Moda

Moda das ruas dos anos 2000 volta com tudo, impulsionada pelas redes e por artistas como Anitta

Entenda como a tendência nascida nas favelas do Rio, conquistou o público mais uma vez. Para especialista, o desejo de impactar também faz a cabeça dos que aderem ao antigo transformado em novidade

Moda dos anos 2000 volta a aparecer - Canva

Parece código: Y2K. A abreviação vem da expressão em inglês “Year 2000”, virou febre em vídeos e fotos nas redes sociais, em especial no Instagram e no TikTok, e propõe uma viagem no tempo.

A tendência que vem inspirando figurinos de novas gerações — e outras nem tanto — propõe uma releitura de peças que foram badaladas há pelo menos duas décadas (daí o “ano 2000”, em bom português).

E tome óculos juliet, conjuntos femininos de lycra, shorts jeans desfiados, a lendária calça da Gang e calça jeans masculina larguíssima, entre outros itens que ganham, no Rio da leveza, dos corpos à mostra e da informalidade, o cenário perfeito.

A onda adquire ainda mais força quando ícones da cultura pop como Anitta exportam o que é que essa moda tem.

Famosas da geração Z também entraram na brincadeira. Bella Campos, de 26 anos, que protagonizou as novelas “Pantanal” e “Vai na Fé”, ambas da TV Globo, é uma delas.

A artista tem mais de dez milhões de seguidores no Instagram e vez ou outra escancara sua inspiração na moda das ruas e das comunidades cariocas. É possível uma cuiabana de nascença bancar o “estilo de cria?”. Ela responde:

— Cria é quem nasceu em comunidades do Rio. Isso não tem discussão. Mas é lindo ver a moda ultrapassando barreiras. Se podemos nos inspirar em estilos internacionais, por exemplo, por que não valorizar o que temos por perto? Vou do biquíni de fita à alta costura. É uma forma de me sentir livre! Limitações definitivamente não fazem parte do meu closet! — frisa a atriz.

A consultora de moda e imagem Mara Fiorini explica que a nova geração foi seduzida por uma questão de nostalgia.

Y2k reflete a tendência de nostalgia de jovens - Canva

— Os jovens de hoje em dia idealizam o passado, uma era que não viveram — opina.

Para a especialista, o desejo de impactar também faz a cabeça dos que aderem ao antigo transformado em novidade:

— Essa era do funk dos anos 2000 traz para a nova geração a sensação de criatividade, liberdade e ousadia. Justamente porque o estilo da época era polêmico e marcante. Mas a tendência voltou e vai usar quem se sentir bem.

A atriz Bruna Marquezine também se rendeu. Num evento recente, apostou numa calça baggy larguíssima. Mas os adeptos não são só os que colecionam milhões nas redes sociais e na conta bancária. Em lojas e camelôs da cidade, é possível encontrar réplicas de óculos juliet a R$ 20 e minissaia por até R$ 80.

Estoque esgotado

Maria Rosário, que tem um ateliê na Tijuca, Zona Norte do Rio, vende os badalados itens e mata saudades:

— Sou vendedora há mais de 30 anos. Vivi essa era da Furacão. Achei inclusive que nunca mais voltaria. Quando vi que as pessoas estavam procurando as peças para usar, corri para alimentar o estoque. Eram clientes de dentro e de fora da favela. Em menos de um mês meu estoque com mais de 300 peças já estava esgotado. É sucesso total — conta.

A consultora Mara Fiorini explica que as redes sociais ajudam a propagar a volta de um estilo nascido nas periferias. O Tiktok — que teve 5 bilhões de visualizações de clipes e vídeos de artistas nesse estilo — foi responsável, ainda de acordo com a consultora, por fortalecer a teoria do Ciclo dos 20 anos, em que a moda de uma época é resgatada e repaginada pela geração seguinte.

— A geração Z está encantada com esse retorno. Os influenciadores ajudam e alavancam. Por isso, é comum ver pessoas de diferentes classes sociais aderindo. Até mesmo quem não é do funk. Outro ponto importante é que essa nova geração tem uma preocupação maior com o meio ambiente e essa tendência estilo Furacão 2000 resgatou as idas ao brechó e a busca por roupa vintage — explica.

Artistas internacionais também são referência. Para a consultora, influencia o comportamento do consumidor o fato de ícones fashion e marcas insistirem em explorar as imagens da vez:

— Às vezes, a pessoa nem quer aderir, mas é difícil resistir. É uma moda interessante porque atinge várias classes sociais. Uns vão usar os trajes de forma “raiz”, como a Anitta, e outros de forma mais suave.

Integrante da ala das passistas da escola Paraíso do Tuiuti por 12 anos, Thay Oliveira, de 33 anos, agora é musa da agremiação.

Ela conta que pisou num baile funk pela primeira vez aos 14 anos, acompanhada do irmão mais velho.

A vida no samba, no entanto, iniciou-se muito antes, quando ela ainda era criança.

Cria de uma comunidade em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, a sambista explica que, mesmo inserida no universo das quadras de carnaval, gosta de usar roupas e acessórios dos tempos dos bailes da Furacão 2000.

— Acho bacana que o estilo esteja voltando. Vejo muitas meninas na quadra aderindo, até as que não viveram essa época. Eu gosto de trazer o funk para a quadra. Acho importante celebrar a cultura carioca. A cultura que nasce na comunidade e fura a bolha do preconceito. Antes as mulheres tinham medo de usar peças curtas porque eram vistas de forma pejorativa. Agora, temos a liberdade de brincar com esse estilo — opina Thay.

‘Ainda cabiam’

Aos 50 anos, a funkeira carioca Cláudia Mendes, mais conhecida como MC Cacau, diz reutilizar peças que estavam guardadas em seu guarda-roupa.

Cacau começou a carreira quando ganhou um concurso de rap aos 18 anos, em 1992. Não demorou muito para que ganhasse notoriedade até que, em 1994, foi lançada pela Furacão 2000 como MC.

— Muitas peças que usei na época da Furacão estão voltando. É muito legal porque me permite tirar a poeira de roupas que eu nem sabia que ainda cabiam. Na época em que comecei, ditei moda com o chapéu viradinho e o short cavado. Era minha marca registrada. Minha filha de 15 anos ria de roupas que eu usava. Agora, ela pega meus looks emprestados. Isso é bacana, ver a geração de agora se interessando por algo que elas não viveram — vibra a cantora.

Itens básicos revisitados

Consultora de moda e imagem, Mara Fiorini deu dicas de como aderir ao estilo de cria:

Óculos coloridos: A tendência é abusar nas cores. O modelo que mais faz sucesso agora é o juliet (foto abaixo) — formato originalmente criado pela Oakley, em 1997.

Chapéu bucket: Este modelo de chapéu caiu no gosto da galera. Inicialmente, era de material impermeável, mas logo ganhou outros tecidos.

Cintura baixa: Os modelos queridinhos são a minissaia e o shortinho cavado, apertado nas pernas. E tem o revival da calça da Gang (foto).

Conjuntinho ‘Bad Boy’ ou de moletom: A era dos conjuntinhos voltou, sejam os uniformes da mesma cor ou estampa.

Gloss labial: O acessório não pode faltar na bolsa.

Salto plataforma: Ele volta com cores e modelos variados aos pés da mulherada.