Após fala de Maduro sobre banho de sangue, Brasil só atuará na Venezuela se for chamado, diz governo
Declaração de Maduro sobre banho de sangue em caso de derrota pode ser retórica, afirmam interlocutores
O governo brasileiro avalia que as últimas declarações do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, podem ser apenas retórica, devido aos resultados das pesquisas de opinião que deixam o líder venezuelano atrás do seu principal adversário, Edmundo González.
Madurou afirmou na quarta-feira que o país pode enfrentar um "banho de sangue" e uma "guerra civil" caso ele não seja reeleito na votação do próximo dia 28 de julho.
A declaração acontece em um momento em que a oposição denuncia sofrer cada vez mais repressão por parte do governo — incluindo uma denúncia de atentado, nesta quinta-feira, feita pela líder oposicionista María Corina Machado, que foi impedida de concorrer neste ano.
Segundo interlocutores da área diplomática, o Brasil só vai atuar nessa questão se for chamado por representantes de Maduro e da oposição, "dentro do espírito de Barbados".
Em outubro do ano passado, governo e oposição venezuelanos firmaram um acordo em Barbados, fechado com a mediação da Noruega e a ajuda de vários países, como Brasil, Colômbia e Estados Unidos, prevendo eleições livres, justas, transparentes e aceitas por todos.
O pleito acontecerá no próximo dia 28 e Nicolás Maduro busca a segunda reeleição e um terceiro mandato.
Procurado, o Itamaraty informou que não vai se manifestar a respeito da situação no país vizinho.
De acordo com um diplomata, a eleição da Venezuela é um assunto dos venezuelanos e o Brasil precisa ser chamado, para que não haja a interpretação de que há interferência brasileira em assuntos internos.
Assessor para assuntos internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Amorim conversou, na última quarta-feira, com o conselheiro de Segurança dos EUA, Jake Sullivan, sobre a situação na Venezuela.
Os americanos devem endurecer as sanções em vigor contra a Venezuela, caso Maduro não aceite o resultado em caso de derrota.
À TV Globo, na última quinta-feira, Amorim disse, em Washington, que a fala de Nicolás Maduro "não é desejável". Disse que tem mantido contato com os dois lados e que acredita que a eleição transcorrerá sem problemas.
— Não acredito que haverá um banho de sangue — afirmou.