Venezuela

Reeleição de Maduro provoca protestos na Venezuela e questionamento internacional

Manifestações foram registradas em várias regiões da capital

rotestos eclodiram em partes de Caracas na segunda-feira contra a vitória da reeleição reivindicada pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro - Federico Parra/AFP

As forças da ordem reprimiram, nesta segunda-feira (29), protestos espontâneos realizados na Venezuela contra a questionada reeleição do presidente Nicolás Maduro, enquanto cresce o apelo internacional para uma transparência maior na contagem de votos.

"E vai cair, e vai cair, este governo vai cair!", gritavam milhares de manifestantes que foram às ruas da gigantesca favela de Petare, a maior de Caracas. "Entregue o poder já!", exclamavam outros.

Manifestações foram registradas em várias regiões da capital, algumas muito pobres, constataram jornalistas da AFP.

Uma delas, realizada em uma área residencial e de escritórios no leste da cidade, foi dispersada com bombas de gás lacrimogêneo.

“Pela liberdade do nosso país, pelo futuro dos nossos filhos, liberdade, queremos que Maduro vá embora. Vá embora, Maduro!”, disse à AFP Marina Sugey, uma dona de casa de 42 anos, durante o protesto em Petare.

As manifestações ocorreram em paralelo ao ato de proclamação de Maduro, que denunciou uma tentativa de golpe de Estado “de caráter fascista e contrarrevolucionário”.

A oposição, liderada por María Corina Machado, não convocou esses protestos.

O líder opositor e seu candidato, Edmundo González, que tentou pôr um fim nas urnas a 25 anos de chavismo na Venezuela, têm uma coletiva de imprensa marcada para o fim da tarde desta segunda.

O governo afirma que a oposição tenta desestabilizar o país por meio da violência.

O presidente do Conselho Nacional Eleitoral denunciou uma suposta tentativa de invasão ao sistema eleitoral para “adulterar” os resultados e o procurador-geral vinculou Machado a essa iniciativa.

"Contagem total dos votos"
Os Estados Unidos, que foram fundamentais no processo que levou à eleição, e os vizinhos Brasil e Colômbia, os três países que mais receberam migrantes venezuelanos, questionaram a apuração que deu a Maduro um terceiro mandato de seis anos com 51% dos votos, contra 44% de González, segundo o CNE, de viés governamental.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, expressou “séria preocupação” com o resultado, exigindo uma acusação “justa e transparente”.

Brasília, por sua vez, reafirmou "o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados" da votação e assegurou que "acompanha com atenção o processo de apuração".

O governo de Gustavo Petro, o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia e aliado de Maduro, pediu uma "contagem total dos votos, sua verificação e auditorias independentes".

Já o presidente chileno, Gabriel Boric, afirmou que os resultados são “difíceis de acreditar”, enquanto o Panamá retirou seu pessoal diplomático de Caracas e colocou “em suspenso” as relações bilaterais.

França, Espanha e União Europeia pediram “total transparência” sobre o processo.

E os governos da Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai exigiram, nesta segunda-feira, uma "revisão completa dos resultados".

Além disso, anunciaram que solicitarão uma reunião urgente ao Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) para emitir uma resolução que salvaguarde a vontade popular.

O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela respondeu com o anúncio de que retira o pessoal diplomático de suas missões na Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai diante do que chamou de "ações intervencionistas" nesses países.

Também pediu que os diplomatas desses mesmos países acreditados em Caracas deixassem a Venezuela. Na embaixada argentina estão refugiados há semanas seis colaboradores de María Corina Machado.

Por outro lado, China, Rússia, Cuba, Nicarágua, Honduras e Bolívia parabenizaram Maduro. ]

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, disse que considerará o resultado da CNE.

"Paz e respeito"
No poder desde 2013, Maduro poderá manter-se na Presidência por 18 anos, até 2031. Apenas o ditador Juan Vicente Gómez governará por mais tempo que ele, durante 27 anos (1908-1935).

A oposição venezuelana, que tentou terminar os 25 anos de chavismo, denunciou fraude na votação e se declarou vitoriosa, com 70% dos votos, contra 30% para Maduro.

“Violaram todas as normas”, declarou na madrugada González.

“Isso não é mais uma fraude, isso é ignorar e violar grosseiramente a vontade popular”, disse Machado.

A maioria das pesquisas favoreceu a oposição, após anos de uma crise que fez o Produto Interno Bruto (PIB) encolher em 80% e levou ao êxodo mais de sete milhões de pessoas, segundo dados da ONU.

Maduro descreveu a eleição como uma encruzilhada entre “paz ou guerra”, e anunciou que uma vitória da oposição poderia levar a um “banho de sangue”.

A coalizão Plataforma Unitária se uniu em torno de Machado após a retirada da eleição de 2018, que deu a reeleição a Maduro, por considerá-la fraudulenta.

Uma pequena delegação do Centro Carter esteve presente na votação de domingo. Ela pediu à CNE "que publique imediatamente os resultados das eleições presidenciais por colégio eleitoral". Além disso, um painel de especialistas da ONU emitirá um relatório confidencial.