Aviação

BNDES poderá exigir que companhias aéreas comprem jatos da Embraer em pacote de socorro do governo

Apenas a Azul, entre as três maiores companhias que atuam no país, usa aviões da Embraer, especializada em jatos menores. Latam e Gol usam aeronaves de maior porte, da Boeing e da Airbus

Jato E-195-E2 da Embraer - Divulgação

O BNDES poderá exigir das companhias aéreas que passem a usar aviões da Embraer, como condição para tomarem recursos da nova linha de crédito ao setor, dentro do pacote de apoio em discussão desde o início pelo governo federal.

A possível contrapartida foi citada nesta sexta-feira pelo presidente do banco, Aloizio Mercadante, em agenda ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que incluiu uma visita à fabricante de aeronaves.

Atualmente, apenas a Azul, entre as três maiores companhias que atuam no país, usa aviões da Embraer.

Uma das três maiores fabricantes de aeronaves do mundo, a empresa brasileira é especializada em jatos de menor porte, como jatinhos particulares e aviões para a aviação regional.

O maior mercado da Embraer é os EUA, onde a aviação regional é forte, mas Latam e Gol estariam começando a rever essa estratégia.

Ao comentar sobre o pacote de apoio, em entrevista a jornalistas após o evento com Lula, Mercadante voltou a dizer que as companhias aéreas estão com as receitas em alta, diante de uma retomada da demanda, mas têm um “passivo da pandemia”.

Daí a importância de “montar uma equação” para dar crédito para as empresas do setor, disse o presidente do BNDES:

– Agora, tem que ter uma contrapartida. Qual é a contrapartida? Comprar aviões brasileiros da Embraer. Só em torno de 12% da frota de aviões dessas empresas são da Embraer. Quando elas compram da Embraer, estão recolhendo impostos, realimentando o sistema econômico no Brasil, não está transferindo divisas para o exterior, mantém o investimento, gera emprego e gera renda.

Pacote vem sendo adiado
O governo federal vem adiando o anúncio do pacote de apoio às companhias.

O lançamento já chegou a ser prometido para abril, mas ajustes no modelo de funcionamento foram justificando os atrasos.

No último desenho, o Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac), que já existe e é formado por contribuições de taxas pagas pelas empresas do setor, teve suas regras alteradas.

Com isso, o BNDES lançará mão desses recursos para fazer empréstimos diretamente às companhias aéreas. Um projeto de lei com as alterações passou em junho no Senado.

Será possível financiar compra de aeronaves e demais investimentos.

O governo pretende socorrer as empresas em cerca de R$ 4 bilhões neste ano.

A contrapartida sugerida por Mercadante seria exigida na contratação dos empréstimos com recursos do Fnac. Segundo o presidente do BNDES, as três principais companhias do país já estariam negociando encomendas de aeronaves com a Embraer:

-- As três empresas mais importantes, Latam, Azul e Gol, já estão bem avançadas nessa perspectiva de voar Embraer.

BNDES já financiou mais de 1.300 aviões
O financiamento das exportações da Embraer responde pela maior parte da atuação do BNDES no comércio exterior, fazendo da fabricante de aviões o maior cliente do banco de fomento, ao lado da Petrobras.

Segundo o banco, já foram financiadas as vendas de mais de 1.300 aviões da companhia.

Nessas operações, assim como as demais agências de financiamento a exportações, o banco empresta os recursos para o comprador das aeronaves – companhias aéreas ou lessors, empresas especializadas em comprar aviões e alugá-los para as companhias –, mas faz os desembolsos diretamente para o fornecedor, no caso, a Embraer.

Tradicionalmente, o BNDES sempre financiou a compra de bens de capital no Brasil de forma semelhante, por meio da Finame. Só que, desde que o banco de fomento mudou sua taxa de juros, no governo Michel Temer, e parou de oferecer condições melhores do que o mercado privado, essas operações diminuíram.

Uma marca da Finame é exigir que os bens de capital comprados sejam fabricados no país.

Os jatos regionais da Embraer nunca foram destaque na Finame justamente porque as empresas brasileiras do setor usam aeronaves maiores, da Boeing e da Airbus.

Já as empresas estrangeiras que tradicionalmente usam jatos da Embraer são clientes contumazes do BNDES.

No mesmo evento na sede da fabricante brasileira nesta sexta-feira, o BNDES informou a aprovação de um empréstimo de R$ 4,5 bilhões para financiar uma encomenda de 32 jatos E175 feita pela American Airlines.