VENEZUELA

Eleição na Venezuela: Oposição acusa falta de acesso à apuração

Opositores denunciam falta de acesso de testemunhas às seções eleitorais e rejeição na entrega das atas de votação

Principal líder da oposição, María Corina Machado, voto em Caracas nas eleições presidenciais Principal líder da oposição, María Corina Machado, voto em Caracas nas eleições presidenciais - Federico PARRA / AFP

A presidente do partido de oposição, Delsa Solórzano, acusou o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão equivalente ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no Brasil, de cometer uma série de irregularidades que estão impedindo o acesso do grupo político à apuração dos votos, como a negativa à entrega dos boletins das urnas.

Em coletiva de imprensa na noite deste domingo, Solórzano reforçou o pedido aos eleitores para que não deixem as seções eleitorais, denunciando um bloqueio por parte do CNE das testemunhas que desejam acompanhar a contagem — um direito legal.

— A Venezuela já sabe o que aconteceu. Vamos imediatamente ao CNE e pedir o acesso [às atas]. Estão nos obrigando a nos retirar [das seções eleitorais]. O CNE está negando a transmissão do resultado da ata [eleitoral]. O que está acontecendo é que não querem imprimir a ata e não querem transmitir [a impressão], e isso já é um padrão de incidentes em várias seções eleitorais em todo o país — denunciou a opositora.

 

Nesta eleição histórica, que pode pôr fim a 25 anos de chavismo, o presidente Nicolás Maduro busca de um terceiro mandato contra o diplomata Edmundo González, principal nome da oposição que substituiu a líder María Corina Machado, impedida de concorrer pela Justiça, na coalizão Plataforma Unitária.

O advogado da campanha opositora, Perkins Rocha, também expressou sua preocupação com o movimento na coletiva, e exigiu que o CNE "não burle os cidadãos".

— Em muitos espaços, se negaram as atas, não se levou a cabo o ato publico. Repito: estamos dispostos a defender a felicidade que hoje os cidadãos expressaram nas ruas. A soberania popular é o mais sagrado que tem em um pais — disse Rocha, alertando para o destaque das eleições no momento: — Os olhos do mundo estão na Venezuela agora. Não burlem os cidadãos. É o momento para que digamos a verdade. Até agora, nosso melhor instrumento tem sido a verdade: por ela, estamos dispostos a dar a nossa vida.

Segundo, o Comando ConVzla, campanha da oposição, mais de 11,7 milhões de venezuelanos foram às urnas neste domingo, mais de 54% do eleitorado de 21 milhões. Um comparecimento abaixo dos 60% era visto como preocupante para os candidatos, sobretudo para a oposição. Em 2013, cerca de 80% do eleitorado votou.

Pressão internacional
Os governos de Argentina, Uruguai, Equador, Paraguai, Peru, Panamá, Costa Rica e República Dominicana divulgaram uma nota dizendo que acompanham o desenrolar da apuração da eleição venezuelana e exigiram que os resultados sejam respeitados. Eles também pediram que seja liberado acesso dos fiscais de urna as atas de votação.

O movimento foi capitaneado pelo presidente do Panamá, José Raúl Mulino, e envolve governos de centro e centro-direita da região. Mulino reiterou que respeito à vontade do povo é fundamental para o governo da democracia.

O Panamá é um dos países mais afetados pelo êxodo de 7 milhões de venezuelanos, muitos dos quais tentam atravessar a Selva de Darién, para chegar aos Estados Unidos.

Governos sul-americanos de esquerda mais próximos do chavismo, como a Colômbia de Gustavo Petro e o Brasil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem Maduro trocou farpas recentemente, não subscrevem a nota.

O assessor especial para assuntos internacionais do Planalto, Celso Amorim, acompanha o andamento do pleito diretamente de Caracas. Em nota divulgada quando ainda havia seções eleitorais abertas, ele destacou a "participação expressiva" do eleitoral e a "tranquilidade" do processo, e também pediu respeito ao resultado.

“Estou acompanhando de perto o processo eleitoral venezuelano. Ainda há mesas de votação abertas. É motivo de satisfação que a jornada tenha transcorrido com tranquilidade, sem incidentes de monta. Houve participação expressiva do eleitorado", disse Amorim. "Estou em contato com diferentes forças políticas e analistas eleitorais, além de membros da equipe de observadores do Centro Carter e do Painel de Especialistas da ONU. O presidente Lula vem sendo informado ao longo do dia. Vamos aguardar os resultados finais e esperamos que sejam respeitados por todos os candidatos.”

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata governista à sucessão de Joe Biden, Kamala Harris, escreveu na rede social X que “Os EUA estão ao lado do povo da Venezuela, que expressou sua voz na histórica eleição presidencial de hoje. A vontade do povo venezuelano deve ser respeitada. Apesar dos muitos desafios, continuaremos a trabalhar em prol de um futuro mais democrático, próspero e seguro para os venezuelanos”.