RIO DE JANEIRO

Tarcísio Motta busca colar Paes em Bolsonaro e critica acordo com governo Lula por hospitais

Em sabatina do g1, candidato do PSOL à prefeitura do Rio cita afagos de adversário ao ex-presidente

Tarcísio Motta - reprodução


e diz que municipalização de hospitais foi 'medida eleitoreira'
Agência O Globo -
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Em sabatina realizada pelo g1 nesta quarta-feira, o candidato à prefeitura do Rio pelo PSOL, Tarcísio Motta, buscou associar o atual prefeito Eduardo Paes (PSD) ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Um dos argumentos usados pelo candidato psolista foi aliança entre Paes e o deputado bolsonarista Otoni de Paula (MDB), que envolveu, conforme revelado pelo GLOBO nesta quarta-feira, a nomeação de pastores evangélicos na Fundação Jardim Zoológico, parte da administração municipal.

Tarcísio, que tem buscado atrair para sua candidatura o eleitorado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chamou ainda de "medida eleitoreira" o acordo costurado pela atual ministra da Saúde, Nísia Trindade, para repassar hospitais federais na capital fluminense à gestão de Paes.

Apesar de integrar a base do governo Lula na Câmara dos Deputados, Tarcísio não conseguiu atrair o apoio formal do PT e de outros partidos de esquerda, como PSB e PDT, que decidiram integrar a coligação de Paes. O candidato do PSOL negou, porém, que esteja isolado na disputa pela prefeitura, e disse que seu partido vem se aproximando da militância petista no Rio desde a campanha de 2018, quando Bolsonaro derrotou Fernando Haddad (PT) no segundo turno presidencial.

-- Parte da esquerda identificou que era preciso fazer uma aliança grande em torno do Eduardo Paes, mas nossa compreensão é de que Paes não é um voto contra a extrema-direita. Ele próprio continua a comprovar essa situação. Nomeia o Otoni de Paula, um bolsonarista de quatro costados, para ser seu coordenador de campanha, e agora vem nomeando aliados de Otoni para a Fundação Jardim Zoológico. (...) Enquanto o Eduardo Paes declarava voto no Bolsonaro no segundo turno, no debate do SBT em 2018, nós estávamos fazendo campanha para o Haddad -- disse Tarcísio.

Paes, na ocasião citada por Tarcísio, não chegou a declarar voto em Bolsonaro, mas sim minimizou críticas ao então candidato à Presidência. Questionado naquele debate sobre uma declaração de Bolsonaro, de que iria "banir os marginais vermelhos" do país, Paes argumentou à época que nunca tinha visto "qualquer gesto de autoritarismo antidemocrático" no contato entre ambos.

Na sabatina do g1, Tarcísio também afirmou ser contra a municipalização do Hospital Federal do Andaraí, que faz parte de um acordo entre Paes e o governo Lula para que a prefeitura assuma a gestão da unidade de saúde, que está mergulhada em uma crise.

Além deste hospital, o Ministério da Saúde discute repassar outras unidades federais na cidade, como o Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá.

O candidato do PSOL argumentou que a prefeitura já tem dificuldades para gerir hospitais municipais, e que poderia auxiliar o atendimento das unidades federais ao público se cedesse servidores do município para "complementar a mão de obra".

-- A municipalização é uma falsa solução. Recentemente tivemos hospitais municipais com gente sofrendo acidente dentro de elevador. É medida eleitoreira, equivocada por parte do Ministério da Saúde do meu governo (Lula) e por parte da prefeitura.

Demolição de prédios irregulares será 'caso a caso'
Questionado também sobre o combate a habitações irregulares, especialmente construídas em áreas dominadas pela milícia, Tarcísio afirmou que as demolições serão avaliadas "caso a caso".

Ele argumentou que há pessoas que adquirem imóveis de organizações criminosas por não terem alternativa, e que a prefeitura precisa tomar esses imóveis de milicianos.

-- A demolição de um prédio, sendo ele da milícia ou não, tem que ser caso a caso. Aquilo ali é um risco ambiental? Há um risco estrutural na forma como aquele prédio foi construído? Tudo isso são critérios que precisam ser colocados. Agora, a ilegalidade será combatida. Não é possível que o miliciano se torne um agente imobiliário da favela e da periferia. Você pode retirar da milícia a propriedade daquele prédio e oferecer moradia para aquelas famílias -- argumentou.

O candidato psolista também disse que retomará, em um primeiro momento, a escala de 12 horas de trabalho e 60 horas de folga para a Guarda Municipal, a chamada escala "12 por 60", que foi substituída na gestão Paes uma escala "12 por 36". Ele argumentou que, mesmo com uma escala com menos horas de trabalho, haverá guardas em número suficiente na rua se a Guarda Municipal não atuar como "vilã de camelô".

-- Temos 7 mil guardas, em um primeiro momento isso é suficiente. O problema é a falta de planejamento do território da cidade para a questão da segurança. Você vê em certas áreas do centro da cidade e da Zona Sul, às vezes no mesmo quarteirão, uma viatura do Segurança Presente, outra da Polícia Militar e outra da Guarda Municipal, enquanto outras áreas não tem nenhuma dessas coisas.

Embora seu partido seja habitualmente crítico de ações de retirada de camelôs das ruas, Tarcísio afirmou que em uma eventual gestão do PSOL a prefeitura vai proibir esta atuação em determinadas áreas. Ele argumenta que, primeiramente, é preciso organizar as emissões de Taxa de Uso de Área Pública (TUAP), para regularizar as atuações de camelôs sem necessidade de "pedir favor ao vereador da área".

-- A lei aprovada em 2017 previa 18 mil vagas para camelôs na cidade. Nós hoje projetamos que essas vagas sequer estejam ocupadas, embora nós tenhamos mais de 30 mil camelôs na cidade. O número de 18 mil ainda é condizente? Se for, vamos cumprir essa perspectiva dizendo quantas são as vagas por bairro. (...) Não pode ter camelô na passarela do trem, tem que ter lugar. A Guarda Municipal vai retirar, mas não atirando bomba, e sim dando lugar para pessoa trabalhar. A prefeitura hoje atua para reprimir, e não para garantir o ordenamento do espaço público - criticou.