Saúde

Mpox: OMS pede a fabricantes que submetam vacinas para uso emergencial em meio a surto da cepa

Nesta quarta-feira, diretor da organização anunciou que um comitê vai se reunir para avaliar se cenário representa emergência de importância internacional

Monitoramento de novos casos de Mpox se intensifica - Divulgação/SES

A Organização Mundial da Saúde ( OMS) emitiu um documento oficial, nesta sexta-feira, em que convida fabricantes de vacinas contra o Mpox a enviaram uma Expressão de Interesse para a Listagem de Uso Emergencial (EUL, da sigla em inglês), ou seja, a submeterem as doses para aprovação de uso em caráter de emergência.

Em meio à alta da doença e o risco de uma nova disseminação global, o diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse, na última quarta-feira, que um comitê do órgão vai se reunir “o mais breve possível” para avaliar a Mpox representa novamente uma emergência de saúde pública de importância internacional, o nível mais alto de alerta da organização.

“Há um surto grave e crescente na República Democrática do Congo (RDC) que agora se expandiu para fora do país. Uma nova cepa viral, que surgiu pela primeira vez em setembro de 2023, foi detectada pela primeira vez fora da RDC”, diz a OMS no comunicado desta sexta.

O órgão explica que o EUL “é um processo de autorização de uso emergencial, desenvolvido especificamente para agilizar a disponibilidade de produtos médicos não licenciados, como vacinas, que são necessários em situações de emergência de saúde pública.

Trata-se de uma recomendação com prazo limitado, baseada em uma abordagem de risco-benefício”.

“A OMS está solicitando aos fabricantes que enviem dados para garantir que as vacinas sejam seguras, eficazes, de qualidade assegurada e adequadas às populações-alvo”, continua.

Uma eventual aprovação pode acelerar o acesso à dose, especialmente em países de baixa renda, e permitir que parceiros como Gavi e Unicef adquiram os imunizantes para distribuição.

Hoje há duas vacinas aprovadas por outras autoridades regulatórias, que são recomendadas pelo Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização da OMS, o SAGE, e que podem se beneficiar do processo.

Novo surto de Mpox
Durante uma coletiva nesta quarta-feira, o diretor da OMS citou que, embora a Mpox seja endêmica na RDC, o país vive um surto neste ano que já deixa mais de 14 mil infectados e 511 mortos.

Para comparação, a disseminação global em 2022, que atingiu todos os continentes habitados, provocou 85 mil casos, mas somente pouco mais de 120 óbitos naquele ano.

— Surtos de Mpox têm sido registrados na RDC há décadas, e o número de casos registrados a cada ano tem aumentado de forma constante. No entanto, o número de casos registrados nos primeiros seis meses deste ano é igual ao número registrado em todo o ano passado, e o vírus se espalhou para províncias anteriormente não afetadas — acrescentou Tedros Adhanom.

Além disso, no último mês, cerca de 50 casos confirmados e mais outros suspeitos foram relatados em quatro países vizinhos que não tinham registros de Mpox: Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda.

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da África (CDC Africa), o continente vive uma alta de 160% nos diagnósticos em relação a 2023 – que, por sua vez, teve 60% de registros a mais do que em 2022.

Jean Kaseya, diretor-geral da organização, disse numa coletiva nesta quinta-feira que o CDC Africa “provavelmente” vai declarar um cenário de emergência de saúde pública no continente na próxima semana.

A medida facilitaria o acesso a financiamento e ferramentas para combater a epidemia, como as vacinas.

Segundo o órgão, pelo menos 16 dos 55 africanos estão afetados.

Uma preocupação é justamente que a cepa que se dissemina agora não é a mesma do surto mundial de 2022.

A Mpox é uma doença semelhante à varíola erradicada em 1980, embora mais rara e geralmente mais leve.

Existem duas principais cepas conhecidas, uma associada à África Central na região do Congo (que era chamada de Central African clade ou Clado do Congo) e outra à África Ocidental na região da Nigéria (chamada de West African clade ou Clado da Nigéria).

Elas foram renomeadas, respectivamente, para Clado 1 e Clado 2, no final de 2022, no mesmo movimento que trocou o nome da doença de varíola dos macacos para Mpox.

O surto mundial daquele ano foi provocado pelo Clado 2, que é mais leve, com taxa de mortalidade de cerca de 1%. Já o Clado 1 tem uma letalidade de aproximadamente 10%, ou seja, 10 vezes mais grave.

E o surto atual na RDC é causado por uma nova ramificação do Clado 1, chamada de Clado 1b. — O Clado 1b (também) foi confirmado no Quênia, Ruanda e Uganda, enquanto em Burundi ainda está sendo analisado — continuou.

Em abril de 2023, a OMS já havia alertado que essa nova cepa do Clado 1, assim como ocorreu com o 2 na disseminação global, foi ligada pela primeira vez à transmissão por meio de relações sexuais.

Em uma avaliação do surto, de junho, a organização disse que a "transmissão comunitária sustentada (...) impulsionada pela transmissão sexual e outras formas de contato físico próximo" fazem o risco ser alto na RDC.

— Dada a propagação da Mpox fora da República Democrática do Congo (RDC) e a possibilidade de uma nova propagação internacional dentro e fora da África, decidi convocar um comitê de emergência para me aconselhar sobre se a epidemia constitui uma emergência de saúde pública de interesse internacional. O comitê irá se reunir o mais rápido possível — declarou Tedros Adhanom.