Maduro usa drones para criar imagem de "Super Bigode" no céu dias antes das eleições da Venezuela
Campanha de Maduro usa drones para criar imagem de 'Super Bigode' no céu dias antes das eleições na Venezuela
A campanha para a eleição presidencial da Venezuela, que ocorrerá no próximo domingo, teve seu último dia nesta quinta-feira.
Enquanto a oposição enfrentou o que denunciou como perseguição política, nos dias que antecederam, a equipe do presidente Nicolás Maduro usou drones para desenhar o “Super Bigode”, o alter ego animado do mandatário, no céu noturno de Caracas.
Outras imagens do chefe de Estado também apareceram em Maracaibo, a antiga capital petrolífera do país – e castigada pelo racionamento de eletricidade.
A imagem do governante tornou-se onipresente: ele apareceu cada vez mais na televisão, no rádio, em outdoors, murais, pedágios, ambulâncias, propaganda no YouTube e em inúmeros vídeos em plataformas como o Tiktok.
Sua figura, regular na paisagem cotidiana, se multiplicou em busca de mais um governo que o projetaria para 18 anos no poder.
Nesse cenário, a desinformação também é uma arma.
A imprensa local denuncia o bloqueio de sites de notícias no país, onde mais de 400 meios de comunicação foram fechados em 25 anos de governos chavistas.
— Há uma saturação que permite que ele sobreviva na mente das pessoas, sobretudo por se gabar de ser o herdeiro (de Hugo Chávez) — disse à AFP León Hernández, membro do Instituto de Pesquisa em Informação e Comunicação da Universidade Católica Andrés Bello (UCAB). — Chávez continua a assombrar o imaginário coletivo.
Maduro se vende como um líder falante, mas forte.
O presidente de 61 anos se descreve como um “galo pinto”, um ícone que ele usa para minimizar seu principal oponente, o diplomata Edmundo González Urrutia, que está concorrendo pela principal coalizão de oposição diante da impossibilidade de registrar María Corina Machado, favorita nas pesquisas, mas desqualificada por sanção.
Gargalhadas são ouvidas ao fundo dos discursos de Maduro, e várias canções de campanha fazem alusão às sangrentas – e tradicionais – brigas de galo da Venezuela.
O líder chavista, que foi motorista de ônibus na juventude, muitas vezes aparece ao volante de uma caminhonete enquanto conversa com sua esposa, Cilia Flores, e autoridades, como se estivesse estrelando um reality show.
Um desenho animado de propaganda chamado “Super Bigode” o retrata como um super-herói com punho de ferro que luta contra a oposição de seu arquirrival, os Estados Unidos.
Um filme sobre sua vida estreou num teatro icônico de Caracas, e um livro biográfico foi apresentado. Maduro assistiu à estreia na primeira fila.
— Há horas de transmissão de televisão, horas de publicidade, pressão de organizações como a Conatel (Comissão Nacional de Telecomunicações) — enfatizou León Hernández à AFP.
Membros do alto comando militar divulgaram um vídeo de uma palestra de María Corina e González para estudantes universitários, com um quadro negro ao fundo mostrando propostas para privatizar a empresa estatal de petróleo PDVSA e a educação.
A AFP verificou que o vídeo havia sido alterado e que o quadro negro estava de fato vazio.
Maduro, enquanto isso, recicla promessas e reinaugura obras, ao mesmo tempo em que se proclama como “o único” que garante a “paz”.
Ele chama González Urrutia de “fraco”, fazendo alusão aos seus 74 anos de idade.
Ainda assim, em meio a uma campanha maciça, as pesquisas estão se voltando contra Maduro em sua busca para permanecer no poder.
A expectativa é tamanha que o próprio presidente buscou alarmar os eleitores ao afirmar que ocorreria um “banho de sangue” ou insurreição militar na Venezuela se ele for derrotado no domingo.