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Deputados usam audiência com Campos Neto para criticar Banco Central, e sessão tem bate-boca

Campos Neto rebateu que decisões mais duras do BC foram consenso entre diretores, inclusive dos indicados por Lula

Fachada do Banco Central, em Brasília - Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Deputados governistas presentes à audiência com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na Câmara dos Deputados aproveitaram a oportunidade para criticar a postura do chefe do órgão e a autarquia em geral, como já é de praxe pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No momento mais tenso, as críticas do deputado Paulo Guedes (PT-MG) geraram um bate-boca na sessão conjunta das comissões de Desenvolvimento Econômico e de Finanças e Tributação.

- Quando eu disse que usamos quase R$ 800 bilhões do orçamento para pagar juros, fica claro na sua resposta que o BC prefere priorizar os agiotas, o mercado financeiro, do que redistribuir esse orçamento - disse o petista, sob protestos acalorados de outros parlamentares.

O vice-líder da maioria na Câmara, deputado Lindbergh Farias(PT-RJ), procurou relacionar a atuação de Campos Neto com o ex-presidente Jair Bolsonaro e com o bolsonarismo.

- Minha crítica é mais geral, sobre a atuação no governo Bolsonaro. Deixou a Selic em 2% e inflação disparou - argumentou. - Quando é o governo do presidente Lula vai para outro lado, com taxa de juros muito alta, como nunca houve no governo Bolsonaro.

Lindberhg também afirmou que o Campos Neto fez "campanha" contra a política fiscal do governo, influenciando o mercado financeiro, e agora ameaça com uma alta de juros, mesmo com o mundo na contramão. O deputado petista ainda disse que a preocupação é um fiscal é um "discurso para fora", considerando a defesa de autonomia financeira do BC, prevista na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 65.

- Os senhores falam tanto de ajuste fiscal, gasto do BPC, e o senhores me aparecem com essa PEC 65 que quer tirar o BC das regras fiscais. Todo mundo tem que cumprir regra fiscal, exclusão das regras fiscais é um escândalo - criticou. - (Preocupação com o fiscal) é um discurso só para fora, todo mundo querendo sair das regras fiscais. Espero que a PEC não tramite como o senhor quer - completou Lindbergh.

O vice-líder da maioria ainda lembrou de um processo administrativo contra Campos Neto na Comissão de Ética Pública da Presidência da República sobre a manutenção de offshore no exterior. Da mesma forma, questionou o presidente do BC sobre a detenção de fundos exclusivos.

Bem-humorado, Campos Neto respondeu que Lindbergh sentirá sua falta quando ele deixar o BC no fim deste ano.

- Em relação aos questionamentos do deputado Lindbergh, tenho cinco meses aqui e vai sentir falta de mim quando eu for embora.

Depois, disse que a questão dos fundos exclusivos, o presidente do BC disse que sugeriu ao deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), que foi relator do projeto, o aumento da alíquota de 6% para 8%, porque achava baixa, e que pagou essa alíquota. Em relação à investigação de offshore, disse que não tem "nenhum problema".

- Esse tema já tinha sido investigado e arquivado pela PGR. Não tem nenhum fato novo. Tenho todos os esclarecimentos, todas as cartas de que não tive nenhum favorecimento, é tudo dentro do compliance manda. Offshores já estavam públicas no meu primeiro dia de trabalho no site do Senado.

Sobre a condução dos juros, afirmou que a taxa Selic média durante o seu mandato foi a menor do que em períodos anteriores. Campos Neto ainda lembrou o racha entre os diretores indicados por Lula e os que já estavam no comitê na gestão Bolsonaro no Comitê de Política Monetária (Copom) de maio, mas frisou que no encontro seguinte a decisão de interromper a queda de juros foi unânime.

- Ontem, inclusive, houve duas falas de diretores que foram apontados por esse governo, dizendo que vamos fazer o que tiver de fazer para a inflação atingir a meta e que tiver que subir juros vai ser feito - disse, em referência à declaração do diretor Gabriel Galípolo, mais cotado para assumir o BC em 2025.

Na sessão da Câmara, um dos deputados que defenderam Campos Neto foi Kim Kataguiri (União-SP). Ele ressaltou que os diretores indicados por Lula também votaram pela manutenção da taxa Selic em 10,50% nas duas últimas reuniões do Copom. Ainda lembrou que Galípolo vem dizendo que o BC aumentará os juros se for necessário.

- Vocês atacam tanto. Vocês colocam como se fosse o Goldstein, de 1984, de vocês é o BC e o Roberto Campos. Ora vocês estão em guerra com a Eurasia, ora com Eastasia. Vocês precisam de um inimigo externo para jogar a culpa do fracasso da política de vocês - disse, evocando o célebre livro de George Orwell, sob risos de Campos Neto.