 600 soldados israelenses morreram desde os ataques liderados pelo Hamas em 7 de outubro.
E, enfrentando ameaças em várias frentes, as Forças Armadas de Israel disseram que terão de estender o serviço militar para recrutas e reservistas para atender às necessidades de segurança do país.
O exército israelense disse que abriria três centros principais de recrutamento para os ultraortodoxos nas próximas semanas.
A fim de cumprir as crenças rígidas da comunidade sobre a segregação de gênero, os militares trariam mais oficiais do sexo masculino para se reunir com os recrutas em potencial para avaliação, disseram os militares.
Os partidos ultraortodoxos comandam 18 dos 64 assentos na coalizão de Netanyahu, o que significa que poderiam derrubar seu governo, se quisessem.
Para acalmar seus aliados ultraortodoxos, o primeiro-ministro prometeu aprovar uma nova lei que consagraria a isenção e contornaria a decisão da Suprema Corte.
Mas Netanyahu poderia enfrentar uma reação negativa de sua própria base, alguns dos quais acham que continuar a isentar os ultraortodoxos não é mais viável.
Analistas políticos avaliam também que sair da coalizão de Netanyahu provavelmente não melhoraria as perspectivas dos ultraortodoxos, já que os opositores do premier geralmente apoiam o recrutamento deles.
Resolução contra o Estado da Palestina
O Parlamento israelense, que tem 120 membros, adotou uma resolução nesta quinta-feira por 68 votos a favor, dizendo que a criação de um Estado palestino nos territórios ocupados por Israel “perpetuaria o conflito”, “desestabilizaria a região” e representaria uma “ameaça existencial” ao Estado judeu.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que estava “muito decepcionado” com tal resolução.
— O secretário-geral está muito decepcionado com a decisão do Knesset [parlamento israelense] — disse o porta-voz Stephane Dujarric aos repórteres, lembrando que a solução de dois Estados vivendo “lado a lado em paz e segurança” é o ‘único caminho viável para uma paz duradoura para o povo de Israel e da Palestina’.