Olimpíadas

Paris 2024: como a Olimpíada com cara de revolução impacta na vida real

A fraternidade foi o ponto mais surpreendente, devido ao fato de os franceses não serem vistos antes como uma grande referência de hospitalidade

Rodrigo Basso e André Moura - Victor Pereira/Cortesia

Direto de Saint-Denis, França – Toda edição de Jogos Olímpicos deixa uma marca e a de Paris, encerrada oficialmente neste domingo (11), no Stade de France, pode ser considerada a Revolução Francesa particular no esporte e na vida.

Antes de mais nada, não significa que foi a solução de todos os problemas e que tudo, agora, é mil maravilhas. Obviamente que não. No entanto, as principais bandeiras levantadas antes da competição foram honradas no berço da “liberdade, igualdade e fraternidade”.

União de todas as tribos
A fraternidade foi o ponto mais surpreendente, devido ao fato de os franceses não serem uma grande referência de hospitalidade. Ainda assim, povos de todos os cantos do mundo se uniram, após 8 anos desde a Rio-2016 (Tóquio-2021 não teve público devido à Covid), em uma grande festa pelas ruas da Cidade Luz, sem intercorrências.

“Superou as minhas expectativas porque, no início, eu achei que seria uma bagunça completa. Os franceses não são muito bons em organizar eventos, mas até que a gente foi a algumas competições e foi bem organizado, sinalizado e as pessoas bem solícitas”, relata Amanda Cardozo, dentista carioca de 32 anos, que vive em Paris há 12, que ainda completa que os Jogos Olímpicos “também serviram para matar um pouco as saudades de casa, pois é sempre bom ter mais brasileiros por aqui, ouvir o português, viver a nossa cultura”. 

Mulheres no foco
Muito se bateu na tecla de que Paris 2024 seria a primeira Olimpíada com a mesma quantidade de vagas ofertadas a atletas homens e mulheres. O Time Brasil contou com 126 homens e 163 mulheres competindo, números que também refletem no quadro de medalhas, já que, das 20 medalhas conquistadas pela delegação brasileira, 12 foram por mulheres, incluindo os três ouros com Rebeca Andrade, na ginástica artística; Beatriz Souza, no judô; e a dupla Ana Patrícia e Duda, no vôlei de praia.

“Eu vejo a esperança de um mundo melhor. Um dia, o mundo será governado pelas mulheres. Até hoje, foi governado pelos homens. Então, eu vejo que nós estamos, cada vez mais, pegando espaço e é o direito conquistado pelas que vieram antes da gente”, ressalta Karina Pain, cantora carioca que vive em Paris há mais de seis anos e, hoje, faz parte de um grupo de samba composto apenas por mulheres.

O nome ‘Parioká’ nasceu da junção de Paris com a palavra “carioca” e agita os bares, atraindo, sobretudo, imigrantes, turistas e torcedores brasileiros, mas também pessoas de outras nacionalidades e culturas.

Além da vocalista Karina, o grupo ainda conta com outras quatro mulheres: Sandra Luiza, no violão; Irene Bergua, na percussão geral; Claire Dagnan, também vocalista; e Thaynara Henrique, no cavaco.

Sandra nasceu no Pará, vive em Paris há mais de 30 anos e lembra que “todas as mulheres estão aqui em Paris por merecimento. São guerreiras, como nós todas. Batalharam para isso e conseguiram pelos próprios méritos. Desde as atletas até nós, trabalhadoras comuns”.

Inclusive, a violonista compôs uma música, justamente, exaltando a garra e luta femininas, intitulada de “Mulheres Guerreiras”, em que um dos versos diz: “Viva a mulher guerreira que sai para trabalhar / lutar pelos seus direitos sem ter medo de errar / está sempre disposta, também tem filhos para criar / Viva as mulheres guerreiras que estão sempre a lutar”.

A cidade do amor livre
Paris é a cidade mais romântica do mundo e ninguém duvida. O professor universitário André Moura e o servidor público Rodrigo Basso são a prova viva. Há sete anos, durante uma viagem à capital francesa, ainda como namorados, e Rodrigo pediu a mão de André em casamento.

No último dia 2, os dois se casaram no interior de São Paulo e decidiram voltar a Paris e passar a lua de mel curtindo os Jogos Olímpicos.

“Sempre tive um sonho de assistir aos Jogos Olímpicos, acompanho desde criança. Compramos os ingressos no ano passado e começamos a amadurecer a ideia de casar e vir passar a lua de mel. Dois sonhos juntos realizados na mesma semana”, conta Rodrigo.

André ainda lembra do pedido de casamento. “Foi extremamente emocionante, foi uma surpresa para mim. Ele me fez o pedido aos pés da Torre Eiffel e eu, claro, chorei horrores”. 

Os dois curtiram a semana final das olimpíadas, indo aos jogos de vôlei principalmente, com liberdade e segurança para serem quem realmente são, marido e marido, de mãos dadas, se beijando, como deve ser sempre e em qualquer lugar.

“É uma cidade extremamente encantadora e estar aqui vivendo isso com ele, esta energia, é muito emocionante. O que esta cidade celebra mais é o amor”, conta André. “A gente respira amor”, completa Rodrigo.

Agora, com os Jogos Olímpicos encerrados, ficam o legado. Para os atletas, as experiências pessoais e esportivas. Balanços, planejamento e execução de um novo ciclo. Para a vida comum, fica o desejo da liberdade, igualdade e fraternidade para além da França. E que não acabe em Los Angeles, em 2028.