conflito

Membros da Guarda Revolucionária recrutados por Israel instalaram bomba que matou Haniyeh

Matéria do Jewish Chronicle afirma que explosivo foi colocado no quarto do líder político do Hamas por integrantes de unidade responsável pela segurança de autoridades

Iranianos carregam foto de Ismail Haniyeh, líder da ala política do Hamas, morto em Teerã no dia 31 de julho - AFP

Cerca de uma semana depois do assassinato do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã, em um atentado que deixou o Oriente Médio mais uma vez à beira de um conflito de grande porte, o jornal Jewish Chronicle afirmou que ele foi morto por uma bomba plantada por dois integrantes da Guarda Revolucionária recrutados por Israel.

A versão é diferente das apresentadas pelo governo iraniano, que aponta para um “projétil externo”, e para fontes de serviços de segurança, que alegam que o explosivo foi colocado no quarto do líder do grupo terrorista meses antes.

Segundo o Jewish Chronicle, dois integrantes da Unidade Ansar al-Mahdi da Guarda Revolucionária, responsáveis pela proteção de altos integrantes do regime (com exceção do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei) e seus convidados, foram recrutados pelo Mossad, um dos serviços de inteligência de Israel, pouco antes do ataque.

Haniyeh já era um alvo na mira do Mossad, mas a confirmação de sua presença em Teerã para a posse do novo presidente Massoud Pezeshkian, foi considerada a oportunidade perfeita para o atentado. Telefonemas foram interceptados, o local onde o líder palestino ficaria hospedado mapeado e um plano de ação foi desenhado.

No dia do ataque, os dois iranianos a serviço de Israel entraram no prédio onde Haniyeh ficaria hospedado, onde foram identificados e liberados sem qualquer questionamento.

Câmeras de segurança os gravaram caminhando pelo corredor, entrando no quarto e saindo minutos depois — segundo o Jewish Chronicle, o explosivo, um pequeno bloco retangular, foi colocado debaixo da cama. Os dois deixaram o local rapidamente, sem levantar suspeitas.

Ambos receberam a promessa de um pagamento generoso, de centenas de milhares de dólares, e de realocação imediata para algum país no Norte da Europa, para onde foram levados uma hora depois.

Esse contato só foi possível graças à extensa rede de espionagem israelense dentro do Irã, que no passado viabilizou assassinatos de cientistas nucleares e a obtenção de segredos de Estado, como sobre as atividades atômicas.

Além dos dois infiltrados, havia outros agentes israelenses em solo: cinco deles, afirma o jornal, estavam no topo de árvores próximas ao prédio onde ficaria Haniyeh, e deveriam informar o momento da chegada do líder palestino.

Um outro grupo, também no alto de árvores, deveria informar quando Haniyeh apagasse as luzes do quarto, um sinal de que deitaria na cama supostamente segura. A detonação foi feita por um robô, e matou uma das principais faces do Hamas imediatamente, assim como seu guarda-costas.

A morte de Haniyeh, horas depois da posse de Pezeshkian, foi considerada por analistas como um dos maiores fracassos de segurança da história da República Islâmica: ele estava sob proteção da mesma unidade responsável pela proteção do presidente, de ministros e membros do alto escalão do governo.

Para um país que expõe regularmente seu aparato de repressão contra a população interna, a incapacidade de impedir um assassinato contra um convidado estrangeiro em sua capital explicitou falhas e, especialmente, o nível da infiltração israelense em linhas supostamente leais ao regime.

Mais de vinte pessoas foram presas nos dias seguintes ao ataque, atribuído inicialmente pe las autoridades iranianas a um projétil lançado de fora do prédio — um ataque aéreo chegou a ser apontado, mas fontes em serviços de segurança ocidentais apontavam para um explosivo plantado dentro do quarto de Haniyeh, mas que teria sido colocado ali meses antes do atentado.

Israel não assumiu a autoria do ataque, tampouco negou ser responsável, mas os abalos sísmicos por ele provocados ainda estão sendo sentidos no Oriente Médio. O Irã prometeu uma resposta armada, assim como a ocorrida em abril, quando Israel bombardeou o consulado do país em Damasco, na Síria.

Na ocasião, cerca de 300 mísseis e drones foram lançados contra Israel pelos iranianos, um ataque evitado pelas defesas israelenses com a ajuda de aliados como EUA, Reino Unido e nações árabes, como a Jordânia.

Mas o cenário atual inspira ainda mais atenção. A guerra em Gaza contra o Hamas está onge de um desfecho, e uma nova frente, na fronteira entre Israel e Líbano, contra o Hezbollah, está cada vez mais aberta.

Nesta terça-feira, a milícia libanesa — que no final de semana lançou dezenas de foguetes contra Israel — realizou um ataque com drones. Além de bombardeios, caças israelenses sobrevoaram Beirute, quebrando a barreira do som.

Um novo ataque iraniano, considerado inevitável por autoridades em Teerã, traz o risco de ampliar de vez o conflito para além de Gaza, incluindo o Líbano, que vive uma sequência sem fim de crises, e outros países da região, como Iraque, Síria e o próprio Irã, que não dá sinais de que esteja disposto para enfrentar um conflito desse porte.