Moraes investiga Zambelli por tentar vincular Lula a general venezuelano suspeito de narcotráfico
PF afirmou que deputada financiou viagem de influenciadora, que resultou em dossiê sobre caso
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de uma investigação contra a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), para apurar sua participação em uma tentativa de vincular o presidente Luiz Inácio Lula a um ex-general venezuelano suspeito de envolvimento com o narcotráfico.
A decisão atendeu a um pedido da Polícia Federal (PF). Para Moraes, há relação entre esses fatos e a investigação sobre uma suposta trama golpista que teria sido feita pelo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados.
De acordo com a PF, Zambelli intermediou uma viagem da influenciadora Elisa Robson à Espanha, onde Hugo Carvajal estava preso. Ex-chefe dos serviços de Inteligência da Venezuela no governo de Hugo Chávez, ele foi extraditado para os Estados Unidos, onde é investigado por narcotráfico.
Após retornar ao Brasil, Brom teria repassado um dossiê ao então ministro da Justiça, Anderson Torres. Em setembro, a PF abriu uma investigação para apurar uma suposta proposta de colaboração premiada de Carvajal, que incluiria repasses a membros do PT. Esse inquérito acabou sendo arquivado.
Em sua decisão, Moraes afirma que a PF relatou que o objetivo desse inquérito era conferir credibilidade às narrativas inverídicas propagadas pela milícia digital contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na época era concorria contra Bolsonaro, "de modo a se obter vantagem de natureza eleitoral às vésperas do pleito de 2022".
Bolsonaro mencionou "informações" sobre Carvajal em uma reunião ministerial realizada em julho de 2022. Esse encontro está sendo investigado como parte da apuração da trama golpista para impedir a saída de Bolsonaro do poder.
— Temos informações do general Carvajal, lá da Venezuela que está preso na Espanha. Ele já fez a delação premiada dele lá. Por dez anos, abasteceu com dinheiro do narcotráfico Lula da Silva, Cristina Kirchner, Evo Morales e essa turma que vocês conhecem — afirmou Bolsonaro na época.
Por isso, Moraes afirmou que as investigações sobre o inquérito envolvendo Carvajal "estão absolutamente relacionadas" com a apuração sobre a tentativa de golpe, que ocorre dentro de outro inquérito maior, sobre as chamadas milícias digitais.
"As investigações conduzidas, portanto, estão absolutamente relacionadas com o objeto do Inq. 4.874, especialmente com os da Pet 12.100, tendo a Polícia Federal identificado nominalmente a Deputada Federal Carla Zambelli como uma das participantes nos fatos apurados ora trazidos ao conhecimento", escreveu o ministro.
Abin também atuou no caso
Como o Globo mostrou, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), subordinado ao general da reserva Augusto Heleno, acionou informalmente a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para levantar informações sobre Carvajal.
O plano envolvia enviar, de forma discreta, agentes de inteligência para a Espanha com a missão de apurar o que o militar venezuelano sabia a respeito de Lula e do PT.
A operação do GSI para levantar informações sobre os segredos de Carvajal não foi adiante, porque a Abin avaliou que a missão extraoficial seria inviável.
Carvajal estava preso e as autoridades espanholas não colaborariam. Além disso, como se tratava de uma operação informal, havia o risco de a investida vazar e expor o trabalho da agência de inteligência brasileira em um ano eleitoral.