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Reino Unido mobiliza seis mil policiais para reprimir protestos violentos

Centenas de prisões já foram efetuadas em decorrência das manifestações que começaram na semana passada

Policiais enfrentam manifestantes em Liverpool, no Reino Unido, em meio aos protestos violentos que se espalham pelo país - Peter Powell/AFP

A ministra da Justiça do Reino Unido, Heidi Alexander, afirmou, nesta terça-feira, que o governo mobilizou seis mil policiais especializados para reprimir os protestos violentos de extrema-direita após outra noite de manifestações em diversas cidades.

Além disso, em entrevista à BBC Radio 4, disse que mais 500 vagas foram liberadas nos presídios em meio à escalada da violência. Centenas de prisões já foram efetuadas por causa dos tumultos, que começaram na semana passada.

O primeiro-ministro Keir Starmer, após uma reunião do gabinete, afirmou que “99,9% das pessoas em todo o país querem que suas ruas sejam seguras e que se sintam seguras em suas comunidades” e disse que o governo tomará "todas as medidas necessárias para acabar com a desordem".

 

Starmer já havia dito que sua prioridade "absoluta" é acabar com a instabilidade e garantir que "as sanções criminais sejam rápidas" aos envolvidos. O primeiro-ministro afirmou ainda que eles "se arrependeriam" de ter contribuído para o cenário de violência no Reino Unido.

As manifestações foram organizadas sob o lema “Enough is enough” (“Basta”). Nesta segunda-feira, o Conselho Nacional dos Chefes de Polícia (NPCC, da sigla em inglês) informou que 378 pessoas foram presas até o momento.

Ontem, no quinto dia, manifestantes atiraram tijolos, garrafas e sinalizadores nos agentes de segurança — ferindo vários policiais —, enquanto saqueavam e queimavam lojas, gritando insultos anti-islâmicos. Seis pessoas foram presas em Plymouth, no Sul da Inglaterra.

Em Belfast, na Irlanda do Norte, policiais foram atacados após participantes dos protestos incendiarem uma loja cujo dono era um imigrante. A corporação disse que um homem de 30 anos foi gravemente agredido e que trata o caso como um crime de ódio com motivação racial.

Em Birmingham, no Centro da Inglaterra, um grupo de homens que se reuniu supostamente para combater a manifestação da extrema-direita forçou uma repórter da emissora Sky News a sair do ar aos gritos de "Libertem a Palestina". A profissional foi seguida por um homem com uma balaclava e uma faca.

Outro repórter afirma ter sido perseguido por membros do grupo "com o que parecia ser uma arma", enquanto a polícia diz que também houve danos criminais a um bar e a um carro na região.

No domingo, cerca de 700 pessoas lançaram projéteis e atearam fogo em um hotel da rede Holiday Inn, conhecido por acolher solicitantes de asilo no Reino Unido, em Rotherham. Na sexta-feira, mesquitas e uma delegacia também foram atacadas.

Em Burnley, no Noroeste da Inglaterra, uma investigação de crime de ódio está em andamento depois que lápides em uma seção muçulmana de um cemitério foram vandalizadas com tinta cinza.

— Que tipo de indivíduo maligno realizaria tais ações ultrajantes, em um local sacrossanto de reflexão, onde entes queridos são enterrados, com a única intenção de provocar tensões raciais? — questionou o conselheiro local Afrasiab Anwar.

A ministra do Interior, Yvette Cooper, disse que "haverá um acerto de contas" e defendeu que as redes sociais colocaram um "propulsor de foguetes" sob a violência. Starmer enfatizou que "a lei criminal se aplica tanto on-line quanto off-line", com prisões tendo sido feitas com base em publicações feitas no Facebook e no Snapchat.

A polícia atribuiu o ataque a pessoas associadas à extinta Liga de Defesa Inglesa, uma organização islamofóbica de extrema-direita fundada há 15 anos, cujos apoiadores foram ligados ao hooliganismo no futebol.

Protestos começaram após ataque em aula de dança
O país não vivia uma explosão de violência dessa magnitude desde 2011, quando o jovem negro Mark Duggan foi assassinado pela polícia de Londres. Embora as condenações à violência sejam unânimes pelo governo trabalhista, com o passar dos dias começam a surgir críticas. A ex-ministra conservadora do Interior, Priti Patel, pontuou que o governo “corre o risco de parecer arrastado pelos acontecimentos em vez de manter o controle”.

O estopim para as manifestações foi um ataque perpetrado por um adolescente britânico, que invadiu uma aula de dança e esfaqueou as crianças que estavam no local, há uma semana. Seu nome não havia sido divulgado por ele ser menor de idade — segundo a legislação local, a polícia só poderia revelar sua identidade depois que ele fizesse 18 anos.

No entanto, em meio a falsos rumores sobre a nacionalidade e religião do agressor – que afirmavam se tratar de um muçulmano imigrante em busca de asilo no Reino Unido – um juiz decidiu tomar a decisão, considerada “excepcional”, de revelar que o criminoso era Axel Rudakubana, de 17 anos, que nasceu na cidade britânica de Cardiff e é filho de ruandeses.

No atentado, ele esfaqueou 11 crianças. Três delas morreram: Bebe King, de 6 anos, Elsie Dot Stancombe, de 7, e Alice da Silva Aguiar, de 9. Outras cinco, junto a dois adultos, estão hospitalizados em estado grave.

Os confrontos eclodiram na cidade de Southport, a cerca de 30 km de Liverpool, onde foi o ataque, logo no dia seguinte.