ESTADOS UNIDOS

Alto funcionário dos EUA reconhece vitória da oposição nas eleições venezuelanas

Chefe da diplomacia afirmou que opositor derrotou Maduro "por milhões de votos"

Edmundo González Urrutia, candidato opositor à Presidência da Venezuela - Federico PARRA / AFP

O chefe da diplomacia dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, afirmou nesta quarta-feira perante a Organização dos Estados Americanos (OEA) que o candidato opositor na Venezuela, Edmundo González Urrutia, derrotou o presidente Nicolás Maduro, proclamado vencedor no domingo após uma contagem eleitoral contestada.

Nichols deu validade às atas eleitorais compartilhadas na internet por organizações da sociedade civil e pela oposição, que afirma ter sofrido fraude, e assegurou: "Está claro que Edmundo González Urrutia derrotou Nicolás Maduro por milhões de votos."

 

"A tabulação desses resultados detalhados mostra claramente uma verdade irrefutável: Edmundo González Urrutia ganhou com 67% desses votos contra 30% de Maduro", afirmou o funcionário americano. "E, simplesmente, não há votos suficientes nas atas de recontagem restantes para superar tal déficit".

Nesta terça-feira, o Centro Carter anunciou que a eleição presidencial na Venezuela não atendeu aos padrões de imparcialidade democrática. A organização atuou como um dos poucos observadores internacionais no país, após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano declarar o presidente Nicolás Maduro como vencedor.

"A eleição presidencial da Venezuela de 2024 não se adequou a parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerada democrática", indicou o Centro Carter em um comunicado, cujos enviados supervisionaram os comícios.

De acordo com o resultado divulgado pelo CNE na madrugada de domingo, com base em 80% das urnas apuradas, Maduro obteve 5,1 milhões de votos (51,2%) contra a 4,4 milhões de votos (44,2%) obtidos pelo candidato da oposição, o ex-diplomata Edmundo González Urrutia. Segundo a oposição, no entanto, González Urrutia teria recebido 6 milhões contra apenas 2,7 milhões de votos de Maduro, menos de 30%.

"Ou sabem que os resultados reais mostram que Edmundo González venceu claramente as eleições e não querem compartilhar os resultados. Ou sabem que os verdadeiros resultados mostram que Edmundo González venceu claramente as eleições e o CNE de Maduro precisa de tempo para preparar resultados falsificados para respaldar sua falsa afirmação", afirmou o funcionário dos EUA.

Principal figura opositora do país, María Corina Machado anunciou junto com o ex-diplomata na noite de segunda-feira a criação de um site reunindo as informações de todas as atas a que dizem terem tido acesso — pouco mais de 73% — e que, afirmam, apresentam uma vitória incontestável do candidato opositor.

Diversas organizações internacionais e representações diplomáticas cobraram uma auditoria do resultado e a divulgação dos dados totais das urnas — incluindo o Centro Carter que, na segunda-feira, pediu ao CNE que publicasse "imediatamente" as atas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou o governo de Maduro a contar os votos “com total transparência” e a liderança política a agir “com moderação”. Apelos semelhantes foram feitos por outros países como EUA e o bloco da União Europeia (EU), e nove países latino-americanos exigiram a "revisão completa dos resultados eleitorais".

O Brasil solicitou, por meio de seu Ministério das Relações Exteriores, a publicação das atas para dar “transparência e legitimidade” à contagem dos votos. Em Caracas, o assessor especial para assuntos internacionais do Planalto, Celso Amorim, encontrou-se com Maduro e com González Urrutia na segunda para discutir a votação. No dia seguinte, o presidente Lula disse em entrevista não ver "nada de anormal" no processo eleitoral venezuelano e reforçou a apresentação das atas pelas autoridades a fim de "resolver a briga".

O resultado causou uma onda de protestos pelo país, e milhares de pessoas tomaram as ruas sob os gritos de "vai cair, vai cair, este governo vai cair!" e "Que entregue o poder já!" Em menos de 24 horas, foram registradas quase 750 detenções nas manifestações, com informações da prisão, separadamente, de dois líderes da oposição. Segundo quatro organizações de direitos humanos, ao menos 11 manifestantes morreram nos atos, além de um oficial das forças de segurança, e há dezenas de denúncias de desaparecimentos.

O ministro da Defesa e chefe das Forças Armadas venezuelanas, Vladimir Padrino López, expressou "absoluta lealdade" a Maduro e afirmou que os protestos "são um golpe de Estado" que promovem "a extrema-direita", prometendo não permiti-los. Na terça, em meio ao aumento dos protestos, o Centro Carter anunciou que vai retirar seus funcionários do país e suspendeu a divulgação de um informe preliminar sobre a votação.