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Vírus sincicial respiratório: muito além da bronquiolite

Comum, contagioso e pouco falado; esse combo pode fazer com que o VSR seja ainda mais perigoso, principalmente no inverno

Vírus Sincicial Respiratório (VSR) causa doenças como a bronquiolite, inflamação que dificulta a chegada do oxigênio aos pulmões.  - Arquivo / Agência Brasil

Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre o vírus sincicial respiratório (VSR), mas provavelmente conhece os perigos da bronquiolite em crianças pequenas. O VSR é uma das principais causas de infecções respiratórias em bebês, mas é pouco mencionado quando se trata de infecções respiratórias em adultos

Muitas vezes subdiagnosticado, o VSR cocircula com vários outros vírus respiratórios, como influenza e covid-19, mas raramente é testado em adultos. Consequentemente, seus sintomas podem ser confundidos com um resfriado comum, o que contribui para que a doença seja pouco conhecida nesta população.

"Em pessoas com mais de 60 anos, quando há alteração de imunidade devido ao envelhecimento imunológico, com diminuição da quantidade e qualidade de células de defesa, esse vírus pode causar doenças graves e até mesmo óbito, principalmente para quem tem comorbidades", explica Lessandra Michelin (CRM 23494-RS), infectologista e gerente médica da biofarmacêutica GSK.

Com a chegada dos dias mais frios e maior variação de temperatura ao longo do dia, as pessoas tendem a ficar em locais fechados, sem ventilação adequada e muitas vezes em aglomerações, favorecendo o aumento da circulação de vírus e bactérias, como o VSR.

Um vírus contagioso
O VSR é comum, tem sintomas inespecíficos, e é capaz de afetar o sistema respiratório, incluindo os pulmões e as vias aéreas. 

"Causa doenças que variam de um resfriado leve, com sintomas como coriza, tosse, dor de garganta, febre leve e dor de cabeça, até sintomas mais graves, como dificuldade para respirar, chiado no peito, tosse persistente, fadiga extrema e dor no peito", explica Milton Crenitte (CRM 150848), médico geriatra, professor e diretor técnico do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) e consultor em Longevidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil

"A maioria das pessoas se recupera em uma ou duas semanas, mas o VSR pode levar a complicações. E, justamente por apresentar um quadro clínico parecido com o de outros vírus respiratórios, se não for realizada a coleta de material para exame laboratorial, como fazemos para Covid-19 e influenza, não há diagnóstico", alerta Lessandra.

Alta incidência no inverno
"O período de maior incidência normalmente tem início em março, e se estende até setembro, mas a atividade do vírus pode começar antes ou persistir mais tempo em uma região. No ano de 2024, até a semana 26 (finalizada em 29/06/2024), 45,1% dos casos de síndrome respiratória aguda grave aconteceram por VSR no Brasil" N= 43.334 (testes positivos para alguma infecção respiratória)

Riscos para os idosos
O envelhecimento pode aumentar o risco de desenvolver um quadro grave da doença. 

"Isso acontece porque o sistema imunológico também envelhece, tornando algumas pessoas mais suscetíveis a infecções. Além disso, a infecção pelo VSR pode dificultar a vida de adultos que já lidam com outros problemas de saúde, mesmo se o indivíduo for mais jovem", explica o geriatra.

"Várias comorbidades merecem destaque e atenção especial quando se trata do VSR. Pacientes com insuficiência cardíaca congestiva ou doença cardíaca crônica, aqueles com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou asma, pacientes diabéticos com um risco aumentado de infecções graves e indivíduos com sistemas imunológicos comprometidos, incluindo aqueles em tratamento para câncer ou com HIV/Aids, devem redobrar a atenção", complementa Crenitte.

Impacto no dia a dia
Os especialistas alertam ainda para a relação do VSR com as principais ocupações e atividades desenvolvidas pelos adultos mais velhos, como lazer, cuidados de si e de outras pessoas, sono e prática de atividades físicas. Isso porque essas atividades acabam sendo alteradas durante uma infecção respiratória.

"Enfrentar um quadro agudo de infecção respiratória implica uma perda gradual do equilíbrio da saúde, afetando todas as dimensões da vida e trazendo prejuízos importantes à autonomia e independência de uma pessoa idosa acometida", explica Carla da Silva Santana Castro, terapeuta ocupacional, docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).

A terapeuta ainda ressalta: "além dos principais sintomas, como tosse e falta de ar, é preciso atentar à sensação de fadiga e mal-estar, que interferem na realização de atividades básicas da vida diária, afetando diretamente o cotidiano dos idosos, principalmente aqueles que vivem sozinhos e são os principais responsáveis por seu próprio cuidado".

Informação é a solução
Assim como outros vírus respiratórios, a prevenção é feita ao higienizar as mãos, cobrir nariz e boca ao tossir ou espirrar com lenço descartável, manter ambientes ventilados e limpos.

"Hoje, como uma das medidas de prevenção para pessoas com 60 anos ou mais, temos também a vacinação, recomendada pelas principais sociedades médicas", finaliza Carla.

Estar ciente de quem pode estar em maior risco de desenvolver infecções graves pelo VSR pode ser fundamental para proteger você, familiares e amigos.