Manifestantes derrubam estátua de Chávez contra reeleição de Maduro na Venezuela; Veja vídeo
Uma série de protestos tomaram a Venezuela após a proclamação da vitória do presidente Nicolás Maduro para um terceiro mandato de seis anos, resultado contestado pela oposição
Em meio a uma série de protestos que tomaram a Venezuela após a proclamação da vitória do presidente Nicolás Maduro para um terceiro mandato de seis anos, manifestantes derrubaram uma estátua em homenagem a seu antecessor, Hugo Chávez, na avenida Shema Saher de Coro, no estado de Falcón.
]Centenas de pessoas foram às ruas ou fizeram panelaços em suas janelas contra a reeleição anunciada nas primeiras horas desta segunda-feira pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), ligado ao chavismo, num resultado contestado pela oposição e por grande parte da comunidade internacional.
Imagens registraram momentos antes, quando o monumento foi cercado por manifestantes, que tentavam derrubá-lo.
Com apenas 80% dos boletins das urnas verificados, o CNE declarou a vitória de Maduro por 51% dos votos, contra 44% de González na madrugada desta segunda-feira. No entanto, na primeira coletiva da coalizão opositora após o resultado, María Corina denunciou fraude no pleito e anunciou o diplomata como novo presidente da Venezuela. Segundo ela, o opositor venceu o atual mandatário por 70% votos.
"Hoje queremos dizer a todos os venezuelanos e ao mundo inteiro que a Venezuela tem um novo presidente eleito: Edmundo González. Ganhamos e todo o mundo sabe ", disse María Corina, defendendo a vitória do seu grupo político a partir dos resultados de quatro contagens "autônomas" e da análise de 44% das atas das urnas entregues até então."
"Neste momento temos 44% das atas, todas as que foram transmitidas nós temos, e todas essas informações coincidem: Edmundo recebeu 70% dos votos e Maduro, 30%."
Manifestantes tomam as ruas
Os protestos começaram já pela manhã, se espalhando por várias partes do país ao longo do dia. Os manifestantes — em sua maioria jovens — queimaram pôsteres com o rosto de Maduro que promoviam sua candidatura, carregando bandeiras, panelas e instrumentos para acompanhar os gritos de protesto.
"Que ele entregue o poder agora!", exclamaram.
Em Catia, outro setor popular do outro lado da cidade, houve os protestos foram vigiados de perto pela polícia e pela tropa de choque da Guarda Nacional.
"Fechamos nossos negócios e começamos a protestar, nos sentimos decepcionados, isso não reflete a realidade, votamos contra Nicolás ", disse Carolina Rojas, uma lojista de 21 anos, com raiva.
No centro de Caracas, vários comerciantes preferiram manter seus negócios fechados.
"Minha família ficou chorando em casa ", descreveu o dono de uma venda de comida rápida com a grade de segurança do local aberta pela metade.
Durante a cerimônia de proclamação da vitória de Maduro pelo CNE, o presidente denunciou que o não reconhecimento do resultado por parte da oposição é uma tentativa de "golpe de Estado":
"Estão tentando impor na Venezuela um golpe de Estado novamente de caráter fascista e contrarrevolucionário ", disse Maduro após ser proclamado vencedor.
"Estão ensaiando os primeiros passos fracassados para desestabilizar a Venezuela e impor novamente um manto de agressões e de dano ao país."
O Ministério Público da Venezuela abriu uma investigação para apurar um suposto ataque hacker que teria tentado invadir o sistema de transmissão de votos durante as eleições presidenciais de domingo, com o procurador-geral da República, Tarek William Saab, acusando os opositores do regime chavista María Corina Machado, Leopoldo López e Lester Toledo de estarem por trás da tentativa, com objetivo de adulterar o resultado da votação. O país usa a votação eletrônica desde 2004, e as máquinas não estão conectadas à internet.
Nas ruas, muitos defendem que o pleito foi fraudado pelo governo.
"Saímos [às ruas] porque houve fraude ", disse um manifestante, que se identificou apenas como David, 40 anos. "Eles estão chamando o exército, mas temos que protestar."
