Caso Marielle: assessora diz ao STF ter recebido relatos sobre um "choque de plenário" com chiquinho
Fernanda Chaves sobreviveu aos disparos efetuados por Ronnie Lessa contra o carro da parlamentar, em 2018
Em depoimento prestado ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira, a assessora Fernanda Chaves contou que, apesar de não ter presenciado, recebeu relatos sobre um suposto “choque de plenário” entre a vereadora Marielle Franco e seu então colega na Câmara do Rio Chiquinho Brazão, em 2017.
Na ocasião, estava em discussão um projeto de lei sobre regularização fundiária na Zona Oeste da cidade. Brazão foi apontado como um dos mandantes do homicídio.
"Não era incomum esse tema estar na pauta da Câmara, não me recordo exatamente do teor do PL [projeto de lei] em si, mas sim, recordo dessa, que essas eram batalhas ali políticas que estavam sempre colocadas na pauta do dia. A Marielle obviamente se colocava como uma pessoa contrária às milícias ", disse Fernanda.
A assessora estava no carro com a vereadora quando o ex-policial militar Ronnie Lessa realizou os disparos que atingiram a parlamentar e seu motorista, Anderson Gomes, em março de 2018, na Região Central do Rio:
"Essa era uma pauta central para ela, a Comissão de Direitos Humanos, então era o tema do qual ela sempre se posicionava com muita força, com muita presença."
Nesta segunda-feira, foi ouvido também Arlei de Lourival Assucena, que atuava como assessor parlamentar na Câmara de Vereadores.
Na audiência de instrução e julgamento, ele reiterou um episódio em que Chiquinho teria demonstrado animosidade a um voto contrário dado por Marielle sobre o projeto de lei.
"O vereador, para minha surpresa, teve um momento de destempero. Nunca tinha reagido comigo daquela maneira inapropriada. Ele me perguntou de quem era (o voto), e respondi que era da Marielle e do PSOL. Ele me respondeu em termos cheio de impropérios ", disse.
Até a próxima sexta-feira, outras nove pessoas foram intimadas a depor, sete delas como testemunhas de acusação do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), do seu irmão, o conselheiro do Tribunal de Contas Domingos Brazão, do ex-assessor Robson Calixto Fonseca, do ex-chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa e do major Ronaldo Paulo de Alves Pereira.
Os cinco são réus no processo por participação no homicídio e foram presos pela Polícia Federal. Como testemunhas, foram arrolados também o delegado e os dois agentes da corporação responsáveis pelas investigações.
Devem depor ainda um homem para quem teria sido repassado o carro utilizado na prática do crime. O Chevrolet Cobalt teria sido obtido com ele, no início de 2018, a pedido do bombeiro Maxwell Simões Corrêa, conhecido como Suel, que também está preso desde então.
Será ouvido ainda o secretário municipal de Ordem Pública do Rio Brenno Carnevale. O delegado relatou ao Ministério Público a interferência de Rivaldo em dois inquéritos, sobre os assassinatos do ex-presidente da Portela Marcos Falcon, em 2016, e do Haylton Escafura, filho do bicheiro Piruinha, no ano seguinte.
Também foi arrolado o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando Curicica, que em 2018, após ser apontado pela Polícia Civil do Rio como responsável pelo homicídio de Marielle, acusou Rivaldo de receber propina para sabotar investigações.
"A senhora sabe que vai ter que prender o chefe de polícia? ", perguntou Curicica as promotoras, na época.
A última testemunha de acusação intimada foi a viúva de Santiago José Geraldo, o Santiago Gordo, que morava próximo a um haras da família dos irmãos Brazão e prestou depoimento à PF sobre a relação deles com o ex-policial militar Ronnie Lessa. Ele também está preso e confessou ter efetuado os disparos que matou Marielle e Anderson.
Além das testemunhas, também devem prestar depoimento os corréus na ação penal (Lessa e o também ex-militar Élcio de Queiroz, que dirigiu o carro no dia do crime).