Agricultura

Pernambuco retoma produção de algodão a partir de 2025

Parceria entre IPA e Embrapa prevê reintroduzir duas variedades no Estado: o algodão branco e o colorido. Posteriormente, a ideia é fortalecer o cultivo do orgânico

Agreste Setentrional, que sempre se destacou na produção, deve ser a porta de entrada para reintroduzir o algodão branco - Cláudio Carvalho/Divulgação

Até a década de 1980, a cultura do algodão era promissora em Pernambuco, mas a praga do bicudo do algodoeiro e a carência de alta tecnologia por parte dos produtores, aos poucos, foi dizimando o cultivo. A cultura pode ser retomada no Estado, a partir do próximo ano, gra­ças aos esforços do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), em cooperação técnica com a Embrapa Algodão, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Campina Grande (PB).

A ideia é reintroduzir primeiro duas variedades: o algodão branco e o colorido. Em uma etapa posterior, será a vez do algodão agroeco­ló­gico. Os estudos, em fase avança­da, estão concentrados em três estações experimentais do IPA: Caruaru, no Agreste; Araripina e Serra Talhada, no Sertão.

De acordo com o pesquisador do IPA e coordenador do Programa do Algodão no Estado, Antônio Félix, já estão sendo realizadas iniciativas para que se forme a cadeia produtiva do algodão.

Escoamento

Com isso, os potenciais produtores interessados em retomar o plantio com o apoio do IPA não darão um salto no escuro. Já terão, inclusive, empresas pré-definidas para garantir a aquisição do produto, como o polo têxtil de Pernambuco, por exemplo. A região que sempre produziu muito algodão em Pernambuco, o Agreste Setentrional, deve ser a porta de entrada para reintroduzir o algodão branco.

Segundo Félix, atualmente, o cultivo é todo do algodão herbáceo (variedade caracterizada por sua fibra macia e curta, que é amplamente utilizada na indústria têxtil para a produção de tecidos, roupas e outros produtos). 

O pesquisador reforçou que o IPA já está com um nível de cultivo bom e comprovado. As estações experimentais de Serra Talhada e Araripina, inclusive, já estão no nível de colheita. O programa tem despertado o interesse dos produtores que são apresentados à iniciativa. A finalidade do IPA é estruturar toda a cadeia para que o processo funcione corretamente.

“É um trabalho que não envolve só produtor, mas a extensão rural, a pesquisa, a prefeitura, a Secretaria de Agricultura. Todos esses entes precisam estar unidos, trabalhando em conjunto”, disse Félix, acrescentando ainda que não adianta incentivar o cultivo e depois não ter como vender.

"É preciso garantia para que o produtor se convença de que o negócio é bom, é organizado, que ele vai ter o retorno esperado. Isso tudo sendo bem planejado, não vejo de dificuldades em a gente reintroduzir”, enfatizou.

O coordenador ressaltou a importância da parceria com o pesquisador da Embrapa Algodão José Jaime Cavalcan­ti para os resultados do programa.

Quanto ao cultivo do algodão agroecológico, que consiste em usar sementes agroecológicas, não modificadas geneticamente, dispostas com espaçamento de um metro, plantadas durante o último mês de chuva e adubadas com compostos orgânicos, o IPA já está trabalhando nisso para ser implantado em outros municípios.

Agroecológico

Nesse tipo de cultivo, a colheita deve ser manual e não é necessário usar agrotóxicos ou irrigar, bastando a chuva do último mês para brotar, foi pensado para ser concebido trabalhando-se com vários produtores ao mesmo tempo. Essa moda­lidade de cultivo surgiu na Paraíba, a partir de uma iniciativa de produ­tores que começaram a plantar o algodão na época de chuvas e com um espaçamento maior entre as plantas, o que contribuiu para que o cultivo não sofresse ataques do bicudo.

Cooperação

É uma prática que inclui geração de renda, melhoria da qualidade do solo, diversificação da oferta produtos e o desenvolvimento de uma consciência ecológica entre famílias que dela participam. “Pode ser instalada em vários municípios ao mesmo tempo, mas sempre dentro de uma comunidade com um número elevado de produtores. Não dá para ser um único produtor. É preciso que eles trabalhem em conjunto, uns fiscalizando os outros e que tenha uma certificação que garanta a qualidade”, alertou.

Nesse caso, todo o sistema de cultivo deve ser acompanhado, ter uma empresa que certifique o algodão como agroecológico e também compradores. “É esse tipo que estamos programando para ser cultivado no Estado, a partir do próximo ano. Não pode ter controle químico, portanto não se deve utilizar inseticidas ou outros ingredientes que tirem o aspecto agroecológico”, explicou.

Neste caso, todos os produtores envolvidos precisam dar o mesmo tratamento à cultura. Não pode um trabalhar corretamente e outro não. “Se a praga incidir sobre um, incidirá sobre os outros”, concluiu o pesquisador.