IMUNIZANTE

Governo precisa acelerar em 40% ritmo de vacinação para garantir uso de doses contra a Covid

Validade de lotes expira em agosto, setembro e outubro; imunizante será descartado se não houver procura

Profissional da saúde prepara dose da vacina Covid-19 para ser aplicada - Frederic J. Brown/AFP

O governo federal tem até o final de outubro para utilizar cerca de 5,9 milhões de doses de vacina contra Covid-19. Os imunizantes fazem parte de lotes adquiridos pelo Ministério da Saúde que têm o vencimento previsto entre agosto e outubro deste ano, e são avaliados em R$ 725 milhões.

No ano inteiro, segundo dados do Vacinômetro do governo, foram aplicadas 7,5 milhões de doses de vacina, uma média de 36,6 mil pessoas vacinadas por dia.

Para evitar a perda das vacinas, o ritmo da campanha de vacinação teria que alcançar uma média de 52,7 mil doses aplicadas por dia, ou seja, 40% a mais, considerando que todos os imunizantes em estoque da pasta devem ser aplicados até o último dia de outubro.

Questionado pelo Globo se considera o ritmo da vacinação satisfatório, o Ministério da Saúde afirmou que monitora a situação do estoque, o ritmo da vacinação e o cenário epidemiológico. A pasta acrescenta que tem “incentivado e apoiado os estados para que solicitem o máximo de doses que consigam receber, armazenar e distribuir aos seus municípios, de forma a garantir que a população tenha acesso ao imunizante a qualquer tempo.”

“Cabe destacar que, devido às condições operacionais das vacinas, a distribuição está ocorrendo semanalmente, conforme a capacidade de recebimento e armazenamento pela rede de frio dos estados”, completou a pasta em nota.

Imunizantes
Desses lotes, cerca de 4,9 milhões são da vacina Spikevax (Moderna) contra a variante Ômicron, e fazem parte compra de 12,5 milhões de imunizantes da Moderna, adaptados para a variante XBB, adquiridos pela pasta em maio. Conforme anunciado pelo governo, o plano é distribuir 70 milhões de doses até o fim do ano.

Segundo estabelece a legislação sanitária, as doses que porventura vencerem em estoque deverão ser incineradas pelo governo.

De acordo com o Ministério da Saúde, o contrato de compra dos imunizantes prevê que todas as vacinas que vencerem em estoque serão substituídas por novos lotes pela empresa fornecedora, sem custo adicional para o governo.

O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), Renato Kfouri, explica que a estratégia de compra de vacinas do Ministério é baseada no público-alvo da campanha. Ou seja, se o governo estipular que deve vacinar 70 milhões de pessoas, 70 milhões de doses deverão ser adquiridas.

O especialista diz que não há saída fácil para essa questão. Diante da baixa adesão da população, é necessário que haja uma discussão sobre o assunto para evitar desperdícios de insumos.

— Comprar menos significa admitir que nós não vamos vacinar quem a gente deve e, portanto, vai ter menos desperdício, mas com o risco de você não ter vacina para a população que você elegeu. Comprar o certo, corre o risco de sobrar, porque atualmente os desafios de alcançar coberturas vacinais estão cada vez maiores. Então, acho que é uma nova fase, que a gente tem uma adesão menor, em geral, da população, e isso precisa ser discutido, inclusive com o Tribunal de Contas — diz o diretor da SBIM.

Aumento do público-alvo
Diante da baixa procura pela vacina, o estado do Rio de Janeiro, por exemplo, ampliou o público-alvo da vacinação contra a variante XXB da Covid-19 para pessoas com 5 anos de idade ou mais no início de junho.

Segundo Renato Kfouri, a baixa adesão da população à vacinação contra o vírus é reflexo de diversos problemas no Brasil, como o negacionismo e a diversidade de um país continental como o nosso, que levam a problemas variados como dificuldade de acesso aos imunizantes em locais remotos e também pelos horários disponibilizados nos postos de saúde. Para ele, a principal arma a ser usada pelo governo para aumentar a cobertura vacinal é a comunicação.

—A gente precisa esclarecer sempre. Comunicação sempre é fator fundamental, para que a população entenda que, apesar de a Covid ser uma doença leve, em alguns grupos a gente ainda tem muitos óbitos, muitas hospitalizações. Continua sendo a doença infecciosa que mais faz vítimas — ressalta o especialista.

Desde o primeiro caso registrado de Covid-19, o Brasil já acumulou 38,8 milhões de casos do vírus, além de 712,5 mil óbitos da doença. Atualmente, 85,41% da população brasileira já recebeu duas doses e, portanto, possui esquema vacinal contra covid-19 completo.