RIO DE JANEIRO

MP denuncia vendedora por racismo após recusar atendimento a clientes negros em loja de cosméticos

Promotores analisaram as imagens do circuito de segurança

Jovens negros registram queixa de racismo em loja do Boticário, informa o advogado Cacau de Brito (à direita) - reprodução

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou Francisli de Mello Galdino, ex-vendedora da loja O Boticário no Bangu Shopping, por racismo praticado contra três jovens negros, com idades entre 17 e 18 anos.

O crime ocorreu em 20 de novembro de 2023, Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra, data dedicada à celebração e conscientização sobre a resistência e o sofrimento dos negros escravizados no Brasil. O caso foi registrado na Delegacia de Crimes Raciais e Intolerância Religiosa (Decradi).

De acordo com a denúncia da 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial da área Bangu e Campo Grande do Núcleo Rio de Janeiro, Francisli praticou a conduta descrita no artigo 20 da Lei 7716/1989, conhecida como Lei do Racismo.

O artigo engloba “praticar, induzir ou incitar a discriminação, ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”, cuja pena prevista é de um a três anos de prisão, além de multa.

A análise das imagens do circuito de segurança revelou o tratamento discriminatório dispensado às vítimas, todas negras, em contraste com o tratamento dado aos demais clientes. Além disso, "esse comportamento causou constrangimento, humilhação, vergonha e exposição indevida aos jovens", diz o MP.

A denúncia do MP afirma que a mulher, que trabalhava no local como vendedora, se negou a atender as vítimas devido à raça delas. Logo após visualizar os adolescentes entrando na loja, ela os abordou e pediu que deixassem o estabelecimento, alegando que estava muito cheio.

Segundo relato de uma adolescente que estava no grupo, momentos depois de serem convidados a se retirar da loja, ela viu um casal de brancos entrando e sendo prontamente atendido. Ao sair, soube que seus dois amigos também haviam sido expulsos.

Retornando à loja, ela comprou um produto e reclamou com outra funcionária, que se desculpou pela situação criada pela colega.

Procurado pelo Globo, o grupo O Boticário não respondeu aos pedidos de esclarecimento sobre a denúncia do Ministério Público até o fechamento desta matéria. No ano passado, após o ocorrido, a empresa divulgou a seguinte nota:

"O Boticário lamenta a situação relatada e informa que repudia práticas de situações discriminatórias, preconceituosas ou racistas. A marca afirma que, assim que tomou conhecimento da situação relatada, iniciou uma investigação interna do caso e entrou em contato com os consumidores se colocando à disposição para prestar o apoio necessário. A marca reforça ainda que já intensificou os treinamentos internos na unidade em linha com os seus compromissos com a diversidade, equidade e inclusão – valores que pautam a sua história e que mobilizam colaboradores próprios e também rede de franquias para que continue evoluindo em sua jornada para sermos cada vez mais diversos e inclusivos."