Luto

Viver o luto faz envelhecer mais rápido, diz novo estudo

Análise do DNA de milhares de americanos mostrou que perder um ente querido seja na infância ou na vida adulta acelera o relógio epigenético

O acompanhamento envolveu milhares de jovens que, no início, tinham idades entre 12 e 19 anos. - Unsplash

Perder alguém próximo, como um familiar, pode acelerar o envelhecimento a nível biológico, descobriram cientistas da Escola de Saúde Pública Mailman e do Centro de Envelhecimento Butler, ambos da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.

A conclusão faz parte de um novo estudo publicado nesta terça-feira na revista científica JAMA Network Open.

“Poucos estudos analisaram como a perda de um ente querido em diferentes estágios da vida afeta esses marcadores de DNA (...) Nosso estudo mostra fortes ligações entre a perda de entes queridos ao longo da vida, desde a infância até a idade adulta, e o envelhecimento biológico mais rápido”, resume Allison Aiello, professora de Longevidade da Saúde na universidade e principal autora do estudo, em comunicado.

A pesquisa utilizou dados do Estudo Longitudinal Nacional da Saúde do Adolescente e do Adulto, nos Estados Unidos, que teve início ainda em 1994.

O acompanhamento envolveu milhares de jovens que, no início, tinham idades entre 12 e 19 anos.

Eles foram avaliados periodicamente e, na última leva, cerca de 24 anos depois, 3.963 realizaram uma coleta de sangue para exames de DNA que determinassem a idade biológica. Em seguida, relacionaram a análise do material genético com os relatos de perdas de pessoas próximas entre os voluntários do estudo.

Os cientistas observaram que aqueles que tiveram uma experiência de luto tinham uma idade biológica mais velha do que os outros voluntários com a mesma idade. Isso foi observado utilizando diferentes parâmetros e de forma progressiva, ou seja, quanto maior o número de perdas, maior o envelhecimento.

Ainda que a relação tenha sido observada tanto para vivências de luto na juventude como na vida adulta, os autores escrevem no estudo que as perdas mais tarde na vida, entre 19 e 43 anos, tiveram “maiores associações com o envelhecimento biológico” do que aquelas abaixo de 19.

Mas os resultados sugerem que "as experiências de perda podem contribuir para as trajetórias de envelhecimento biológico mesmo antes do início da meia-idade, ajudando assim a definir o curso para o risco mais precoce de doenças crônicas e mortalidade”, afirmam.

O envelhecimento biológico é o declínio gradual do funcionamento das células, tecidos e órgãos, o que eleva riscos de saúde. Os cientistas mediram esse tipo de envelhecimento usando marcadores de DNA conhecidos como relógios epigenéticos.

Aiello explica que a conexão entre a perda de entes queridos e problemas de saúde ao longo da vida já era “bem estabelecida”, mas que o estudo mostra que alguns estágios na vida parecem mais vulneráveis e que o acúmulo de perdas parece ser “um fator significativo”.

“Ainda não entendemos completamente como a perda leva a uma saúde ruim e a uma mortalidade mais alta, mas o envelhecimento biológico pode ser um mecanismo, conforme sugerido em nosso estudo”, diz.

Além disso, para os autores, ainda que a associação com o envelhecimento seja mais significativa na vida adulta, os efeitos podem ser mais graves durante a infância ou a juventude, por serem períodos de desenvolvimento.

Eles citam que perder um ente querido em qualquer fase da vida é relacionado a maior risco de doenças cardíacas, mortalidade e demência, mas que esse luto no início da vida pode ser mais suscetível a desencadear problemas de saúde mental e cognitivos também.