Talibãs celebram três anos de poder no Afeganistão com desfile militar
Centenas de convidados compareceram à base, que fica 50 quilômetros ao norte de Cabul, para um desfile de mais de uma hora de duração
Os talibãs celebraram nesta quarta-feira (14) o terceiro aniversário de seu retorno ao poder no Afeganistão com um desfile militar na antiga base americana de Bagram, onde o primeiro-ministro Hassan Akhund prometeu "manter o rumo da lei islâmica".
Centenas de convidados compareceram à base, que fica 50 quilômetros ao norte de Cabul, para um desfile de mais de uma hora de duração com helicópteros, caminhões, lançadores de foguetes e blindados de origem soviética, mas também com equipamentos americanos recuperados pelos talibãs após sua vitória relâmpago em 2021.
Também participaram no evento as motocicletas com galões amarelos que, durante a rebelião contra o governo apoiado pelo Ocidente, foram utilizadas para transportar bombas de fabricação caseira em vários atentados.
Em um discurso ao público, o primeiro-ministro afegão Hassan Akhund defendeu a manutenção das políticas islamistas aplicadas até o momento, muito criticadas pela comunidade internacional.
"Nossos dirigentes devem ter consciência de que nossos deveres não cessaram com a jihad (guerra santa). Agora temos a responsabilidade de manter o rumo da lei islâmica", disse Akhund.
Em 15 de agosto de 2021, os talibãs entraram em Cabul, o que provocou a fuga do governo e o colapso da coalizão ocidental liderada pelos Estados Unidos que havia expulsado o grupo do poder 20 anos antes.
A vitória é celebrada um dia antes, seguindo o calendário afegão (e persa).
Segurança reforçada
Após o desfile em Bagram, as celebrações continuaram no estádio Ghazi, na capital Cabul, onde centenas de homens com capacetes e camisas brancas participaram em exibições de boxe e luta.
Nenhuma mulher participa nas celebrações e até mesmo as jornalistas foram proibidas de cobrir o aniversário.
Os talibãs aplicam a lei islâmica de forma extremamente rigorosa. Em três anos de governo, o grupo restringiu severamente a liberdade das mulheres, que estão cada vez mais afastadas dos espaços públicos.
Desde o início da semana, milhares de bandeiras pretas e brancas do emirado islâmico são exibidas nas ruas de Cabul, em meio a medidas de segurança drásticas diante do temor de um novo ataque do grupo Estado Islâmico (EI).
Embora compartilhem a ideologia islamista e sunita com os talibãs, o EI é a principal ameaça à segurança dos novos governantes do Afeganistão e executou vários atentados mortais no país nos últimos anos, o mais recente no domingo passado em um bairro xiita de Cabul.
Depois de três anos de administração talibã, o Afeganistão continua sendo um dos países mais pobres do mundo, com elevado índice de desemprego e uma grave crise humanitária.
Nenhum país reconheceu o governo talibã devido a suas políticas contrárias às liberdades das mulheres, excluídas do mundo do trabalho e das salas de aula.
Mas o governo conseguiu alguns progressos diplomáticos ao estabelecer relações com os países vizinhos, a China e a Rússia. Também iniciou um diálogo com o Ocidente ao participar, pela primeira vez em junho, em negociações em Doha.
"Os países que cooperam com os talibãs deveriam recordar o governo de seus abusos contra as mulheres e as meninas", afirmou a ONG Human Rights Watch.