opinião

Ceratocone e alergias: combinação é um perigo para a saúde ocular

O final do mês de junho coincide com o inverno, trazendo uma série de desafios para a saúde, especialmente para aqueles que sofrem de condições como ceratocone e alergias respiratórias.  

De acordo com dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), o ceratocone atinge uma a cada 2 mil pessoas no Brasil e, por ano, afeta cerca de 150 mil brasileiros.

O ceratocone acontece quando a córnea, que é a parte transparente da frente do olho, perde o formato original que é arredondado e vai ficando pontudo, igual a um cone.

Quando isso acontece o grau vai aumentando e a imagem não se forma com nitidez, mesmo quando se utiliza os óculos. O principal fator que causa essa deformação no formato da córnea é coçar os olhos.

A força que fazemos ao coçar os olhos causa o enfraquecimento na córnea e a consequente mudança no formato. É uma doença que costuma surgir no final da infância e início da adolescência.

Portanto, crianças e adolescentes com alergia ocular e que costumam coçar muitos os olhos devem ser acompanhados rotineiramente com exame oftalmológico detalhado e orientados fortemente a abandonarem esse hábito.

O inverno traz um aumento na incidência de alergias respiratórias devido ao ar seco e às mudanças bruscas de temperatura.

Na nossa região, temos aumento de mofo, e com o frio, muitas vezes vestimos aquela roupa que estava guardada, nos expondo à ácaros. E com as chuvas ficamos mais tempo em ambientes fechados, aumentando nossa exposição aos aeroalérgenos.

Além disso, temos maior circulação de vírus respiratórios, como a influenza. Os sintomas incluem espirros, coriza, coceira no nariz e olhos, além de tosse. Para aqueles com alergias respiratórias, é recomendável evitar a exposição prolongada a esses agentes irritantes e se necessário, utilizar máscaras para filtrar partículas do ar.

Pacientes com ceratocone muitas vezes têm maior tendência a alergias oculares, o que pode agravar a condição. Coçar os olhos em resposta à coceira causada por esses quadro pode piorar o afinamento da córnea.  

Já pacientes com alergias respiratórias devem estar cientes de que a inflamação crônica pode afetar os seios da face e a cavidade nasal, complicando ainda mais a respiração e potencialmente afetando a saúde ocular devido à proximidade anatômica.

O ceratocone não tem cura, mas existe controle. Quando falamos em tratamento sempre conversamos sobre dois pontos importantes. O primeiro é: o que podemos fazer para estacionar a doença. E o segundo: o que podemos fazer para melhorar a visão. O tratamento varia de acordo com cada caso.

Manter uma boa higiene ocular é sempre muito benéfico.  O paciente com algum quadro viral vai precisar de medidas como analgésicos e antitérmicos e realizar a lavagem nasal para a secreção não acular e eventualmente o quadro evoluir para uma sinusite bacteriana.

Já pacientes de rinite, além da lavagem nasal e antialérgicos, podem utilizar spray nasal com corticoide para ajudar a aliviar esses sintomas

É importante que aqueles com condições como ceratocone e alergias respiratórias tomem medidas para proteger sua saúde. Reconhecer a relação entre os dois é fundamental para assegurar que os pacientes recebam cuidados abrangentes e eficazes.
 
*Oftalmologista do HOPE
 **Otorrinolaringologista do HOPE

- Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail cartas@folhape.com.br e passam por uma curadoria para possível publicação.