Maduro é proclamado presidente da Venezuela; autoridade eleitoral não apresentou atas da votação
Países como Brasil e EUA não reconheceram o resultado
A autoridade eleitoral venezuelana proclamou oficialmente, nesta segunda-feira, o presidente Nicolás Maduro vencedor das eleições de domingo, cujo resultado não foi reconhecido pela oposição e foi questionado por vários países, incluindo o Brasil, devido à falta de transparência do processo.
No poder desde 2013, o líder chavista ocupará a Presidência pela terceira vez consecutiva.
— Os venezuelanos expressaram sua vontade absoluta ao eleger Nicolás Maduro Moros como presidente da República Bolivariana da Venezuela para o período 2025-2031 — disse o presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Elvis Amoroso, um amigo pessoal de Maduro e da primeira-dama Cilia Flores.
O sentimento é de perplexidade nas primeiras horas após os resultados. O CNE anunciou que, depois de supostamente ter contado 80% das cédulas, Maduro recebeu 51,2% dos votos, em comparação com os 44,2% do candidato da oposição organizada, Edmundo González Urrutia.
— Um resultado irreversível — acrescentou Amoroso.
A oposição não reconheceu os resultados. Nas horas anteriores, logo após o fechamento das seções eleitorais, a equipe de campanha de González tornou público que o CNE só havia mostrado a eles 40% das seções eleitorais, apesar de terem enviado testemunhas por todo o país.
Eles pararam de imprimir e transmitir os relatórios, disseram.
Daquele momento em diante, a preocupação entre os antichavistas estava no auge.
Jorge Rodríguez, o operador político de Maduro, e Diosdado Cabello, o braço direito do presidente, vieram a público logo depois afirmando que haviam vencido as eleições, embora a contagem dos votos mal tivesse começado.
Nesta segunda-feira, o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, vinculou a líder da oposição a uma suposta invasão do sistema eleitoral para “adulterar” os resultados da votação.
— A principal pessoa envolvida nesse ataque é o cidadão Lester Toledo (...) juntamente com o fugitivo da Justiça venezuelana Leopoldo López e María Corina Machado — disse Saab à imprensa após anunciar o início de uma investigação.
Maduro, por sua vez, denunciou que “está sendo feita uma tentativa de impor um golpe de Estado na Venezuela”, depois que a oposição rejeitou sua reeleição para um novo mandato de seis anos.
— Estão tentando impor um golpe de Estado fascista e contrarrevolucionário na Venezuela mais uma vez — disse Maduro no Conselho Nacional Eleitoral (CNE), onde foi proclamado vencedor das eleições. — Eles estão ensaiando os primeiros passos malsucedidos para desestabilizar a Venezuela e impor novamente um manto de agressão e danos à Venezuela.
Logo após o CNE ter proclamado a vitória de Maduro, o Centro Carter, um dos poucos observadores internacionais do processo eleitoral venezuelano, pediu que o órgão eleitoral "publique imediatamente os resultados das eleições presidenciais em nível de seção eleitoral".
A continuidade de 25 anos de revolução bolivariana estava em jogo nas urnas no domingo.
A oposição, organizada em torno de María Corina Machado, representou uma ameaça real à continuidade de Maduro no poder, desgastado por uma crise econômica que forçou um quarto da população a emigrar e pelas contínuas denúncias contra seu governo por violações dos direitos humanos.
María Corina, desqualificada como candidata pela Justiça, também cooptada pelo chavismo, deu seu lugar a Edmundo González Urrutia, um diplomata aposentado, muito tímido, que teve dificuldade em aceitar o cargo. Em um curto período de campanha, González tornou-se conhecido em todo o país e começou a superar Maduro nas pesquisas mais confiáveis.
O chavismo se sentiu em perigo.
A oposição sabia que estava em desvantagem nas pesquisas — o chavismo controla todo o aparato estatal, inclusive o CNE, o árbitro das eleições.
Entretanto, María Corina acreditava que sua vantagem era tal que Maduro não poderia escondê-la, nem dentro nem fora do país, especialmente diante da Casa Branca, com a qual está em negociações sobre sanções econômicas e reconhecimento internacional de seu governo.
A tentativa de fazer com que o chavismo se abrisse para um processo democrático e de transição esteve presente durante toda a campanha eleitoral, patrocinada por Washington, mas também pela Colômbia, Brasil e Chile.
O objetivo era realizar eleições livres e transparentes que legitimassem o vencedor.
Estados Unidos e Chile foram os primeiros países a questionar abertamente o resultado. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, expressou as “sérias preocupações” da Casa Branca em Tóquio, onde está em turnê, de que “os resultados anunciados não refletem a vontade ou os votos do povo venezuelano”. Gabriel Boric disse que os resultados publicados pela autoridade eleitoral venezuelana “são difíceis de acreditar”.
“A comunidade internacional e, acima de tudo, o povo venezuelano, incluindo os milhões de venezuelanos no exílio, exigem total transparência dos resultados e do processo, e que os observadores internacionais não comprometidos com o governo prestem contas da veracidade dos resultados. O Chile não reconhecerá nenhum resultado que não seja verificável”, escreveu o presidente chileno em suas redes sociais.
A Colômbia se juntou a ele e, por meio de seu ministro das Relações Exteriores, Luis Gilberto Murillo, insistiu na necessidade de esclarecer “quaisquer possíveis dúvidas”.
“Pedimos que os votos sejam contados, verificados e auditados de forma independente o mais rápido possível”, acrescentou.
O Alto Representante da União Europeia (UE) para Relações Exteriores, o espanhol Josep Borrell, disse que era “vital” para o processo eleitoral ter uma “contagem detalhada dos votos e acesso aos relatórios das seções eleitorais”.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil indicou que aguarda a publicação dos "dados desagregados por mesa de votação" do CNE para se pronunciar sobre o resultado — passo classificado como "indispensável" para a "transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito".