RIO DE JANEIRO

'Tenho ânimo de viver liberdade plena', diz socialite Regina Gonçalves 4 meses após cárcere privado

Idosa recebeu, em seu apartamento, agentes da Patrulha Maria da Penha

Regina Gonçalves é viúva do empresário Nestor Gonçalves, fundador do Conglomerado do Grupo Nestor Gonçalves e Grupo Copag do Brasil - Reprodução

Quatro meses após fugir do cárcere privado onde era mantida pelo marido e ex-motorista José Marcos Chaves, a socialite Regina Gonçalves, de 88 anos, recebeu nesta segunda-feira, em um de seus apartamentos.

No Edifício Chopin, na orla de Copacabana, policiais do programa Patrulha Maria da Penha, que completa cinco anos. Para celebrar da data, a Polícia Militar escolheu Regina como símbolo. Durante o encontro, ela agradeceu pela atuação dos agentes e afirmou que retomou o ânimo pela vida:

Perfumada, vestindo um chapéu dourado, uma echarpe com estampa de onça e com um batom vermelho enfeitando o sorriso, Regina Gonçalves relatou que, quatro meses após sua fuga do cárcere privado, onde era mantida por seu então marido José Marcos Chaves, ela se sente cheia de energia.

— Eu agora sou outra pessoa, tenho ânimo de viver a liberdade plena — revela. — Quero encontrar minha família, meus amigos, aproveitar a minha nova liberdade e ser feliz; quero ser uma mulher realizada.

Mostrando-se bastante lúcida, como apontou um laudo conseguido com exclusividade pelo O Globo, a socialite também afirmou que foi bem acolhida pela patrulha. E incentivou que outras vítimas "procurassem ajuda e lutassem por sua liberdade".

— Eles (os policiais) me devolveram a vida; serei para sempre extremamente grata — diz Regina. — Eles fizeram com que eu me sentisse protegida, em um momento em que eu me encontrava muito vulnerável.

Um dos organizadores da patrulha, o sargento R. Silva afirmou que a idosa que ele viu nesta segunda-feira é muito diferente dá que ele encontrou meses atrás.

— Normalmente, as pessoas acham que só mulheres pobres, sem independência financeira, passam por isso — explica Silva. — Mas a realidade é que o abuso doméstico, de todos os tipos, afeta todas as classes. Muitas vezes, a mulher é independente financeiramente, mas tem uma dependência emocional que a impede de enxergar uma saída daquela situação.

Durante o encontro, a socialite também relembrou como era sua vida no período em que passou com José Marcos:

— Ele deixava de pagar as minhas contas e não me ajudava com nada — relembra. — Eu estava fraca, mal alimentada, mas não conseguia nem pedir socorro. Até o dia que eu conseguir reunir forças para fugir.

Em uma declaração recente para a polícia, a socialite chegou a dizer que ficou "indignada" ao saber que estava sem dinheiro e com dívidas por conta dos desvios feitos por José Marcos.

Acompanhando Regina durante o encontro, a advogada Beatriz Abraão, que está assessorando a socialite, disse que o caso está longe de ser encerrado:

— Estamos entrando, agora, na segunda etapa do inquérito. Durante as investigações, foram descobertas provas que apontam para a existência de uma associação criminosa que estava atuando "por trás" das ações dele (José Marcos).

Além dessas novas descobertas, a socialite está no meio de uma disputa judicial entre José Marcos e a família dela, que o acusa de violência doméstica e patrimonial.

Amigo de Regina, o empresário João Chamarelli contou que, embora seus familiares acreditem que a idosa está segura, eles estão preocupados com a decisão recente da desembargadora da 6ª Câmara de Direito Privado, Valéria Dacheux:

— A família tem a sensação de que a desembargadora deseja que Regina retorne para as mãos de seu agressor — relata. — Todos esperávamos que houvesse não só imparcialidade, mas sororidade por parte da desembargadora.

No final de abril, a desembargadora, contrariando sentença em primeira instância, manteve a tutela provisória de Regina com o marido e revogou a medida protetiva de afastamento dos dois.

No dia 11 de julho, a Ministra Maria Helena Mallmann, do Tribunal Superior do Trabalho, pediu ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para investigar a conduta da desembargadora.

O Globo entrou em contato com o advogado de José Marcos, mas até o momento da publicação desta matéria, não obteve retorno.

Patrulha Maria da Penha
O programa Patrulha Maria da Penha (PMP), da Polícia Militar, destina-se a proporcionar acolhimento às mulheres em situação de violência e seus filhos.

Geralmente funcionam em batalhões da PM ou em áreas próximas. Desde sua criação, em agosto de 2019, já atendeu 77.375 mulheres.

Nesse período, foram feitas 692 prisões, a maioria por descumprimento de medida protetiva. De acordo com levantamento da PM, 40,61% das vítimas são mulheres negras. E 42,9% têm entre 30 e 49 anos.