Greve dos ônibus do Grande Recife começa nesta segunda (12) com expectativa de muitos transtornos
Para a população, como pôde ser visto nos últimos anos, a perspectiva é de muito transtorno para os próximos dias
A greve dos motoristas de ônibus no Grande Recife começa nesta segunda-feira (12). O retorno da categoria ao serviço, até o momento, segue sem previsão.
Com isso, a expectativa do dia é que a maior parte dos veículos não deixe as garagens. Para a população, como pôde ser visto nos últimos anos, a perspectiva é de muito transtorno.
A greve foi decidida após serem realizadas assembleias em 12 empresas. Por meio de votações, os trabalhadores aprovaram o indicativo de paralisação geral, marcada para esta segunda.
Os trabalhadores buscam, entre outras demandas, reajuste salarial e implementação de plano de saúde.
À Folha de Pernambuco, o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Aldo Lima, afirmou que a categoria segue aberta a novas negociações.
"Estamos abertos a negociar. Se eles fizerem uma boa proposta, a gente suspende a greve. Precisamos de uma proposta concreta", disse.
Ainda de acordo com Aldo Lima, a própria categoria não deseja uma greve, já que o movimento vai causar muitos transtornos para a população.
"A greve é um instrumento que a classe trabalhadora utiliza quando as negociações não avançam. Procuramos todos os meios para que isso não acontecesse, mas não conseguimos. A greve representa uma necessidade dos trabalhadores", começou.
"A greve é ruim para todo mundo. Para a população, que sofre todos os dias com o serviço sucateado. Para os motoristas, que não têm condições de trabalho dignas. E é muito ruim também porque vamos depender de terceiros, do judiciário, para que esse acordo aconteça", completou.
Grande Recife determina frota mínima
Na noite da última quinta-feira (8), o Grande Recife Consórcio de Transporte (CTM), que gere as operadoras de ônibus na região, pediu pelo funcionamento parcial da frota regular programada para o mês de agosto.
De acordo com a empresa, 70% dos ônibus estabelecidos na frota regular do mês devem seguir operando entre os horários considerados de maior movimento de usuários, ou seja, das 5h às 9h e das 16h às 20h. Nos demais horários deve ser mantido o percentual de 50%. A medida, segundo o Grande Recife, deverá "reduzir os transtornos e prejuízos maiores à população".
O Sindicato dos Rodoviários, no entanto, descartou a determinação do CTM. "A greve é legal. Fizemos todos os trâmites, com as votações pelo indicativo de greve e estabelecimento de uma data de início oficial. Nos dias de trabalho normal, o Grande Recife pode opinar e decidir as coisas. Nos dias de greve, quem decide é o trabalhador, a menos que chegue alguma determinação da Justiça", explicou Aldo.
Já a Urbana-PE, que representa as empresas de ônibus do Grande Recife e negocia com os rodoviários, repudiou, por meio de nota, a greve da categoria.
Transtornos para a população
Sem ônibus, a população vai ter poucas opções para chegar ao trabalho, escola, faculdade e demais deslocamentos pelo Grande Recife.
Alguns passageiros, como foi possível observar em paralisações anteriores, deverão se arriscar nas paradas na esperança de encontrar a linha desejada. Outras deverão optar por aplicativos de transporte - que, principalmente em períodos de greve, com a alta procura, ficam com os preços nas alturas.
Um dos prejudicados é Artur Serrano, estudante de 21 anos. Ele reside em Olinda, mas precisa se deslocar todos os dias para o Recife por conta do estágio e da aulas na faculdade. Ele não sabe ainda o que vai fazer durante a paralisação.
"Vai ficar muito complicado para mim com a paralisação, porque eu estagio na Zona Norte do Recife pela manhã e tenho aula à tarde na UFPE, sendo que eu moro em Olinda. O deslocamento de ônibus para mim é essencial, e com a greve eu não tenho como comparecer aos meus compromissos diários", contou.
Apesar dos transtornos, no entanto, Artur aprova a paralisação. "Acho que a greve sempre é um movimento válido para a busca dos direitos dos trabalhadores, mas sempre existe também um prejuízo pra nós que dependemos do transporte público,
O que diz a Urbana-PE
A Urbana-PE afirmou que "se manteve aberta ao diálogo durante todo o processo, apresentou propostas concretas e sempre buscou um entendimento com os representantes da categoria".
Perguntada se já existe alguma ação na Justiça sobre a questão, a Urbana-PE afirmou que "está monitorando a operação e avaliará ao longo dos próximos dias quais providências deverão ser tomadas".
A empresa disse ainda que "se mantida a greve anunciada pelos rodoviários, a Urbana-PE tomará todas as medidas possíveis para minimizar os transtornos à população, o que inclui acionar a justiça do trabalho com expectativa de breve julgamento para cessar os prejuízos sistematicamente causados pelas lideranças rodoviárias".
Em contato com a reportagem, o Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT-6) informou que ainda não abriu processos a respeito da parada. O órgão atuou como mediador da negociação que pôs fim à paralisação do ano passado. À época, a Justiça impôs uma multa de R$ 30 mil para os rodoviários por cada dia de greve, o que agilizou o acordo.
Reprovação das propostas
Os rodoviários negociam reajustes com a Urbana-PE há cerca de um mês. Segundo o sindicato, no entanto, as propostas não apresentaram melhorias significativas. Os motoristas alegam ainda que a empresa é capaz de oferecer, financeiramente, condições melhores do que foi proposto até agora.
Uma das propostas atuais é de 0,5% de aumento do salário acima da inflação. O pedido dos rodoviários, no entanto, foi de 5% de reajuste real.
A Urbana-PE propôs, ainda, um valor de R$ 400 para o vale-alimentação, além de um abono de R$ 180 para quem exerce a dupla função - também não aceitos pela categoria. Há, ainda, a instituição de um plano de saúde para os trabalhadores, que até hoje não contam com o benefício, assim como o controle das horas trabalhadas.
Relembra a última greve
No ano passado, entre os dias 26 e 31 de julho, a população do Grande Recife passou por dificuldades na última greve dos rodoviários.
Em seis dias de paralisação, usuários do transporte público da região enfrentaram longas filas e ônibus lotados - nos poucos veículos que seguiram rodando após contratos temporários das empresas.
À época, a categoria conseguiu reajuste salarial de 4%, além do abono de 70% dos dias de greve para os trabalhadores. Houve também a compensação das horas extras ou complementares, ponto importante para o sindicato.
De lá para cá, no entanto, o clima não esfriou. Somente neste ano a categoria já realizou diversos protestos, com paralisação dos ônibus. As motivações, dentre outras, são cobranças por melhoria das condições de segurança para os trabalhadores, que passaram por casos de violência recorrentes.