TEATRO

Miguel Falabella fala de novo musical sobre Elvis em Sâo Paulo

Com Leandro Lima no papel de rei do rock e Luiz Fernando Guimarães como o coronel Tom Parker, montagem tem orçamento de R$ 9,5 milhões e 25 mil ingressos já vendidos, contabiliza produção

Leandro Lima interpreta Elvis na peça do diretor Miguel Falabella - Reprodução/Instagram

É no fim de carreira de Elvis, em Las Vegas, nos anos 1970, que o diretor Miguel Falabella coloca o coração da peça "Elvis: a Musical Revolution", uma adaptação brasileira do musical internacional que correu os Estados Unidos e a Austrália.

A primeiríssima cena da montagem, que estreia nesta quinta-feira, dia 1º, no Teatro Santander, em São Paulo, é ao som da irresistível faixa "Trouble", lançada em 1958, ainda nos anos iniciais da carreira de Presley. Ali, porém, quem canta a canção já é um experiente Elvis, cujo comportamento errático era uma pedra no sapato de sua vida profissional— e, anos depois, de sua própria sobrevivência.

 
 
 
 
 
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Em cena, ele aparece com seu icônico macacão branco, cravejado de pedras coloridas, um item indissociável de seus últimos anos de apresentações. Os momentos iniciais mostram o cantor nos bastidores, tendo a porta esmurrada para apresentar-se logo.

— Eu, Miguel, tenho essa coisa com o camarim, quando estou me preparando para me apresentar, lembro de todos os camarins que já vivi até ali. É aquela coisa, ''só quem sabe de mim é o espelho do meu camarim''. Quando eu estou em frente a uma espelho desses, me vem à mente Marília Pêra (1943-2015), Beatriz Segall (1926-2018) e todo mundo com quem trabalhei — teoriza Falabella sobre a cena inicial, que dá o tom do drama psicológico que permeia toda a montagem.

— Na peça original, a história acaba com ele no grande show de de 1968, eu quis trazer Vegas (ao palco). Eu queria mostrar um pesadelo em Vegas. Queria mostrar esse ídolo em uma gaiola dourada, que nem mesmo fez uma turnê mundial.

A encruzilhada mental de Elvis foi traduzida no cenário. Falabella mirou na pintura ''Relatividade'', do artista holandês M.C. Escher (1898-1972), onde se vê uma porção de escadarias que se entrelaçam, mas não levam a um destino, numa disposição labiríntica. Os degraus circulam todo o palco e permitem a passagem dos cerca de 30 atores que compõem a montagem.

— É uma ''trip'' do Elvis, em que ele revisita o passado — diz o diretor.

A produção milionária (o orçamento para colocar o musical que fica em cartaz até dezembro foi de R$ 9,5 milhões) segue, a partir da cena do camarim, numa toada biográfica de enumerar os auges e as quedas do Rei do Rock. Há, porém, certo interesse em contextualizar tal majestade.

Na produção, fica claro que Elvis foi bastante influenciado pela a música negra do Tupelo, no Mississipi, bairro onde o cantor nasceu e cresceu — e onde o rock já era feito e apreciado. Em certa cena, uma dona de loja de discos é ameaçada por apresentar aquela 'música negra'' a um jovem branco.

O musical, como é de se esperar, não deixa de lado certa louvação ao ícone morto em 1977. Para tanto, lança mão de hits globais do astro. Estão lá ''Hound dog'', ''Jailhouse Rock'', ''Suspicious Minds'', ''Little Less Conversation'' e ''Heartbreak hotel'', entre outras.

Visita a Graceland para pedir um axé

A tarefa de interpretar Elvis e apresentar as canções ao vivo ao lado da banda de 9 músicos é do ator Leandro Lima (ex-Pantanal e Terra e Paixão, ambas novelas do horário nobre da TV Globo). Trata-se de seu primeiro musical. Aos 42 anos de idade (mesma idade em que Elvis morreu), Leandro tem ampla rodagem numa carreira internacional de modelo, mas insistiu por anos na atuação, chegando a perder trabalhos nas passarelas para comparecer aos ensaios. A montagem de Elvis coroa o momento em que o paraibano de João Pessoa acumula papéis na TV e no streaming. Nos palcos paulistanos, o papel de Elvis será revezado com o ator Daniel Haidar.

— Tenho brasilidade na veia, talvez tenha algo assim no meu Elvis. Claro, limpamos gestos meus, mas vai escapar uma coisa ou outra, acho que vai ser interessante — diz Leandro.

A performance de Lima, que passou por audições para o papel, surpreendeu o próprio diretor que ainda não conhecia seu trabalho. Não se trata, porém, de sua primeira vez música. O ator tem uma história com o axé e chegou a fazer turnês com a banda Ala Ursa, da qual fez parte. Recentemente, visitou Graceland, a ex-mansão e santuário de Elvis nos EUA, e teve contato com os fãs e objetos pessoais do astro.

— Quando você chega a Graceland é meio impressionante a legião de fãs que estão lá. Fui ao túmulo pedir permissão (para fazer o personagem), para pedir um axé. Foi forte pra mim. Também senti essa emoção no Sun Studios onde ele gravou “That’s all right”, aquele lugar me tocou.

Luiz Fernando Guimarães vive coronel Parker

A montagem, que já vendeu 25 mil ingressos antecipados de acordo com a contagem da produção, também marca a primeira vez que Luiz Fernando Guimarães aparece em uma produção dirigida pelo amigo de longa data Miguel Falabella.

— Miguel não me dirige, somos amigos há muito tempo. Então ficaria esquisito. Ele me dá uns toques, fala que algo que fiz é bom, e aí eu vou improvisando. Muda a depender do público e do meu estado de espírito — diz o ator que fará o coronel Tom Parker, figura decisiva para a derrocada do Elvis original.

Na cinebiografia dirigida Baz Luhrmann, de 2022, o empresário e, em certa medida, algoz de Elvis é vivido por Tom Hanks, figura que Guimarães admira e deve referenciar.

— Não canto, mas dou uns passinhos. Acho bonito e cafona (o coronel tentando entrar no compasso), e meu personagem fala um montão de palavrões e é grosseiro. Tem alguns que nem falo, faço só a mímica o que cria empatia com a plateia. Isso tem o tempo todo — diverte-se Luiz Fernando Guimarães