Panelaços
O som das panelas ecoa incessante dos edifícios nas ruas de Caracas em sinal de descontentamento pelos resultados das eleições. Por medo dos coletivos, como são conhecidos na Venezuela os grupos de choque pró-governo acusados de reprimir protestos antigovernamentais, a maioria optou por protestar das varandas de suas casas.
"Isto é pelo descontentamento ", disse à AFP uma moradora que pediu anonimato por temor a represálias. — Demoraram até quase uma da madrugada para dar resultados de mentira ", acrescentou, com lágrimas nos olhos.
Em suas mãos, ela segurava uma buzina com as cores amarelo, azul e vermelho da bandeira da Venezuela.
"Isso me deixou muito desamparada, saí para gritar "contou, sobre a reação que teve após ouvir o resultado do CNE. "Agora estamos avaliando, será que vou embora? Será que fico? O último que apague a luz."
Da janela de seu apartamento, um jovem expressava seu mal-estar: "Onde estão os 5 milhões comemorando por Maduro?", perguntou.
"Fomos roubados "gritou um motociclista ao passar, enquanto outros buzinavam em apoio ao pequeno grupo que fazia um panelaço na calçada."
"Eles estão nos matando de fome, estou arrasada ", comentou, por sua vez, María, uma aposentada de 78 anos.
Jenny Gil, de 56 anos, foi uma das poucas que se atreveram a sair de casa e bater panela em uma avenida de La Candelaria, no coração de Caracas.
Junto de Jenny também protestava Janeth Carabaño, de 49 anos, que retornou do Equador há dois meses com a esperança de uma mudança de governo.
Perto dali, um grupo de jovens subiu em um poste de iluminação pública para retirar um dos muitos de cartazes com o rosto de Maduro que cobrem as ruas de Caracas.
Aqueles que saíram às ruas sofreram ameaças.
"Passou um cara e fez um sinal no pescoço para nos avisar que vamos morrer ", contou Jenny Gil.
Contestações
Vários países, incluindo os Estados Unidos, o Brasil e a Colômbia, também questionaram a eleição. O governo brasileiro disse que "acompanha com atenção o processo de apuração" e que aguarda a divulgação de informações mais detalhadas, como os "dados desagregados" do CNE. Em Caracas, o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, disse ao GLOBO que está "procurando a verdade".
"Sou amigo de César, mas sou mais amigo da verdade. Estou procurado a verdade ", pontuou o ex-chanceler.
"É meio difícil ter a proclamação do resultado com solenidade [como acontecerá em Caracas dentro de algumas horas], sem ter a transparência, a disponibilidade das atas."
O Centro Carter, um dos poucos observadores internacionais do processo eleitoral venezuelano, divulgou um comunicado oficial no qual “pede que a Comissão Eleitoral Nacional da Venezuela, conhecida pela sigla em espanhol CNE, publique imediatamente os resultados das eleições presidenciais em nível de seção eleitoral".
Maduro foi proclamado sem que o CNE apresentasse, como se comprometera, as atas da votação.
Seus membros estão conversando com governos estrangeiros, entre eles o do Brasil, através de Amorim. Nesta segunda, após o comunicado, a ex-diretora do Carter Center, Jennifer McCoy, afirmou que Maduro “optou simplesmente por ignorar os resultados”.
"Sem a divulgação detalhada dos resultados da votação é um ato descarado, mas não tão surpreendente ", afirmou, instando os governos democráticos a rejeitarem o anúncio do CNE.
"Lula é fundamental, mas também uma frente unida."
Um "detalhamento por seção eleitoral" e uma "publicação oportuna dos resultados das eleições" também foram exigidos pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, que pediu "transparência total" em relação a contagem dos votos.
"As autoridades eleitorais devem realizar seu trabalho de forma independente e sem interferência para garantir a livre expressão da vontade do eleitorado" afirmou o porta-voz de Guterres, Stephane Dujarric, em um comunicado, acrescentando: "Tomamos nota do anúncio feito pelas autoridades eleitorais, bem como das preocupações expressas pelos atores políticos e membros da comunidade internacional".
Entre os países que reconhecem a reeleição estão Cuba, Nicarágua e Rússia. A China, que mantém laços estreitos com Caracas, também parabenizou o chavista.