O perigo oculto das apostas "online" permitidas pelo Governo
A recente decisão do governo de autorizar apostas online, incluindo as sedutoras e ilusórias máquinas caça-níqueis digitais, é a crônica de uma tragédia anunciada. O Ministério da Fazenda, com sua nova portaria, lança os dados e joga o destino financeiro de milhões de brasileiros ao acaso.
Mas, vamos ser francos: o verdadeiro cassino não está nos algoritmos dos jogos, e sim na tentativa desesperada de transformar perdas em ilusões de prosperidade.
Sabemos que a propaganda é a alma do negócio. Campanhas publicitárias massivas inundam nossas telas, prometendo o El Dorado nas apostas esportivas e nos jogos de azar. A realidade, no entanto, é um pouco mais cruel.
Por trás das luzes piscantes e dos jingles cativantes, existe um poço sem fundo que consome não apenas dinheiro, mas também a esperança e a sanidade de quem se arrisca a jogar.
Os jogos online representam mais de 60% do faturamento do setor de apostas. Entretanto, é preciso um olhar mais cínico para perceber que esse “crescimento” está erodindo o tecido social e econômico.
Apostas não são investimentos; são, na verdade, um ciclo vicioso onde a vitória é a exceção e a derrota, a regra. O dinheiro que deveria ir para o mercado de trabalho, educação e saúde, agora é sugado por plataformas que, com um sorriso cínico, prometem fortuna.
A ruína financeira não é uma possibilidade, é uma certeza. Dados mostram que a maioria dos apostadores perde mais do que ganha, um fato tão antigo quanto o próprio conceito de jogo.
A economia doméstica desmorona quando o orçamento familiar é dilapidado em buscas ilusórias de riquezas instantâneas. É a matemática implacável das apostas: para cada felizardo que sai na frente, há uma legião de perdedores que subsidia essa vitória.
E não se enganem: a regulamentação, com suas promessas de transparência e justiça, não passa de uma fachada. O governo, ao proibir o formato físico e impor regras para os jogos online, tenta maquiar um problema profundo com uma camada fina de moralidade.
Mas a questão fundamental permanece intocada: o vício em apostas é um problema sério, que precisa ser enfrentado com educação e políticas públicas eficazes, e não com paliativos que só arranham a superfície.
O impacto social e psicológico é devastador. Psiquiatras alertam que o comportamento de apostas vicia tanto quanto substâncias químicas, alterando a percepção e a vida dos jogadores.
A dependência torna-se uma prisão invisível, onde o indivíduo troca a estabilidade emocional e financeira por uma gratificação fugaz e enganosa. A recuperação não é simples; exige apoio, conscientização e uma forte rede de suporte.
Enquanto isso, o governo segue rolando os dados, ignorando que a verdadeira aposta que deveria ser feita é na educação financeira. Sem um entendimento claro sobre como gerir recursos e evitar armadilhas, os brasileiros continuarão a ser presa fácil para o brilho enganoso dos cassinos virtuais.
Deixamos um conselho para quem quiser quer desafiar a sorte: se for para apostar, que seja na própria capacidade de aprender e crescer. Abandone as ilusões e invista em conhecimento, pois é a única aposta que, ao contrário das digitais, sempre vale a pena.
*Jornalista, radialista, filósofo
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