Rússia afirma que sanções internacionais "pouparam" país do apagão cibernético global
Desde a década passada o governo russo tem um programa de substituição de importações, com incentivos ao desenvolvimento de sistemas operacionais e equipamentos
No momento em que boa parte do mundo enfrenta um apagão técnico de larga escala, relacionado a problemas em sistemas da Microsoft, que afetou voos, ferrovias e emissoras de TV, a Rússia disse que passou ilesa graças às sanções internacionais impostas ao país por causa da guerra na Ucrânia.
“A falha informática que afetou o mundo inteiro provou mais uma vez a correção da substituição total das importações de software na Rússia. 100% das companhias aéreas russas mudaram para software russo desde o ano passado, não dependem de software estrangeiro e hoje continuam a voar sem problemas”, afirmou, em comunicado, a corporação estatal do setor de alta tecnologia Rostec.
O Ministério das Comunicações Digitais também declarou, em comunicado, que “a situação com a Microsoft mostra, mais uma vez, a importância da substituição de importações de software estrangeiro, principalmente em instalações críticas de infraestrutura de informação”, completando que não houve relatos de problemas em aeroportos.
Em uma curta mensagem no Telegram, o Kremlin disse que a falha global em sistemas da Microsoft, creditada a uma “atualização defeituosa” de um software da empresa de segurança cibernética Crowdstrike, não afetou os trabalhos do governo federal russo.
Desde 2014, quando teve início a guerra no Leste da Ucrânia e quando ocorreu a anexação unilateral da Crimeia, a Rússia é alvo de um número considerável de sanções internacionais, muitas voltadas ao fornecimento de tecnologias de chamado “uso duplo”, que podem ser usadas de forma civil e em aplicações militares.
A lista de itens vetados inclui, além de equipamentos, programas, aplicativos e sistemas.
Para evitar um apagão próprio — não apenas no setor de alta tecnologia, mas em praticamente todos os campos da economia —, o governo russo deu início, em 2015, a um ambicioso plano de substituição de importações, estimado em 2,5 trilhões de rublos (R$ 160 bilhões), que incluía o incentivo ao uso de programas e equipamentos desenvolvidos na Rússia.
No caso específico da Microsoft, a empresa americana não fornece produtos ao mercado russo desde 2022, quando teve início a guerra na Ucrânia, se juntando a uma longa lista de companhias internacionais que saíram da Rússia ou deixaram de atender ao país.
Em janeiro, a Microsoft acusou Moscou de realizar um ataque cibernético contra computadores da empresa, algo que os russos negam.
Além dos aspectos técnicos, alguns propagandistas aproveitaram a falha global para fazer ataques ao Ocidente, uma praxe na mídia russa após crises do tipo.
“Se algum dos cidadãos de Estados que tiveram a sorte de não fazer parte da ‘grande civilização ocidental’ precisasse de um argumento decisivo a favor do desenvolvimento de sistemas informáticos nacionais, eles o receberam”, escreveu, em artigo na agência RIA Novosti, o colunista Anton Trofimov.
“O grande fracasso que se abateu sobre as redes de computadores ocidentais provou claramente que hoje é muito mais lucrativo ser independente em tudo”.